‘EUA têm medo do orgasmo feminino’, diz diretora de filme sobre ‘cura gay’

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RIO – A cineasta Desiree Akhavan tem “100% de certeza” do porquê enfrentou tanta dificuldade para lançar nos EUA seu filme
“O mau exemplo de Cameron Post”, o grande vencedor do Festival de Sundance de 2018
que estreia no Brasil nesta quinta-feira. O motivo: uma cena em que a protagonista tem um orgasmo.

— Os americanos têm muito medo da sexualidade feminina — diz a diretora, por telefone. — Aqui, o orgasmo da mulher é tratado como se fosse pornografia, enquanto os homens podem receber até sexo oral nas telas sem o menor problema. O nosso prazer sexual representa autoridade, e esse país não se sente confortável com mulheres no poder.

Como resultado, o longa sobre “cura gay” só assegurou uma distribuidora meses depois. Mesmo assim, entrou em cartaz num número tão pequeno de salas que arrecadou menos de US$ 1 milhão. Agora chega ao Brasil pela Pandora Filmes, um dia após o lançamento em DVD de
“Boy erased”, que trata do mesmo tema
— a estreia nos cinemas foi cancelada em fevereiro pela Universal, que alegou razões comerciais.

A principal diferença entre as duas obras é que “Cameron Post” explora a história de uma garota forçada a um centro de “conversão gay” com surpreendente leveza. O roteiro, escrito por Desiree e Cecilia Frugiuele a partir do romance de Emily M. Danforth, não abre mão dos momentos dramáticos (às vezes trágicos), mas faz rir.

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— As fases mais tristes da minha vida também foram as mais absurdas e engraçadas, então era muito importante não levar a coisa tão a sério — explica a cineasta, que buscou o tom dos clássicos de John Hughes, em especial “Clube dos cinco” (1985).

Aliás, mais do que um manifesto contra os métodos abusivos da “cura gay”, Desiree quis falar de adolescência. Na trama, a órfã Cameron Post (Chloë Grace Moretz) é flagrada fazendo sexo com uma amiga e, então, encaminhada pela tia cristã à clínica Promessa de Deus, onde gays e lésbicas tentam “virar” heterossexuais por meio de repressão sexual, alienação intelectual, culpa e moralismo religioso. Lá, meninos não podem ter cabelos longos e meninas devem tomar cuidado com trejeitos tidos como masculinos.

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Chloë Grace Moretz (à frente), Forrest Goodluck e Sasha Lane, atores de ‘O mau exemplo de Cameron Post’ Foto: Divulgação

— É uma história de amadurecimento que, por acaso, se passa num ambiente horrível. A adolescência é a fase dolorosa na qual a gente tem a impressão de estar carregando uma doença da qual quer se curar, então um centro de conversão gay era a metáfora perfeita para retratar esse período com honestidade — argumenta a diretora.

Uma vez dentro da instituição, Cameron Post vê os absurdos ao seu redor com um grau de deboche, o que empresta ao filme um tom irônico. Ela se alia a dois colegas que também estão lá fingindo buscar a salvação. Mas a segurança da protagonista em relação à própria sexualidade não é de pedra. A partir de um ponto, ela passa a acreditar na possibilidade de alcançar a “cura”, seguindo à risca as orientações dos professores de anotar num papelzinho traumas passados que podem ter provocado o “desvio de comportamento”. Numa sessão de terapia, é convencida de que a paixão pela amiga não passou de uma tentativa inconsciente de absorver as qualidades dela. Chega até a se masturbar pensando num homem. Nada disso funciona, claro.

— Antes das filmagens, conversamos com pessoas que passaram por centros de conversão gay. Perguntamos se elas realmente acreditavam na “melhora”, e todas responderam que sim. É impossível ouvir “você é doente” o tempo inteiro e não ser impactado. É uma lavagem cerebral, é tenebroso, é abusivo.



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