As famílias brasileiras gastaram, em média, 4.649,03 reais mensais por mês em 2018, segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, divulgados nesta sexta-feira, 4, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A maior parte desses gastos (81%) foi consumida por despesas de consumo, como habitação, transporte e alimentação.
No total, as despesas de consumo consumiram, em média, 3.764,51 reais mensais das famílias. Na última década, aumentaram os gastos com habitação, saúde e educação. A fatia de recursos destinada a transporte e alimentação encolheu.
As despesas com habitação consumiram a maior proporção da cesta de consumo das famílias, 36,6%, ainda mais do que absorviam de recursos na POF anterior, referente a 2008-2009, quando essa participação era de 35,9%. Também aumentou a destinação de recursos para Assistência à saúde (de uma fatia de 7,2% para 8 0%) e Educação (de 3,0% para 4,7%).
Embora ambos tenham diminuído, os gastos das famílias com transporte superaram os de alimentação pela primeira vez nas pesquisas de orçamentos familiares. A fatia de recursos destinada ao transporte passou de 19,6% em 2008-2009 para 18,1% em 2017-2018. Já a porcentagem destinada à alimentação saiu de 19,8% para 17,5% no período.
“Na medida em que a renda vai aumentando, a despesa com alimentação vai diminuindo a participação. Se você ganhar o dobro vai gastar o dobro com alimentação? Não. Vai gastar em outras coisas”, exemplificou o analista da POF no IBGE Leonardo Vieira.
Para o gerente da POF no IBGE, André Martins, as famílias também podem ter substituído itens de maior valor por outros mais baratos, diminuindo esse tipo de despesa. “Na alimentação você consegue fazer substituição, trocar um alimento por outro. No transporte, não”, opinou Martins.
Os gastos, porém, são diferentes dependendo da área em que a família mora. A proporção de gastos com alimentação foi maior entre a população rural (23,8%) do que entre a urbana (16,9%). O mesmo ocorreu também com as despesas de transporte, responsáveis por 20% do total do consumo na em lares da região rural contra uma fatia de 17,9% na área urbana.
Os gastos com educação, por sua vez, foram mais expressivos em residências urbanas (4,9%) do que nas rurais (2,3%). E os gastos com habitação abocanharam uma fatia maior das despesas das famílias urbanas (37,1%) do que das que moram na zona rural (30 9%).
Ao todo, o valor médio das despesas de consumo realizadas pelas famílias que moram em área rural foi de 2.158,83 reais em 2017-2018, o equivalente a 53,7% do gasto médio das famílias habitantes de regiões urbanas, de 4.020,98 reais.
Classes sociais
As famílias com rendimento de até dois salários mínimos (1.908 reais) comprometem uma parte maior de seu orçamento com alimentação e habitação que aquelas com rendimentos superiores a 25 salários mínimos (23.850 reais).
Somados, os dois grupos representam 61,2% das despesas das famílias com menores rendimentos, sendo 22% destinados à alimentação e 39,2% voltados à habitação. Entre aquelas com os rendimentos mais altos, a soma atinge 30,2%, sendo 7,6% com alimentação e 22,6% com habitação.
O gerente da pesquisa, André Martins, diz que “o entendimento do orçamento doméstico, no que se refere às despesas, muda de acordo com a classe de rendimento das famílias”. É o caso da alimentação. Para as famílias que formam a classe de maiores rendimentos, as despesas com alimentação (2.061,34 reais) são mais que o triplo do valor médio do total das famílias do país (658,23 reais) e mais de seis vezes o valor da classe com rendimentos mais baixos (328,74 reais).
Para André, quando se olha para despesas, como as de saúde (6,5%), a participação porcentual é bastante parecida entre os dois extremos de rendimento, mas os valores em si são em níveis e tipos diferentes. “Nas famílias de maiores rendimentos, essas despesas vão para plano de saúde [2,9%]. Nas famílias com menores rendimentos, são despesas com remédios [4,2%]”, ressaltou.
Consequências
As mudanças nos hábitos de consumo das famílias brasileiras captadas pela POF servirão de parâmetro para recalcular o peso dos itens pesquisados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial no País. O IBGE divulgará na próxima sexta-feira, dia 11, a nota técnica com as futuras mudanças no cálculo do IPCA. A inflação passará a ser calculada sob a nova metodologia apenas em janeiro do ano que vem, com divulgação prevista para o início de fevereiro.
“Para ponderações para o IPCA, (os pesquisadores) usam um subconjunto de dados, só os gastos monetários, e só de um grupo determinado de faixa de rendimento”, ressaltou André Martins.
(Com Estadão Conteúdo)
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