Gim virou bebida hipster, mas já foi a cura de todos os males

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Londres – Desde os tempos em que boticários europeus começaram a destilar e vender gim como a cura de todos os males no século 16, a bebida, feita com zimbro, já foi respeitada como medicamento, amaldiçoada por fomentar a desordem pública e consumida em uma infinidade de versões de drinques para todas as estações. Agora, está surgindo como uma tendência do turismo especializado na Londres natal do dry gin, graças, em parte, ao empreendedorismo de envasamento e identidade de marca.

Após uma década de disparada, as vendas da bebida na Grã-Bretanha alcançaram quase 2,6 bilhões de dólares (mais de nove bilhões de reais) durante o último outono, em comparação com o pouco mais de um bilhão (quase quatro bilhões de reais) para o mesmo período de 2017, segundo reportado pela Wine & Spirit Trade Association (Associação de Comércio de Vinhos e Licores).

Consumidores de versões cor-de-rosa e aromatizadas contribuíram para que essa fosse a segunda bebida alcoólica mais popular do país, à frente do uísque e atrás apenas da vodca, afirmou o grupo. O gim está tão popular na Grã-Bretanha que o Instituto Nacional de Estatísticas britânico o adicionou de volta ao grupo de produtos usados para medir a inflação após 13 anos de ausência.

Muitos dos novos produtos trazem o sabor do zimbro, mas outros variam amplamente entre o dry gin tradicional, que, pela lei europeia, deve ser destilado a partir de ingredientes naturais e ter, no mínimo, 37,5 por cento de álcool por volume. A volta da bebida motivou o surgimento de produtos como geleia com sabor de gim e velas com aroma de gim, gerando um receio entre produtores do excesso de exposição da bebida. Por isso, eles estão buscando crescer além das fronteiras territoriais.

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O novo auge

Sam Galsworthy e Fairfax Hall, ambos britânicos e amigos de infância, estavam trabalhando no mercado de bebidas nos Estados Unidos, no início dos anos 2000, quando começaram a observar microcervejarias e destilarias artesanais se multiplicarem em volta deles. Foi então que, em 2007, decidiram abrir uma destilaria de gim no oeste de Londres. O sonho, contudo, foi rapidamente frustrado pelas burocráticas regras que datam de mais de 250 anos.

Em 1751, autoridades britânicas, preocupadas com o fato de que muitas pessoas estavam sucumbindo à chamada “ruína das mães”, assinaram o Decreto do Gim, que acabou com as produções caseiras e de pequena escala ao permitir que apenas destilarias com capacidade para, no mínimo, 1.800 litros pudessem produzir.

Galsworthy e Hall pressionaram o governo para que aliviasse a restrição e, em 2009, a empresa deles, a Sipsmith, recebeu permissão para produzir a bebida, abrindo caminho para outras pequenas destilarias. Desde então, a produção de gim explodiu na Grã-Bretanha. O número de destilarias subiu de 113, em 2009, para 419, em 2018, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas britânico.

As destilarias têm se tornado destinos turísticos populares. Sipsmith disse que recebe cerca de 25 mil visitantes por ano. Os degustadores – aqueles que consomem a experiência, além da bebida – ajudaram a puxar as vendas para cima. “Faz parte de uma cultura culinária que provavelmente não existia no Reino Unido há 20 anos. As pessoas estão bebendo menos, mas estão mais interessadas no que estão consumindo. Elas estão dispostas a investir dinheiro nisso”, comentou Miles Beale, diretor executivo da Wine & Spirit Trade Association.

A vantagem de ter uma boa história

Ian Puddick estava reformando o imóvel em Londres onde operava sua empresa de encanamento, em 2013, quando descobriu que, antigamente, o local abrigava uma padaria que fabricava gim ilegalmente. Ele foi atrás dos descendentes dos proprietários, que, apesar de não lhe terem dado a receita, puderam identificar uma série de ingredientes. Com essas informações e algumas suposições, ele criou o Old Bakery Gin, que hoje é vendido na Harrods e na Fortnum & Mason.

A história de Puddick é uma das muitas que aguçam o apetite das novas gerações de conhecedores de gim. Oscar Dodd, comprador da Fortnum & Mason, afirmou que consumidores normalmente querem saber mais sobre a proveniência ou os ingredientes do que estão levando para casa. “Quase todos buscam algo novo e estimulante. O gim é uma moeda social. Você quer que seus amigos conheçam”, contou.

Mesmo assim, a proliferação de novas marcas da bebida tem sido desafiadora para os relativamente novatos, como Puddick. “Aquela fidelidade à marca, fazer com que as pessoas escolham a sua em detrimento das outras, está definitivamente mais difícil de conseguir”, ponderou.

Um clássico que não abre mão do básico

O Beefeater, um clássico desde os anos 1800, não abandona as tradições mesmo com a concorrência brotando por todos os lados. Se o surgimento do gim de ameixa e dos globos de neve com garrafas de gim dentro levar o consumidor ao cansaço, a empresa quer se assegurar de que seu produto continue sendo o ingrediente principal em drinques à base de gim.

“O gim foi desenvolvido para ser utilizado de diferentes formas, pouquíssimas pessoas o consomem puro. Ele deve ter essa habilidade de ser versátil e poder gerar resultados bem variados”, explicou Desmond Payne, mestre destilador da Beefeater.

A Beefeater recebeu bem o crescimento do mercado e até produziu algumas edições limitadas de novas misturas. Mesmo assim, Payne é cauteloso para não criar algo muito diferente do produto que tem uma venda anual de 2,9 milhões de barris de nove litros. Payne acredita que o risco que correm alguns dos gins experimentais que estão surgindo é “eles terem muito de um determinado ingrediente”, limitando a capacidade da bebida de funcionar bem em todos os tipos de drinques.

Maduro e hipster ao mesmo tempo

Galsworthy, da Sipsmith, espera que o estardalhaço acabe em algum momento. “Sem meias palavras, a proliferação do gim coloca em risco a própria bebida”, declarou. Ele e outros destiladores estão procurando novos consumidores fora das fronteiras da Grã-Bretanha. Às vezes, são abordados por grandes empresas de bebidas alcoólicas que esperam capitalizar em um mercado global de gim que, segundo a empresa de pesquisas Euromonitor, cresceu de 10,5 bilhões de dólares (quase 38 milhões de reais) em 2007 para 15,5 bilhões (mais de 56 bilhões de reais) em 2017.

Em 2016, a Sipsmith foi comprada pela Beam Suntory, que também adquiriu marcas japonesas e espanholas da bebida. A Diageo, proprietária de marcas populares, como Gordon’s e Tanqueray, incluiu um gim de inspiração japonesa em seu catálogo. Pequenos produtores iniciantes de outras partes do mundo também estão entrando no mercado.

A Dragon’s Blood Gin começou recentemente a fabricar gim em uma destilaria personalizada na Mongólia Interior, na China. A Peddlers Gin, uma marca de Xangai, recentemente assinou um acordo de distribuição internacional. E novas destilarias estão pipocando da Austrália até os Estados Unidos, passando por Liechtenstein, esclareceu Nicholas Cook, diretor da Gin Guild (Associação do Gim) na Grã-Bretanha. O atrativo do gim, concluiu, é ser “ao mesmo tempo maduro e hipster”.



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