Cresce o número de frequentadores nos clubes de tiro da capital

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Na manhã da segunda-feira (21), a engenheira Thainan Vidal, de 25 anos, manuseava uma pistola Imbel calibre .380 com desenvoltura em uma das baias do estande do clube de tiro Cobracom, na Vila Prudente, na Zona Leste. “Galera, a pista está quente”, gritou, antes de disparar oito vezes em sequência, deixando no ar um cheiro de pólvora misturado ao de borracha. Todos os projéteis acertaram o alvo em formato humano instalado a 7 metros de distância. A precisão na pontaria de Thainan é fruto do treino semanal ao lado do namorado, o estudante Luiz Otávio Mesquita.

Nas paredes de outras salas do endereço — cuja fachada passaria perfeitamente por uma residência comum —, espalham-se modelos de pistola, revólver e espingarda, além de vários tipos de munição e equipamentos como coletes à prova de bala e capacetes, alguns deles disponíveis para locação ou venda. Também chama atenção a imagem do Sagrado Coração de Maria, de 1,70 metro de altura, ao lado do balcão de atendimento. “O tiro tem de ser relaxante”, afirma o dono do estabelecimento, Wagner Nespoli.

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O empresário Wagner Nespoli: pistolas e espingardas à vendaVeja SP

Cenas e espaços como esses tendem a se tornar mais frequentes e numerosos na capital após o presidente Jair Bolsonaro ter flexibilizado as regras para a aquisição de armas de fogo no país, em decreto publicado no último dia 15. Dos dez clubes paulistanos listados pela Federação Paulista de Tiro Prático, alguns já começam a registrar um aumento no interesse popular. A Academia Centaurus, no Butantã, na Zona Oeste, por exemplo, conta atualmente com 600 associados, mas esse pelotão está perto de ganhar mais adeptos. “Nosso curso teve um crescimento de 40% nas inscrições neste início de ano”, diz o proprietário do lugar, Nelson de Oliveira Júnior. “Aparecem pessoas de todo tipo, sejam vigilantes, universitários ou até grandes executivos.”

Outras empresas do ramo estão preparadas para absorver o aumento da procura. Antes localizado em um acanhado galpão de 500 metros quadrados no Ipiranga, o Grêmio Desportivo Águia de Haia investiu 450 000 reais para levantar a recém-inaugurada nova sede no Jabaquara, na Zona Sul, em uma área cinco vezes maior. Por ali há dois estandes, um exclusivo dos 1 200 sócios e o outro destinado aos alunos dos cursos. Um salão exibe troféus e medalhas conquistados por frequentadores. A loja vende artigos como camisetas e prepara-se para também oferecer armas, o que deve ajudar a aumentar o faturamento atual, de cerca de 200 000 reais mensais. O espaço tem ainda playground, mesa de sinuca e academia. “Nossa ideia foi criar um ambiente de diversão para os associados”, explica o dono, Jaime Saldanha Júnior.

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Thainan Vidal disparando um dos projéteis na direção do alvo em formato humano: cheiro de pólvora e borracha no arVeja SP

Em teoria, não seria complicado inscrever-se em um curso básico de tiro. Bastaria ser maior de idade (18 anos, pelo menos por enquanto), não ter antecedentes criminais e apresentar um documento com foto (alguns locais exigem a carteira de identidade). Mas outros requisitos específicos não são incomuns nos clubes. No Cobracom, só entram indicados por sócios. Em outros lugares, os critérios são mais subjetivos.

No Águia de Haia, o interessado é submetido a uma análise de perfil no melhor estilo “olhômetro”. “Observamos como a pessoa se porta. É meio malandrão e fala gíria? Aqui não atira”, diz Saldanha Júnior. Existem endereços ainda mais fechados. No Calibre, na Lapa, na Zona Oeste, um funcionário declara que não é autorizado a passar informações. Por telefone, o proprietário diz estar fora da cidade. Essa aura de mistério é ampliada por uma percepção às vezes equivocada sobre a natureza da atividade.

Empresários e associados dos clubes costumam utilizar a expressão “esporte” para descrever o que fazem. O próprio estatuto da Federação Paulista de Tiro Prático a define como uma associação civil “com caráter eminentemente desportivo”. O que se desenvolve em todos esses locais, no entanto, guarda semelhança remota com o chamado tiro esportivo, modalidade integrante do programa olímpico desde a primeira edição da era moderna, em 1896, na cidade de Atenas, na Grécia. “Na versão olímpica, os atiradores usam armas de ar comprimido e chumbo como munição. Não é armamento letal”, informa a Confederação Brasileira de Tiro Esportivo, entidade ligada ao Ministério do Esporte.

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Jaime Saldanha: nova sedeVeja SP

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 30 de janeiro de 2019, edição nº 2619. 



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