Com a perspectiva de retomada do ano letivo cada vez mais próxima, a prefeitura do Rio lançou ontem um protocolo para a retomada das atividades em sala de aula que, além das “regras de ouro”, como disponibilização de álcool em gel e de máscaras, também mexe com toda a dinâmica de funcionamento das escolas públicas e particulares. Entre outras medidas para evitar o coronavírus, o texto prevê que as unidades de ensino redimensionem suas salas, garantindo dois metros de distanciamento social ou quatro metros quadrados para cada aluno e evite o acesso de pais e responsáveis ao interior do imóvel, exceto para reuniões agendadas.
Nesta segunda-feira (29), uma reunião entre o prefeito Marcelo Crivella e representantes de escolas privadas acabou sem um consenso sobre as condições e a data de reabertura. Na quinta-feira, acontecerá um novo encontro. Escolas ouvidas pelo GLOBO dizem que já estudam um sistema de rodízio em que as turmas seriam divididas: metade estudaria segunda, quarta e sexta e a outra metade, terça e quinta. Os dias de aula seriam invertidos na semana seguinte para que os alunos tenham acesso ao mesmo conteúdo do curso.
O Colégio Franco Brasileiro já está com todo um planejamento pronto, mas há resistência dos pais, sobretudo de crianças menores, à volta antes que a pandemia da Covid-19 esteja controlada. Diretora-geral do colégio, Celuta Reissmann disse que uma pesquisa apontou que cerca de 70% dos pais têm medo:
“Para o ensino médio é mais fácil. A questão são os pequenos, que se abraçam, se beijam. Como controlá-los?”, diz ela, acrescentando que uma saída seria criar um sistema híbrido para o Franco, que tem 1.777 alunos, com aulas presenciais e on-line.
Apesar de a Secretaria municipal de Educação defender um adiamento do prazo, Crivella, na semana passada, afirmou que pretende reabrir as unidades da rede pública no início de agosto. Ele tenta um acordo para que as particulares retomem o funcionamento em meados de julho.
O protocolo para os ensinos fundamental e médio, divulgado ontem, prevê orientações gerais, regras de limpeza e desinfecção, dimensionamento de ambientes, atividades educativas, esportivas e culturais e áreas de lazer e salas compartilhadas.
Aulas remotas mantidas
De forma geral, o município defende uma volta gradual, com a manutenção de atividades remotas para alunos e professores de grupos de risco. Os estabelecimentos devem evitar aulas em ambientes pequenos, prover álcool em gel e máscaras — professores e funcionários devem trocá-las a cada três horas. A equipe deve usar equipamentos médicos como os EPIs (que protegem os profissionais de saúde que atendem pacientes infectados). As salas devem ser higienizadas com mais frequência e o uso de material compartilhado deve ser evitado. Além disso, os horários de entrada e saída das turmas não podem coincidir para evitar aglomerações, e pais e responsáveis devem aguardar pelo aluno do lado de fora.
Um capítulo específico para creches e escolas de educação infantil lista as mesmas recomendações, com algumas adaptações. Um detalhe chama atenção: as creches que não fornecem alimentação às crianças devem garantir que as embalagens com comida enviadas pelos pais sejam higienizadas. Parquinhos, brinquedotecas e bibliotecas devem permanecer fechados.
Como as regras valem para as duas redes, a prefeitura informou que vai testar seis mil merendeiras que hoje atendem os alunos do municípios. Até mesmo os temperos terão que ser fornecidos em sachês de uso individual.
Ao deixar ontem a reunião com representantes de escolas privadas, Crivella disse que a proposta feita pela prefeitura, para reinício em 15 de julho, não foi aceita e que o sindicato dos professores é contra a volta das aulas:
“O sindicato dos professores diz que, se for voluntário (o retorno ao trabalho), o dono da escola vai obrigar o professor a ir. É voluntário, mas se você não vier vai para a rua. É o que eles afirmam. Alguns (representantes de escola) disseram que, na próxima reunião, vão trazer uma lista assinada por professores que querem o retorno das aulas”.
Presidente do Sindicato dos Professores de Escolas Particulares do Rio, Oswaldo Teles disse que a categoria só quer voltar a dar aulas presenciais quando houver segurança:
“Quem será responsável se um professor, um aluno, uma diretora ou um funcionário de uma escola morrer? Sabemos que está havendo uma pressão dos donos de escolas. Algumas estão com problemas financeiros. Mas queremos garantir a vida”.
O protocolo foi elogiado pelo presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Rio, José Carlos Portugal:
“É bom, zela pela vida, mantém a segurança dos alunos e dos professores”.
Professor e diretor de planejamento do Colégio pH, Vicente Delorme diz que um dos pontos mais importantes é permitir aulas remotas para alunos e professores de grupos de risco da Covid-19:
“Agora, podemos organizar a aula presencial e garantir aulas virtuais para os que vão permanecer em casa, inclusive professores de grupo de risco”.
Diretora do Pensi, Luciana Vidal conta que entre 40% e 50% dos pais se sentem inseguros e não querem que os filhos voltem neste momento. Por isso, também deve manter aulas remotas.
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