A realidade de quem trabalha na área de TI (tecnologia da informação) na cidade se assemelha mais com a de países nórdicos, como Dinamarca e Noruega, paraísos corporativos que se revezam no topo de rankings de melhores lugares para trabalhar, do que com a do mercado da capital e seu mais de 1,5 milhão de desempregados. Só neste ano, deverão ser abertos cerca de 10 000 postos na Grande São Paulo, segundo estimativas do setor. Na busca de talentos, empresas acenam com os mais diversos benefícios: horários livres, vales-refeição que alcançam 50 reais, cursos, escritórios em prédios modernos, decorados com frases motivacionais (“Você pode mudar o mundo”), salas de descompressão (jargão para descanso) com videogame e bilhar. Tem até uma grande companhia da área financeira que oferece uma quantia entre 1 000 e 2 000 dólares de bônus para o funcionário que indicar e conseguir emplacar um novo profissional na empresa. E os salários do setor? Cerca de 10 000 reais, o que representa mais que o dobro da média do paulistano (4 368 reais, de acordo com o IBGE).
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“Não importa o ramo da companhia, todas estão a cada ano mais digitalizadas. Atualmente, há um déficit de especialistas em informática, e isso tende a se intensificar durante pelo menos os próximos cinco anos”, explica Sergio Paulo Gallindo, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). Ou seja, um profissional de TI não trabalha mais apenas em companhias de tecnologia. Seu mercado se expandiu para literalmente todas as empresas. Em 2024, por exemplo, especialistas preveem o surgimento de mais de 27 000 vagas na região metropolitana. Por causa do alto número de ofertas, hoje em dia, um recrutador leva de um a três meses para preencher um posto. “E quem deseja mudar de área, com uma média de dois anos de estudo, consegue se recolocar”, completa Gallindo. Seduzido por essas perspectivas, o professor de educação física Thales Fernando Milanezi, 29, está em plena migração profissional. Formou-se em 2014 pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e, dois anos depois, fez uma especialização em cardiologia do exercício no Instituto Dante Pazzanese. Desde 2016, ensinava natação em uma rede de academias, encarava um expediente de seis dias por semana em troca de aproximadamente 2 500 reais mensais. “Estava insatisfeito com o salário e, mais do que isso, sempre sonhei em impactar mais gente. Como professor, só conseguia mudar a vida dos meus dez alunos.”
No ano passado, fez um amigo que trabalha em uma multinacional do ramo de tecnologia e veio o clique. “Ele desenvolve aplicativos que facilitam a vida de milhares de pessoas. Além disso, ganha muito mais do que eu e tem estabilidade”, conta. “Informática já era meu hobby e quis promovê-lo a atividade principal”, completa. Em dezembro, Milanezi pediu demissão da academia. Quer trocar a malhação pelos computadores e entrou num curso intensivo de programação que dura seis meses. “Estudo dez horas por dia, até nos fins de semana. Mas espero que em um ano eu esteja no mercado de trabalho, ganhando mais que o dobro do que tirava na academia, em um ambiente de trabalho mais vibrante”, sonha.
Hoje há mais de 1,6 milhão de empregados no país atuando em tecnologia, segundo dados da Brasscom. A maioria (43%) está concentrada no Estado de São Paulo, e a capital representa aproximadamente 50% desse “bolão paulista”. Isso significa que cerca de 345 000 pessoas na cidade ganham a vida graças à TI.
O publicitário Diego Uzuelli, 32, tornou-se uma delas. Em 2014, vivia uma crise financeira e buscava um rumo. Na época, estava com cinco anos de carreira e havia montado sua agência, após ter experimentado (e não curtido) o clima competitivo em troca dos baixos salários oferecidos por empresas de sua área. A economia em queda só afas- tava seus clientes. Certo dia, assistiu a uma palestra no Cubo Itaú, espaço de empreendedorismo tecnológico na Vila Olímpia. “Tive um insight: se o mundo tende a ficar mais digital, com cada vez mais produtos e novidades, o mercado também vai precisar de profissionais que saibam lidar com essa nova realidade”, afirma.
