Diante do cenário de dificuldade na Assembleia Legislativa, onde dez pedidos de impeachment do governador já foram protocolados, Wilson Witzel prometeu a deputados que vai exonerar o secretário de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão, citado em uma investigação que apura desvio de recursos públicos e acusado por parlamentares de espioná-los. A cartada foi dada após a sessão de ontem da Alerj, na qual o Palácio Guanabara amargou uma dura derrota: dos 18 vetos do Executivo apreciados pelo plenário, a Casa derrubou 17. Com isso, as novas leis entrarão em vigor no estado contra a vontade do governador. A votação reforçou a fragilidade de Witzel, que tenta recompor sua base e garantir os 36 votos necessários para barrar a instauração de um possível processo de impeachment.
Se confirmada, esta será a sexta mudança no primeiro escalão em duas semanas, período em que o governo do estado foi alvo de operações que investigam fraudes em contratos, principalmente na Saúde. O presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), que até pouco tempo era aliado de Witzel, já acena com a possibilidade de submeter o pedido de processo de impedimento ao plenário nos próximos dias.
Antes mesmo da sessão de ontem, a Alerj deu uma amostra do que estava por vir. Durante a reunião de líderes de partidos, o deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) afirmou:
— Vossa excelência (Ceciliano) tem acenado que as propostas de impeachment do governador e do (secretário de Desenvolvimento Econômico) Lucas Tristão terão ambiente propício para caminhar dentro da Casa. O TCE rejeitou por unanimidade as contas do governo, que não investiu 12% na Saúde, nem 25% em Educação, nem 2% em Ciência e Tecnologia — discursava o parlamentar, quando o presidente da Alerj o interrompeu para lembrá-lo de outra irregularidade detectada:
— E ainda tem o Fundo Estadual de Habitação!
Até aliado se afastou
A crítica de Ceciliano foi ainda mais contundente. Ele disse que o governador ofereceu cargos a parlamentares para tentar “enfraquecer” o Legislativo.
— Ele ofereceu todas as secretarias. Só não vi (ser oferecida) a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. O resto, ele ofereceu. Ofereceu liderança do governo, ofereceu Secretaria de Polícia Civil, a de Esporte, de todo jeito. E, se nós aqui fôssemos repetir o gesto do governo, no dia de ontem teríamos que ter aceitado o processo de impeachment — disse. — Comentam no Palácio Guanabara que deputado é igual a jujuba: em qualquer esquina, pode se comprar.
Depois, a palavra foi passada a Márcio Pacheco (PSC, partido de Witzel), que entregou o posto de líder do governo na semana passada após o governador mudar o comando das secretarias de Fazenda e da Casa Civil, em um movimento interpretado pela Alerj como de fortalecimento de Lucas Tristão. Pacheco explicou que foi esse o motivo para abandonar a defesa do Executivo:
— Algumas ações (do governo) demonstraram profundo desrespeito ao parlamento.
Procurado, Tristão afirmou, por nota, que “o governador tem total discricionariedade na nomeação e na exoneração de secretários, sem necessidade de motivação”. Segundo ele, seu “compromisso com o Rio de Janeiro permanece até a publicação do ato em Diário Oficial”.
Também procurado, Witzel, por sua vez, não mencionou Tristão numa nota em que afirma que vem conversando com os deputados para mostrar sua defesa. Na semana passada, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao governador e à primeira-dama Helena Witzel numa investigação sobre fraudes em contratos para construir e gerir hospitais de campanha durante a pandemia. Segundo Witzel, “foi uma ação equivocada do Ministério Público, que induziu a erro o ministro do Supremo Tribunal de Justiça”, que autorizou operação. “E nós vamos trabalhar para arquivar esse processo de impeachment. Confio no presidente André Ceciliano, que tem sido uma pessoa muito respeitosa”, conclui.
Nos bastidores da Alerj, deputados comentam que a possível saída de Tristão do governo dará fôlego a Witzel no Legislativo. Mas, além disso, o governador estaria sendo pressionado a exonerar pessoas indicadas pelo secretário.
— Resta saber se, caso a exoneração saia, Ceciliano vai se manter disposto a levar adiante o impeachment — disse um parlamentar, que preferiu não se identificar.
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