‘Eu a escolhi por representar a tolerância’, relata fotógrafo que clicou menina tricolor no Maracanã

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Sempre gosto de fotografar as expressões dos torcedores nas partidas. Atuo no futebol desde 1995 e, normalmente, em clássicos eu fico bem em frente ao setor Leste inferior do Maracanã. Ali, tenho uma visão para pegar os dois ataques. E também torcedores.

Como os jogos do Flamengo sempre ficam cheios, aquele espaço é um bom lugar para captar torcedores dos dois times. Vejo sempre famílias misturadas e casais com torcida dividida.

 

Ainda era o início do jogo quando comecei a fotografar crianças da torcida do Flamengo. Mas, de longe, uma cor diferente se destacou.

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Suspeitei que aquela menina era torcedora do Fluminense. Por alguns minutos, fazia fotos do jogo e voltava para olhar para ela. De longe.

Foi quando consegui fazer uma primeira foto da Laís. Ao fundo, um mar vermelho. Estava 0 a 0. Demorei a acreditar que ela estava nos ombros de alguém. Ainda mais flamenguista.

Na parada técnica, corri para onde ela estava. Uma visão de frente. Ali, realmente eu vi que ela estava com um rubro-negro. Achei sensacional porque geralmente você vê a criança perto de alguém que torce para o mesmo time que ela.

Foi incrível ver a menina com o avô (que eu ainda não sabia quem era naquele momento). Vi a expressão de felicidade dos dois. Não sei se ele me viu, mas parecia até que sim, já que levantou os braços dela. Estavam se divertindo muito na hora.

Na multidão, eu a escolhi por representar a tolerância, coisa que virou raridade em estádio de futebol. E essa tolerância engloba não só a rivalidade entre torcidas de times diferentes, mas também a presença feminina.

Esse setor de torcida mista é algo espetacular. É o que melhor representa o futebol. São grupos de amigos, famílias, que curtem o jogo mesmo torcendo por times diferentes. A violência é que tem que acabar, e não as pessoas deixarem de levar crianças aos estádios.

Fiquei impressionado com a repercussão. Não imaginava que desse isso tudo. Recebi mensagens elogiando e também percebi nas redes sociais um debate de pessoas de fora do Rio sobre o setor misto. Elogiaram esse cenário aqui no Rio e questionaram o motivo de não haver o mesmo nos estados de origem. No meu Instagram, teve um torcedor que lembrou a época em que o pai estava vivo. Ele desabafou e citou que tinha emocionado.

É por isso que fotografar vale a pena.

Alexandre Cassiano é fotógrafo de O GLOBO e EXTRA

*Em depoimento a Igor Siqueira



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