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Veio então a virada do publicitário. Uzuelli se matriculou em um curso de gestão de negócios e inovação. Durante quatro anos, conciliou os estudos com sua agência de publicidade. Em janeiro de 2018, fechou a empresa e recomeçou sua carreira como estagiário em um projeto de dois meses em uma então recém-inaugurada companhia financeira calcada em tecnologia (como se diz no ramo, fintech). “Só foi possível viver e pagar minhas contas porque havia me planejado para isso, aplicando par- te dos meus rendimentos”, lembra. Em abril daquele ano, entrou na Foxbit, também uma fintech, no cargo de customer experience (como chamam o bom e velho “atendimento ao cliente” nesse universo). Hoje, o profissional formado em propaganda e marketing ocupa o cargo de product owner. Nunca ouviu falar? Trata-se de uma dessas profissões novas criadas nesse meio (veja outros exemplos no quadro da pág. 25), uma espécie de gerente que orienta a equipe no desenvolvimento de um novo produto. “Ganho cerca de 10% mais que na minha melhor fase na antiga área, só que possuo infinitas possibilidades de progredir na carreira”, relata.
Outro exemplo de guinada bem-sucedida é a de Bruna Vajgel, 35, gerente da consultoria EY. Em 2016, ela largou a carreira acadêmica de astrofísica, com passagens por Harvard, para se tornar uma cientista de dados. “Vivi meu sonho de infância e chegou o momento de buscar realizações mais práticas.”
Bruna é uma das raras mulheres no mercado da tecnologia. Segundo estimativas, menos de 20% dessa mão de obra é feminina, proporção que vale também para outros lugares do mundo. É um tremendo paradoxo, uma vez que a programação veio de uma “mãe”, a inglesa Ada Love- lace, a primeira pessoa a criar um programa de computador, em meados de 1840. “Precisamos urgentemente reverter o preconceito do ditado ‘meninos são para exatas e meninas, para humanas’”, acredita a chefe de tecnologia Mara Maehara, CIO da Totvs, empresa brasileira de software sediada em Santana.
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“A democratização da área deverá ser uma consequência do crescimento. Oportunidades de investimento não faltam”, acredita Thiago Camargo, presidente do Movimento Brasil Digital. Na Grande São Paulo, o mercado de TI faturou mais de 21,5 bilhões de reais no ano passado. E a bolada deverá alcançar 40 bilhões daqui a quatro anos. Na cidade, destaca-se a região da Berrini, na Zona Sul, apelidada de “Vale do Silício paulistano”, por aglomerar boa parte das startups e bases de gigantes de tecnologia. Estima-se que existam cerca de 2 000 vagas abertas só por lá. O local tem até sua “Times Square”: o São Paulo Corporate Towers, aquelas torres gêmeas espelhadas em frente ao JK Iguatemi, ponto que reúne deze- nas de companhias da área, de “novinhas” como a Uber a “medalhões” como a Microsoft.
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Naquele edifício projetado pelo escritório Pelli Clarke Pelli (que assina a Bloomberg Tower, em Nova York), também fica a Visa, bandeira de cartões de crédito que está em pleno movimento de digitalização. O time investe em pesquisas para ir além daquele famigerado tíquete de plástico como ferramenta de pagamento. A companhia anunciou, no fim do ano passado, uma parceria com a Fiat para transformar os carros em smartcars, ou seja, detentores de uma tecnologia parecida com a dos smartphones, com painéis que conseguem se comunicar com a conta bancária do proprietário e quitar diversas contas, de combustível a lanches do drive-thru. Um dos responsáveis pelo departamento de inovação na capital é Heitor Takeshita, 34, que começou a carreira como engenheiro industrial e, ao observar o mercado, migrou para a TI. Ele ajudou a desenvolver a máquina de cartões de débito e crédito implantada pela prefeitura nos ônibus no ano passado. Agora, cria um equipamento parecido para facilitar a passagem dos motoristas nos pedágios. Deve estrear nas praças nos próximos cinco anos. “Fui para a Visa porque era patrocinadora da Olimpíada e da Copa do Mundo, e eu queria facilidade para conseguir ingressos”, brinca Takeshita. “Mas hoje vejo o impacto social da minha atividade, como melhora a vida das pessoas, e me orgulho disso”, completa.
Todos os entrevistados desta reportagem disseram que recebem mais “sondagens” de headhunters no LinkedIn do que mensagens em qualquer outra rede social. A periodicidade da proposta “vamos marcar um café” que essa turma alcança é de pelo menos uma vez por semana. “Hoje em dia, 60% das nossas vagas abertas são dessa área. E os ganhos mensais oscilam entre 2 500, em um cargo básico em infraestrutura, como um iniciante que dá suporte a computadores de uma empresa, e 150 000 reais, para um alto executivo de multinacional”, diz André Vicente, CEO da Adecco no Brasil, empresa de recolocação.
