Tem uma festa da dança contemporânea carioca acontecendo na cidade. “As histórias que inventamos sobre nós”, que comemora as duas décadas de vida da Esther Weitzman Companhia de Dança, é muito mais do que um espetáculo de aniversário. É uma celebração ao amor pela dança e à sobrevivência dos corpos em tempos tão incertos, para quem vive de arte na cidade, no estado e no país. Generosidade, afeto e entrega é o que se vê aqui, em doses cavalares.
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Trata-se de um projeto de reencontros. Esther teve a coragem de convidar todo mundo, entre bailarinos e técnicos, que um dia passou pela companhia nestes 20 anos para estar em cena. Muitos aceitaram. Na abertura, mais de 15 intérpretes surgem no palco, com figurinos vermelhos, o que talvez seja o único traço de união entre corpos tão diversos. Tem jovens explodindo de energia, bailarinos profissionais dos 20 aos 50 anos e até iluminador e designer.
Trata-se de uma homenagem à própria história coreográfica de Esther, cujo talento para escolher elencos é inegável. Nestes anos, muitos de seus espetáculos partiram de elencos específicos, como nos mais recentes, “Jogo de Damas” (2013), só com mulheres, e “Dançar (não) é preciso” (2016), que apostou em bailarinos muito jovens.
“As histórias que inventamos sobre nós” é um espetáculo alegre, mas nada superficial. Fala das diferentes possibilidades de encontros, das engrenagens de uma comunidade em ação. Esther e sua trupe revisitam trechos de coreografias de sua história, sem qualquer obviedade. Aqui e ali, ela vai salpicando cenas de trabalhos como “Terras” (1999), sua criação inaugural, “Por minha parte” (2005) e “Territórios” (2006) até chegar aos mais recentes. Isso tudo embalado por uma trilha totalmente condizente com a geração da coreógrafa, com Rolling Stones, Queen, Beatles e Led Zeppelin. A gente dança junto nas poltronas.
E, finalmente, até mesmo a escolha dos teatros da temporada de duas semanas diz muito sobre a história da dança na cidade nas últimas décadas. Até hoje, o Carlos Gomes, palco-símbolo do festival Panorama — e cujos técnicos, segundo Esther, estão sem receber há quatro meses; e, na semana que vem, o Cacilda Becker, principal espaço para companhias de dança no Rio. Mais uma celebração e respeito.
Vá assistir e tenha uma hora de felicidade garantida.