De galpões a futebol, império de Menin cresce na pandemia

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O empresário Rubens Menin é um homem de muita sorte.

Em um país com mais de 1,7 milhões de pessoas infectadas pelo coronavírus, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, Menin, 64, não só evitou ser contaminado pela doença como também viu seus negócios prosperarem – ao contrário do que ele mesmo achava que iria acontecer.

Quando os primeiros casos de coronavírus começaram a aparecer no Brasil, a construção e venda de moradias para pessoas de baixa renda, principal atividade do clã Menin, parecia ter o colapso garantido. O próprio empresário chegou a esperar uma queda de até metade nas vendas MRV Engenharia & Participações, a terceira maior construtora de casas do mundo, disse ele em entrevista.

Para sua surpresa, “o mercado não desacelerou”.

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As vendas líquidas da MRV atingiram um recorde no segundo semestre, um aumento de 8,4% em relação aos três primeiros meses do ano, um “forte” desempenho, segundo Menin.

O sucesso da MRV durante a crise está ligado a um fator que acaba sendo subestimado em meio à queda da economia brasileira. Depois de muita luta, o país finalmente conseguiu reduzir taxas de juros a níveis historicamente baixos sem provocar inflação. O atual nível, 2,25%, era impensável anos atrás.

São os juros no chão que estão alimentando o crescimento da demanda pelos imóveis da MRV, levando a fortuna de Menin para cerca de US$ 1,4 bilhão, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Nos últimos anos, ele tem usado seus recursos crescentes para expandir seu império, que agora inclui logística, fintechs, a versão brasileira da CNN e até futebol.

Em março, quando ficou clara a gravidade da crise, Menin se preparou para o pior. Conforme a pandemia se espalhava, a MRV adiou lançamentos e, embora tenha segurado a demissão de funcionários por 60 dias, Menin não tinha certeza do que faria depois. Na LOG Commercial Properties & Participações, operadora de uma rede de galpões logísticos, Menin ficou em dúvida se o plano de investimento de quatro anos, no qual previa fornecer 1 milhão de metros quadrados de espaço de armazenamento até 2024, “parava de pé.”

Agora, a MRV já retomou algumas obras e vem observando baixos distratos e vendas em alta. Na LOG, a situação está até um pouco melhor do que antes, com a demanda das vendas digitais aquecendo o mercado de galpões. Nas duas empresas, Menin diz estar fazendo “contratações discretas”, sem demissões.

“Algumas empresas menores não vão voltar mais”, disse ele. Mas “quando a crise da saúde terminar, acho que haverá uma volta mais acentuada do que muitos estão esperando”.

Até a incursão da MRV no mercado imobiliário americano está se saindo melhor do que Menin esperava no início da pandemia. A MRV comprou neste ano uma empresa que o próprio Menin criou nos EUA, AHS Residential, para competir no mercado americano de moradias populares.

Menin falou à Bloomberg em duas ocasiões, a primeira durante uma entrevista realizada na sede da MRV em Belo Horizonte, no final do ano passado, que terminou em uma sala de espera de um aeroporto, enquanto um jato particular era preparado para levá-lo a São Paulo. Mais recentemente, voltou a falar de seus negócios em entrevista por telefone.

Os investidores parecem compartilhar parte de seu otimismo. A LOG, depois de perder metade do seu valor de mercado entre 1º de janeiro e meados de março, se recuperou e suas ações sobem levemente no ano. A MRV caiu 6% no acumulado do ano, desempenho melhor que o do Ibovespa, que caiu 14%.

Quem conversa com Menin não deixa de notar sua “mineirice.” Ele é de fala mansa, mas detalhista; relaxado, mas comedido; conversador, mas, às vezes, evasivo.

Menin é “um empreendedor fenomenal, que conseguiu construir uma empresa em um setor em que muita gente morreu”, disse Fabio Alperowitch, co-fundador da FAMA Investimentos, uma das gestoras mais antigas do Brasil, que investe tanto na MRV quanto na LOG. Ele disse que esperava que as vendas da MRV caíssem para “próximo de zero” quando a pandemia começou.

Menin é engenheiro civil de terceira geração — seus dois filhos a tornam a quarta e sua mãe foi a terceira mulher a se formar em engenharia civil em Minas Gerais. Aos 18 anos, ele trabalhou como estagiário, ajudando a supervisionar obras em áreas pobres, uma experiência que moldou seu futuro modelo de negócios na MRV.

“Ele tem uma demanda reprimida pelo produto que oferece e consegue construir em uma escala industrial”, disse Alberto Ajzental, da Fundação Getúlio Vargas.

Hoje, a MRV possui um valor de mercado de R$ 9,7 bilhões. O filho de Menin, Rafael, divide o cargo de CEO com Eduardo Fischer, enquanto sua filha, Maria Fernanda, é diretora jurídica. Seu filho mais novo, João Vitor, chefia o Banco Inter, que foi fundado por Menin em 1994 como uma financeira e se tornou em 2017 um banco digital. O Softbank possui cerca de 15% do Banco Inter, o negócio mais valioso do clã Menin.

No conjunto, é um legado que colocou Menin sob os holofotes várias vezes ao longo dos anos – inclusive, mais recentemente, por sua decisão de apoiar a incursão da CNN no Brasil. Comandada por Douglas Tavolaro, um veterano da TV Record, emissora com cobertura favorável a Bolsonaro, a CNN causou polêmica ao ser taxada de pró-governo. Desde que estreou em março, o canal tem dado mais espaço do que alguns concorrentes a vozes alinhadas a Bolsonaro, mas se envolveu também em polêmicas com membros do governo em entrevistas.

O próprio Menin é um crítico de como o Brasil está lidando com a pandemia . “O Brasil é um país continental e todos estavam remando em direções opostas”, disse ele. Isso causou “exaustão” entre os brasileiros que estão desistindo de quarentenas implementadas “na hora errada”, o que atrasa a recuperação da economia e dos mercados.

Ele vem tentando aliviar o impacto da pandemia gastando mais em filantropia, doando dinheiro para ONGs e hospitais em um ritmo maior do que planejava.

Outro negócio que tem sido irrigado por sua fortuna pessoal é o futebol.

Menin tem desembolsado dinheiro na forma de empréstimos sem juros para ajudar seu time favorito, o Atlético Mineiro. Ele não diz quanto gastou, embora portais de mídia esportiva calculem que a equipe tenha gasto R$ 55 milhões em novas contratações este ano. Menin não vê isso como um investimento, mas como uma missão.

“O futebol brasileiro perdeu seu brilho”, disse Menin, que estava de pescoço imobilizado durante a conversa mais recente, depois de uma queda enquanto jogava uma partida com seus netos e amigos em sua casa de campo. “Nós tínhamos orgulho de ter o melhor futebol do mundo e é algo que eu quero resgatar.”

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