Um vasto projeto de pesquisa de Harvard usou os avanços da inteligência artificial para tentar prever tentativas de suicídio e quando era mais provável que a pessoa o fizesse. O objetivo do estudo era usar os dados dos pacientes para conseguir elaborar um sistema de alerta precoce capaz de ajudar a intervir antes que esses incidentes acontecessem.
Em linhas gerais, cada participante usou uma pulseira Fitbit programada para rastrear o sono e atividade física. Já no smartphone foi instalado um aplicativo para coletar dados sobre o humor, movimento e interações sociais da pessoa.
Veja, por exemplo, um dos funcionamentos possíveis do sistema: o sensor informa que o sono de uma paciente está perturbado, ela relata um mau humor em questionários e o GPS mostra que ela não está saindo de casa. Mas, um acelerômetro em seu telefone mostra que ela está se movendo muito, sugerindo agitação. O algoritmo sinaliza o paciente. Um ping soa em um painel. E, na hora certa, um médico entra em contato com um telefonema ou uma mensagem.
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Por um lado, alguns especialistas da área veem com otimismo o uso de algoritmos no campo de saúde mental. Porém, outros deles duvidam que o algoritmo possa alcançar o nível de precisão necessário para prever o comportamento humano.
A explicação para esse ceticismo reside no fato de que o suicídio é um evento raro, mesmo entre aqueles de maior risco. Com isso, qualquer esforço para prevê-lo resultará em falsos positivos, forçando intervenções em pessoas que podem não precisar deles. Além disso, há também os casos de falso negativo, que podem empurrar a responsabilidade legal para os médicos.
“Provavelmente, em alguns sentidos, não é um problema solucionável, pela mesma razão que temos tiroteios em escolas e pela mesma razão que não podemos prever muito desse tipo de coisa”, disse Allen, diretor do Centro de Saúde Mental Digital da Universidade de Oregon. “Você sabe, a matemática é realmente assustadora”, concluiu.
O uso de algoritmo para prever suicídio
Ainda assim, os algoritmos provaram ser mais precisos do que os métodos tradicionais. De acordo com uma revisão de pesquisas, publicada em 2017, esses métodos não evoluíram em 50 anos e foram apenas um pouco melhores no cálculo para prever um incidente.
O estudo conduzido por Matthew K. Nock, psicólogo de Harvard e um dos principais pesquisadores de suicídio do país, coletou dados de 571 indivíduos durante seis meses. Dr. Nock acredita que seja o maior reservatório de informações já coletadas sobre a vida diária de pessoas que lutam com pensamentos suicidas.
Durante a execução do estudo, a equipe de pesquisadores do departamento de psicologia de Harvard estava mais interessada em encontrar padrões nos dias anteriores às tentativas de suicídio, o que permitiria tempo para intervenção. Nesse intervalo de tempo, alguns sinais já surgiram. Embora os impulsos suicidas muitas vezes não mudem no período anterior a uma tentativa, a capacidade de resistir a esses impulsos parece diminuir. Algo simples – privação de sono – parece contribuir para isso.
Uma das particularidades dessa pesquisa foi a decisão de intervir quando os participantes demonstravam um forte desejo de se machucar.
“Há uma desvantagem nisso porque você tem menos tentativas e menos suicídios, porque, cientificamente, agora estamos diminuindo nossa probabilidade de encontrar um sinal”, disse Dr. Nock. Mas, ele acrescentou: “Eu continuo voltando à questão de, e se fosse meu filho?”.
Apesar desse cuidado ético, houve duas mortes e de 50 a 100 tentativas entre os pacientes monitorados na pesquisa.
Ajuda contra pensamentos suicidas
Procure ajuda no Centro de Valorização da Vida e nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) caso você esteja pensando em cometer suicídio.
Os mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil do Centro de Valorização da Vida funcionam 24 horas por dia, inclusive aos feriados, pelo telefone 188. O atendimento também funciona pessoalmente, por e-mail ou via chat.
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