Financiamento, ingresso e estrutura: saiba o que pensam os candidatos a reitor da UFRJ

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RIO — Na disputa pelo cargo de reitor da maior universidade federal do país, os três candidatos defendem suas ideias sobre temas centrais para a administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que tem déficit acumulado de R$171 milhões neste ano.

A autonomia universitária é um dos poucos temas que unem os três candidatos, professores de carreira da UFRJ, que lá se graduaram e foram os primeiros de suas famílias a obter um diploma. Todos afirmam não ter filiação partidária. A decisão da UFRJ deverá ser divulgada no dia 30 de abril.

1. O ministro da Educação disse que as universidades precisarão ser criativas para complementar os orçamentos. Como pretende fazer isso?

Denise Pires de Carvalho (Chapa 10)

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O foco será em manter a universidade aberta. É isso que a gente pode fazer. Não tem como mudar muito, o orçamento já está fechado e temos quatro meses de dívida de luz, 26 meses de água sem pagar, mais o déficit do restaurante universitário. É preciso planejar, priorizar e cortar. Não tem jeito. Depois, vamos tentar aumentar o orçamento. Educação não é gasto, é investimento. Temos certeza absoluta de que o modelo é o público e gratuito. O que nós conseguirmos a mais no privado, ótimo, vai fazer com que tenhamos melhor infraestrutura. Assegurar emendas parlamentares também é importante, mas precisamos primeiro dos projetos executivos, para que esse dinheiro seja alocado de modo correto.

Oscar Rosa Mattos (Chapa 40)

Vamos conversar com os órgãos governamentais e ministérios, com a prefeitura e o governo do Rio. Isso passa também por emendas parlamentares, em conversas com toda a bancada do Rio, todos os partidos. Propomos que ex-alunos contribuam, inclusive em uma articulação com suas empresas, quando for o caso. Isso acontece no exterior. O problema atual é o contingenciamento feito pelo MEC. A UFRJ atrai investimento, precisamos é arranjar formas legais para que ele possa ser usado pela universidade. Não temos de ter medo da iniciativa privada. Devemos ter cuidado é com projetos que nos desviem de se pensar a universidade como pública e de qualidade. Teremos criatividade, mas o investimento em educação deve ser garantido pelo Estado.

Roberto Bartholo (Chapa 20)

Precisaremos criar inovações institucionais dentro da UFRJ, e não apenas apostar as fichas na possibilidade de ampliar o orçamento, ou apelar para emendas parlamentares. O que propomos é fazer um parque artístico e um outro esportivo que se inspirem na experiência do tecnológico e consigam contribuir de modo expressivo na captação de recursos extra-orçamentários, que irriguem as atividades da UFRJ. Hoje, esses recursos estão concentrados em unidades densamente tecnológicas. É possível criar parcerias com entidades que disponham de capital. Grupos multinacionais e poderosos. Usando um pragmatismo visionário, por que não Google? Por que não Amazon?

2. Nos últimos anos, a UFRJ sofreu quatro grandes incêndios, entre eles o do Museu Nacional. Houve negligência?

Denise Pires de Carvalho (Chapa 10)

Foi, sim. Não morreu ninguém até agora por sorte. Temos uma estrutura velha, rede elétrica obsoleta e subdimensionada, com enorme chance de incêndio. Mais do que prevenir, precisamos ter rota de fuga e brigada de incêndio. Não é admissível que não haja isso na UFRJ. A cultura da avaliação de risco não existe na UFRJ, e nós temos aqui dentro profissionais de excelência na Engenharia, especialistas justamente em avaliação de risco. Pensa no que esses professores, com um grupo de alunos de iniciação científica, podem fazer. Pretendemos criar um programa para que alunos e professores da engenharia possam cuidar disso.

Oscar Rosa Mattos (Chapa 40)

Não participei das gestões anteriores para afirmar que foi negligência. É urgente fazer um mapeamento de risco. E, para fazer algo efetivo, precisamos de verba. Segurança é um item caro e, em edificações antigas, é mais ainda. Tendo a achar que não houve negligência, porque conseguimos fazer algo com o orçamento que temos, que ano a ano vem sofrendo cortes. Ao trabalhar assim, lidamos com escolhas de Sofia. O problema é histórico, e não foi devidamente cuidado pela sociedade e pelos governos. Não é possível que patrimônios do Brasil fiquem exclusivamente a cargo do nosso orçamento.

Roberto Bartholo (Chapa 20)

Pode ser miopia: falta de visão para as consequências de longo prazo de determinado ato. Não conheço os fatos de cada caso. Não tenho neste momento condição de qualificar como algo intencional — que seria essa negligência —, mas constato a miopia presente. Não podemos deixar de apontar as consequências de não fazer certas coisas. O que digo é que as tragédias em série me parecem sintomas da ausência de um eficiente gerenciamento de risco como parte integrante da prática cotidiana de gestão da universidade. Essa é a prioridade: implantar um gerenciamento de risco. Nos últimos anos, ele foi colocado em segundo ou em nenhum plano.

3. O número de alunos aumentou, mas o orçamento está no nível de 2011. É hora de conter a expansão de vagas?

Denise Pires de Carvalho (Chapa 10)

A prioridade é mapear a situação das vagas. A gente pode até pensar em aumentar o acesso, mas primeiro temos de fazer uma análise geral. Há ações que podemos iniciar sem alterar o orçamento. Nosso corpo docente e de estudantes é excelente, mas temos hoje altíssimas taxas de evasão. Por exemplo: em um curso que tem 80% de evasão nos primeiros períodos há dez anos, será que vale manter o mesmo número de vagas? Talvez essas vagas possam passar para outro curso com maior demanda. A ideia é tornar a universidade mais eficiente. O nosso orçamento não depende do número de alunos que ingressam, mas dos que concluem os cursos.

Oscar Rosa Mattos (Chapa 40)

Limitar o ingresso seria criminoso. A sociedade nos demanda a formação dessas pessoas. Não passa pela nossa proposta limitar ingresso de estudantes. Estamos com vagas abertas de maneira compatível, inclusive com sugestões do governo. Isso é responsabilidade nossa e do governo. Não é nossa proposta diminuir o número de vagas. Nosso estudante hoje tem um perfil muito diferenciado do de 2011, que é onde está o patamar atual do orçamento. Nesses anos, a UFRJ mudou muito. Temos como desafio lidar com essa mudança. O que temos de fazer é buscar condições para sustentar essa situação.

Roberto Bartholo (Chapa 20)

Precisamos avaliar curso a curso para saber se temos situações em que a desistência seja muito grande. Precisamos ver também a tendência recente que alguns números apontam, da procura declinante por certos cursos, inclusive os considerados tradicionais e muito bons, bem avaliados, como Medicina, por exemplo. A procura declinante de alguns cursos pode estar associada a como as pessoas estão vendo a UFRJ e como avaliam a possibilidade de seus filhos e filhas estudarem aqui. Começam a pensar na distância, na segurança, na falta de estrutura. E se questionam: por que não ir para a PUC?



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