Outra característica desse “mundo novo”: multinacionais acenam com possibilidades de morar no exterior. “Ainda neste mês, pretendo me mudar para o laboratório na Carolina do Norte”, anuncia Rafael Rui, 31, ex-professor de fí- sica que se tornou cientista de dados da Totvs em 2017. E quem prefere trabalhar em casa? Sem dramas. Com a tecnologia, gestores abriram mão de precisar ver diariamente o rosto de seu colaborador no escritório. Gerente de engenharia na OLX, Danilo Lorenzi, 45, por exemplo, mora com a mulher e dois filhos em Curitiba e costuma ficar na sede, na Avenida Paulista, entre terça e quinta. “Com essa flexibilidade, cumpro meus prazos e realizo as tarefas melhor, porque fico perto da minha família”, afirma.
O modelo de freelancer também é bastante comum. A desenvolvedora web Juliana Camillo, 29, perdeu o emprego em 2015 em uma agência de publicidade. Conseguiu uma pro- posta no mesmo dia, mas, semanas depois, desistiu. “Percebi que, em casa, conseguia tirar o dobro do que me ofereceram no novo escritório”, conta. No home office ou nas sedes, trabalha-se muito: em média dez horas por dia, e muitas vezes também durante fins de sema- na. E no pique dessas “maratonas corporativas” aparecem carreiras meteóricas. “Tenho um amigo com menos de 20 anos que ganha mais de 20 000 reais”, alardeia Matheus Catossi, que, apesar de seus 22 anos, ocupa o cargo de desenvolvedor sênior na IBM.
Mas há quem aposte que esses grandes salários podem estourar em breve como uma bolha. “Startups costumam inflacionar o mercado e empregar muita gente com vencimentos lá em cima, mas depois precisam demitir e enxugar até alcançar a estrutura ideal”, alerta Bruno Soares, CTO da Foxbit, empresa que também passou por uma reformulação há um ano até chegar a seu quadro atual, de aproximadamente 45 funcionários. Em 2019, algumas das até então festejadas startups “unicórnios” (que alcançam ou superam o valor de 1 bilhão de dólares), como Uber, WeWork (prédios de compartilhamento de escritórios) e Loggi (plataforma que conecta motoboys a clientes), anunciaram demissões. A Rappi, por exemplo, enxugou 6% da folha e, comenta-se no mercado, deve pôr na rua 150 funcionários no país. A assessoria de imprensa diz que se trata de uma readequação e que, apesar dos cortes, está contratando na área de TI. “Há esse joguinho de ‘rouba monte’, uma migração de funcionários, o rea- juste de algumas empresas, mas isso reflete apenas o momento de transformação intensa que vivemos, com novas ocupações”, acredita o presidente do Movimento Brasil Digital.
A carreira do engenheiro Erik Schanz, de 42 anos, ilustra as transformações desse meio. Ele se formou na Faculdade de Engenharia Industrial em 2000 e há dois anos é o gerente de desenvolvimento de negócios da Huawei Cloud, braço especializado (e recém-criado) da multinacional chinesa. O executivo brinca que, se alguém em sua época de estudante dis- sesse que ele trabalharia com nuvem, responderia que não pretendia ser piloto de avião. Seu primeiro emprego foi como suporte em telecomunicações. Em 2001, veio a primeira crise no setor por causa de queda nos investimentos e cancelamento de privatizações, além de altas taxas de inadimplência. Schanz perdeu o emprego, mas três meses depois foi chamado pela Huawei, na área de redes, e cresceu por lá. “Aprendi que quem permanece atualizado conquista oportunidades. Sou a prova de que é possível se reinventar, não importam a idade nem a formação”, diz o gerente, que tem como meta para 2020 aprender mandarim.
Se o mercado de TI deve dobrar de tamanho até 2024, paga bem, oferece uma “Disneylândia corporativa” e não há preconceito contra idade ou formação, por que ainda há tanta gente desempregada por aí? “Há vagas, mas não dá para contratar qualquer um”, alerta Carolina Carioba, diretora de RH da OLX. Neste ano a empresa ocupará mais um andar da parte corporativa do Shopping Center 3, na Avenida Paulista, e pretende aumentar seu quadro em 150 profissionais. “Todo dia, lemos dezenas de currículos, mas vem cada um… Em janeiro, recebemos dez CVs de açougueiros. Nada contra empreendedores, mas precisa pelo menos fazer um cursinho básico de Java, né?”, ela ri.
