Futuro do audiovisual brasileiro está em cheque, mas potencial não falta

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São Paulo — O futuro das produções audiovisuais no Brasil está em cheque.

No último dia 18, a Ancine (Agência Nacional do Cinema) suspendeu todos os repasses de recursos para que os conteúdos continuem rodando após um pedido do Tribunal de Contas da União (TCU), que tem questionado a forma de prestação de contas da agência.

A decisão da Ancine repercutiu negativamente entre os envolvidos no segmento. A diretora-presidente do Spcine, agência de cinema do Estado de São Paulo, Laís Bodanzky, lançou uma carta aberta em defesa do audiovisual brasileiro

“A Spcine manifesta seu repúdio ao que considera o desmonte da política audiovisual”, escreveu a diretora de Bicho de Sete Cabeças.

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Uma produtora com conhecimento no assunto, que preferiu não se identificar, afirma que essa situação é uma resposta à falta de articulação política por parte dos representantes da Ancine.

“Já faz mais de cinco anos que o tribunal pede para que os trabalhos sejam suspensos, mas as gestões anteriores sempre reverteram essa decisão por meio de acordos, porque sabem da importância de manter o setor ativo”, afirma a produtora.

Ela lembra que os repasses foram cancelados no mesmo dia que quatro filmes nacionais foram selecionados para o Festival de Cannes, que acontece desde 1946 e é uma das principais vitrines do cinema mundial.

Apesar das dificuldades, profissionais do cinema brasileiro ouvidos por EXAME estão confiantes no futuro do setor e se espelham em exemplos de fora e no potencial econômico do cinema para convencer o governo da importância de se investir nessa área.

No início do século XX, os Estados Unidos reconstruíram sua economia com o apoio fundamental de Hollywood e isso foi essencial para estabelecer a identidade cultural dos americanos, que hoje é fortíssima. O mesmo podemos repetir no Brasil”, explica Diane Maia, da produtora Mar Filmes e uma das representantes da Frente dos Produtores do Audiovisual.

Na mesma lógica, outra inspiração para o Brasil pode ser a Coreia do Sul, que no começo desta década elaborou um plano de ação para internacionalizar a sua cultura pop, com o K-pop e o K-drama (novelas de TV sul coreanas).

Hoje, o produto cultural do país asiático é o mais valioso do mundo e gerou cerca de 18 bilhões de dólares só no ano passado.

O Brasil aumentou os investimentos nos últimos anos e houve uma alta no número de títulos lançados, o que facilita a manutenção de todo um ecossistema de produção.

Em 2017, de acordo com Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual, foram produzidos 154 filmes nacionais, contra 89 produções brasileiras de 2009.

“Com o ritmo cada vez mais acelerado, todas os fornecedores envolvidos na produção de um filme são valorizados, desde as produtoras até a distribuidora. São milhares de players envolvidos”, diz Silvia Cruz idealizadora e diretora da Vitrine Filmes, empresa de distribuição de filmes nacionais.

Um mapeamento da empresa Motion Picture Association – América Latina (MPA-AL), de 2016, mostra que o setor injeta 23 bilhões de reais no país por ano e emprega, direta e indiretamente, mais de 495 mil pessoas.

O diretor da Ancine, Christian Castro, afirmou durante o Rio2C, maior evento de audiovisual da América Latina que aconteceu na semana passada no Rio de Janeiro, que a partir desta semana os recursos já serão normalizados.

Segundo ele, a decisão de paralisar os repasses foi tomada para que os servidores da Ancine não fossem responsabilizados juridicamente no futuro pelo TCU.

“A Ancine é de 2001, então está hoje em sua pior fase da vida: a adolescência. Ela está se adaptando e se adequando para conseguir respeitar as normas desse setor que, a cada dia, cresce e se transforma mais”, diz a produtora Carol Kotscho, que também é representante da Associação de Roteiristas do Brasil.

Ela, junto com a produtora Diane Maia, estavam presentes no Rio2C e afirmam que durante o evento uma representante do BNDES participou de uma mesa para apresentar os projetos de investimento no audiovisual brasileiro. “Eles têm interesse, mas é nosso papel apresentarmos as inúmeras possibilidades de retorno do setor”, conclui Maia.

A expectativa dos produtores é que as emissoras de televisão também se mobilizem para que não haja um colapso do setor no país.

Os canais de TV paga são obrigados, por lei, a dedicar três horas e meia por semana de seu horário nobre a conteúdos nacionais, com pelo menos metade desse material feito por produtoras independentes. Sem os repasses das verbas, contudo, não haverá o que ser transmitido.



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