Marte é conhecido por suas intensas tempestades de areia em seus períodos de verão e, de acordo com cientistas da Universidade de Houston, no Texas, a causa disso pode ser um “desequilíbrio de calor” causado pelo acúmulo de energia – ou seja, mais concentração e menos gasto -, por parte do planeta vermelho. A premissa rendeu um estudo revisado e publicado no jornal Proceedings of the National Academy of Sciences.
As tempestades de poeira em Marte são bastante citadas pelas agências espaciais do mundo, além de responsáveis por grandes perdas em nossas capacidades de exploração fora da Terra: o rover Opportunity, da NASA, “morreu” em 2018 após uma tempestade de classe planetária impedir o aparelho e continuar coletando energia do Sol, sujando-o tanto que ele entrou em modo de hibernação em julho daquele ano (e o atual módulo InSIGHT pode estar no mesmo caminho).
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“O planeta Marte não tem qualquer tipo de mecanismo de armazenamento energético eficiente como os que temos aqui na Terra”, disse Ellen Creecy, pesquisadora e pós-doutoranda da Universidade de Houston. “Aqui, os nossos grandes oceanos, por exemplo, têm o papel de ajudar a equilibrar o sistema climático”.
Marte, no entanto, já foi a casa de imensos corpos d’água – a Cratera Jezero, onde o rover Perseverance se encontra hoje, por exemplo, já foi um grandioso lago e um enorme delta de rio -, então essa situação nem sempre foi assim.
A pesquisa se baseou em dados coletados pela finada sonda Mars Global Surveyor (MGO), que foram comparados a informações mais recentes coletadas pelos rovers Curiosity e os já citados Perseverance e o módulo InSIGHT. A conclusão foi a mesma pelos três vetores de consulta: a energia solar absorvida por Marte é bem maior do que a energia que o planeta irradia de volta ao espaço na forma de calor.
O termo prático dessa relação é um bem específico, mas bem fácil de entender: “orçamento energético”. Esse orçamento é diferente para cada planeta: Júpiter, por exemplo, tem um desequilíbrio imenso porque 1) por ser um gigante gasoso, ele não tem uma superfície própria e 2) ele está bem distante do Sol, o que faz com que ele receba pouca energia, mas ainda irradie muito calor devido a estoques que ele mantém desde a época de sua formação.
Já a Terra tem um desequilíbrio bem modesto, o que indica que o que absorvemos e o que jogamos de volta ao espaço têm mais ou menos o mesmo volume. Essa premissa era também pensada para Marte, considerando as similaridades do planeta vermelho conosco – a pesquisa, no entanto, provou que não é bem por aí, e indica que há diferenças consideráveis a serem ponderadas nos hemisférios norte e sul do nosso vizinho.
As tempestades de poeira são mais intensas no sul de Marte. Para se ter uma ideia, elas são tão fortes que, em janeiro deste ano, vários projetos da NASA e da ESA no planeta tiveram suas comunicações suspensas a fim de preservar equipamentos – em alguns casos, esse “modo escuro” durou meses.
“Em 2001, uma tempestade global engoliu Marte, e o MGS estava de prontidão para estudá-la em detalhes. A nave descobriu que, durante essa enorme tempestade, houve um desequilíbrio energético entre o norte e o sul do planeta vermelho de 15,3%. A energia extra absorvida pelo lado sul foi mais que suficiente para desencadear enormes tempestades”, diz trecho do estudo.
Mais além, o paper também denota uma queda na variação de calor na mesma área – 22% a menos, ou 111,7 watts por metro quadrado – durante o dia. À noite, no entanto, esse número subiu para 29% acima da média. A principal causa disso é a ausência de grandes oceanos, segundo os cientistas.
O interessante é que a situação não parece ter aliviado: segundo o Planetary Society, Marte passou pelo seu equinócio de primavera em fevereiro – um indício de que uma nova temporada de tempestades deve surgir nos próximos meses e, possivelmente, reajustar os planos e calendários dos muitos equipamentos, módulos e rovers na superfície do planeta vermelho.
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