Na hora do recrutamento, boa parte das companhias aplica testes técnicos e de lógica. “Cerca de 80% das nossas vagas são para iniciantes, não importa a idade ou a formação, porque preferimos instruir o novo time com a nossa forma de trabalho”, explica Christiane Berlinck, diretora de RH da IBM Brasil. Os outros 20%, com posições seniores, levam meses para ser preenchidos. “Estudos mostram que, a cada cinco anos, o conhecimento que o profissional de TI possui em sua área se torna obsoleto. Então, mesmo que a pessoa seja especialista, precisa estar constantemente se reciclando”, recomenda. Cerca de 9 000 pessoas por ano se formam na Grande São Paulo, o que é insuficiente para abastecer o mercado.
E para formar bons profissionais, obviamente, é necessário uma boa base escolar. Mas… Somente neste ano, o governo do Estado de São Paulo pôs em prática um programa específico para a área, o Inova Educação, que vai ensinar conceitos de tecnologia a alunos do ensino fundamental e médio em quase 700 escolas da capital paulista. Já a assessoria de imprensa da prefeitura anunciou um investimento de 90 milhões de reais em equipamentos no ano passado, mas o projeto ainda está em fase de licitação.
De acordo com Roberto Prado, diretor da Associação Brasileira das Escolas Particulares (Abepar), TI aparece no currículo das instituições mais renomadas desde a época do Cobol, programa famoso na década de 80. O problema é na hora de escolher a profissão. “Pesquisas mostram que boa parte dos jovens se espelha em pessoas que admiram, como pais e colegas. Com isso, muitos optam por atividades antigas e não levam em conta as necessidades do mercado.”
De acordo com especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU), 65% de todas as crianças do planeta que entraram em 2018 na escola primária terão empregos que ainda não existem. E a revolução digital desenha esse novo cenário. “O país, a empresa ou o indivíduo que não se atualizar, não se alfabetizar nesse meio digital, certamente ficará para trás e se tornará obsoleto”, diz o porta-voz da Brasscom.
Entramos em um futuro sombrio? Não necessariamente. Hoje, cerca de 60% dos postos são passíveis de automação, informa um relatório do McKinsey Global Institute de 2017. Em compensação, o estudo sugere que a “indústria 4.0” pode gerar ainda mais empregos do que aqueles que deixarão de existir. “Nessa transformação, tem espaço para todo mundo”, acredita Camila Achutti, consultora, empresária e professora de tecnologia do Insper. “Basta estudar. A gente fala muito em software, hardware, mas precisamos é renovar o nosso peopleware e apostar nele. Afinal, pessoas são o componente indispensável de tudo”, completa.
Vida nova após demissão
Quando foi demitida, em 2018, a administradora Lia Zavatini, 35, tinha dez anos de carreira no mesmo banco e ocupava o posto de gerente. “Já notava o fim de agências e de departamentos inteiros, além de a instituição ficar cada vez mais digital. Percebia que precisava estudar informática, e a demissão foi um empurrão”, lembra. Naquele mesmo ano, passou em gestão de TI no Senac e, meses depois, foi aprovada no programa Generation Oracle, que busca novos talentos. “Voltei a ser estagiária, mas me sinto mais segura sobre meu futuro”, acredita. De acordo com Rodrigo Galvão, presidente da multinacional no Brasil, a empresa busca diversidade em novos talentos. “Não porque somos ‘bonzinhos’, mas com essa qualidade uma empresa entende e amplia sua atuação no mercado”, diz Galvão. Há dois anos, em uma palestra, ele conheceu Isabelle Silva, 17, então bolsista do Colégio Bandeirantes e que agora estuda TI. Moradora do Grajaú, fundou um projeto, aos 13 anos, para apresentar oportunidades de trabalho a meninas negras. No ano passado, foi contratada pela Oracle para desenvolver o Desafiando as Estatísticas, programa para incluir negros na companhia.
PARA SABER O BÁSICO
Big data > Grandes volumes de dados coletados de lugares variados (como aquelas fichas que preenchemos numa compra).
BIT >Sigla de BInary digiT, é a menor unidade de medida de dados, composta de 0 e 1.
Blockchain >Tecnologia que permite rastrear trocas de informações na internet.
Bug >Erro no sistema. A expressão surgiu em meados dos anos 50, quando computadores ocupavam um andar inteiro. Às vezes, insetos (bugs) entravam nas máquinas e ocorria a pane.
Cloud >Ou nuvem. Vasta rede de servidores remotos que armazenam e gerenciam dados, executam aplicativos, além de fornecer conteúdos ou serviços, como transmissão de vídeos, webmail ou mídias sociais.
Fintech >Startup especializada em finanças.
Fullstack >Profissional que trabalha com front-end (a cara do software, o que o usuário vê e com que interage na tela) e também back- end (a parte do software que roda no servidor — acesso a banco de dados e segurança).
Hackathon >Maratona de programadores para desvendar códigos ou fazer projetos.
Inteligência artificial (IA) >Trata-se da tecnologia que faz com que máquinas aprendam com experiências e executem tarefas como os seres humanos. Por exemplo, as assistentes virtuais, como a Alexa da Amazon: basta falar com ela para acender as luzes de casa, mostrar a câmera do quarto do bebê e tocar sua playlist preferida.
Internet das coisas >Objetos que são conectados entre si e também com o usuário. Como um microondas acionado pelo celular que já esquenta seu pra- to enquanto você vai para casa.
Realidade aumentada >É a inserção de objetos virtuais no ambiente físico, diferentemente da realidade virtual, que cria um lugar bem distinto do real.
Skill >Habilidade, termo muito usado para avaliar e escolher a equipe numa empresa de TI. Há as hard skills, que são as capa- cidades técnicas, e as soft skills, as comportamentais.
Squad >Modelo bem comum às empresas de TI, em que a equipe é dividida em pequenos times multidisciplinares, com cada profissional especia- lista em uma área.
Startup >Além de uma nova empresa, um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócio que seja escalável e repetível, trabalhando em situações de extrema incerteza.
TI >Abreviação de tecnologia da informação, um setor que se divide basicamente em três áreas de atuação: banco de da- dos, infraestrutura e software.
Todo mundo incluído
Mara Maehara, 49, soube que não havia “coisas de menino” ainda na infância, ao aprender a trocar pneus e regular carburadores na oficina mecânica do pai. “Ele queria que eu tocasse o negócio da família, mas optei por enveredar por uma carreira corporativa”, diz a CIO da Totvs, empresa brasileira de software. Ao assumir o cargo, em 2016, analisou seus totvers (como se autoproclamam os funcionários) e ficou horrorizada: só 12% eram mulheres. “Um absurdo para mim, membro de iniciativas como o Women in Tech, que estimula a participação feminina na área”, lembra. Desde então, tem promovido encontros regulares entre as integrantes, que formaram um grupo de WhatsApp para a troca de artigos. Além disso, faz parte do Instituto de Oportunidade Social, em Santana, que capacita na área de TI jovens em situação de vulnerabilidade social. “Com a inclusão digital, ganham as empresas e a sociedade.”
NOVAS E RENTÁVEIS PROFISSÕES
Cientista de dados >Analisa informações diversas: da empresa, do mercado, dos clientes… Ganha de 4 500 a 23 000 reais.
Devs Java e .NET > Espécie de apelido para desenvolvedores, também conhecidos como programadores. Java e .NET são linguagens comuns de programação. Esses técnicos criam e aperfeiçoam sistemas que gerenciam as atividades das empresas. São fundamentais e requisitados. Recebem entre 7 000 e 15 000 reais.
Devs mobile > Faz softwares para dispositivos móveis, como smartphones, smartwatches e laptops. Ganha de 7 000 a 18 000 reais.
UX Designer > Em português, designer de UX que significa experiência do usuário. Pesquisa as necessidades do consumidor e as apresenta aos desenvolvedores para criar produtos “na medida” do cliente. Boa atividade para o “pessoal de humanas”. Salário de 8 500 a 15 000 reais.
DPO >Data protection officer, ou simplesmente especialista em segurança cibernética. Administra e avalia todos os dados da empresa, desde a coleta até a conclusão das informações. Agora há uma corrida no mercado atrás desses especia- listas por causa da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrará em vigor em agosto. O texto exigirá que a empresa mapeie os dados pessoais dos consumidores, verifique como os armazena e controle quem os acessa. Mesmo depois dessa adequação, a procura seguirá grande porque cada vez mais dados são gerados, coletados e armazenados. Salário entre 7 000 e 30 000 reais.
Especialista em BI >Abreviatura de business intelligence, ou inteligência de negócios. Analisa todos os dados da empresa e faz um relatório para melhorar as decisões. Por ser um cargo estratégico, que requer diversas habilidades (conhecer finanças, mexer em banco de dados e até redes sociais), o profissional vale ouro e um iniciante recebe a partir de 6 500 reais.
Especialista em inteligência artificial >Desenvolve tecnologias de aplicativos à internet das coisas. Em geral, sabe automação, robótica, programação, matemática, lógica… O salário parte de 4 500, mas pode superar os 15 000 reais.
Gerente de programa >Responsável pela automação robótica de processos, controla desde o primeiro contato com o cliente até o resultado final do produto, definindo a tecnologia a ser implementada, custos etc. Ganha entre 19 000 e 25 000 reais.
Sem sair de casa
Em 2015, a desenvolvedora web Juliana Camillo, 29, perdeu o emprego durante a reestruturação da agência de publicidade onde trabalhava. No mesmo dia, recebeu uma proposta para criar sites em outra empresa, mas começaria só no mês seguinte. “Nesse tempo que passei como freelancer, ganhei o dobro do que me ofereceram no novo emprego”, lembra. Desde então, concilia em média dez projetos e trabalha também nos fins de semana. “Mas posso ir ao cinema ou ao médico em plena quinta à tarde e ainda tenho a companhia da Mali, minha estilosa vira-lata. Não troco minha liberdade nem minha renda por uma carteira assinada.”
A psicóloga virou user experience
Na infância, Adalvana Costa, 31, sonhava em ser dentista. Filha de pedreiro e de dona de casa, tentou durante quatro anos passar em uma universidade pública, mas não conseguiu. Para pagar o cursinho, trabalhava como atendente de telemarketing. Certo dia, participou de um programa em uma empresa de telecomunicação e se apaixonou pelo mundo do RH (Recursos Humanos). “Troquei a odontologia pela psicologia e ganhei bolsa no Mackenzie”, conta. Em 2019, atuava no RH da Tivit, multinacional de soluções digitais, e descobriu a carreira de UX designer, uma nova profissão desse setor, que traduz para as empresas os desejos dos consumidores. “É o lado humanas de TI”, define. Passou quase um ano fazendo cursos on-line por conta própria. Concluiu seu aprendizado ao desenvolver durante três meses um projeto para uma startup de ensino de inglês. “Fiz de graça para ganhar experiência.” Em fevereiro, migrou para o departamento especializado na Tivit, uma área que ainda não completou um ano. Em 2020, a empresa planeja ampliar seu quadro com 200 novas vagas. Boa parte delas, para abrir um laboratório de UX na região da Berrini. “Empregos em TI são bem promissores. Em cinco anos aqui, meu salário aumentou 200%”, comemora Adalvana, que vai se mudar de São Miguel Paulista, no extremo da Zona Leste, para a Liberdade.
Lições “na faixa”
Com apenas 22 anos, Matheus Catossi é desenvolvedor sênior na IBM. O rapaz não revela o salário, mas seu posto paga entre 12 000 e 20 000 reais por mês. Filho de motorista de ônibus e empregada doméstica, estudou em colégios públicos, fez escola técnica e cursou análise de sistemas na Impacta. “Mas onde mais aprendi foi em cursos gratuitos”, conta o profissional (veja opções dessas instituições na pág. 29). Além de dar expediente no prédio na 23 de Maio, Catossi faz palestras sobre o setor em escolas públicas nos fins de semana para inspirar e atrair novos talentos. De vento em popa na carreira, celebra uma vitória: “Comprei uma casa para meus pais”, comemora o jovem, que se mudou de Guaianases para a Vila Guilhermina em 2019.
“Match” profissional
“Para um perfeito ‘match corporativo’, o profissional deve conciliar aquilo de que gosta com o que o mercado exige”, prega Mauricio Saad, sócio da EY para a América do Sul, líder na área de transformação digital da empresa, especializada em consultoria. Saad ressalta que a TI certamente vai otimizar processos repetitivos, além de ajudar nas conclusões, como na medicina diagnóstica. “Mas é a tecnologia que se adapta ao negócio, não o contrário”, ressalta. “Por isso, nesse novo mercado, há espaço para todos: médicos, advogados, astrofísicos… Todas as profissões, experiências e faixas etárias têm seu valor e conseguem se encaixar nessa nova realidade. Basta ter disciplina e disposição para estudar”, completa.
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