Cresce alerta sobre domínio da Starlink na Amazônia: avanço tecnológico ou risco à soberania?

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Starlink Mini, nova antena da empresa, ao lado de notebook no mato
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A Starlink, que também acabou no olho do furacão no embate entre X e Supremo Tribunal Federal (STF), está cada vez mais gigante no Brasil. A internet via satélite da empresa ajuda várias regiões remotas do País que não têm acesso à comunicação terrestre.

Mas há um problema nisso: enquanto povos indígenas, fazendeiros e bases militares, por exemplo, usam a Starlink para realizar comunicações limpas, há os que a usam para o mal. Caso de garimpeiros ilegais, segundo as forças especiais brasileiras.

“É uma antena de internet via satélite que fornece comunicações para toda essa rede criminosa”, disse um combatente das forças especiais ao The Guardian. Muitos dispositivos Starlink já foram apreendidos nas operações especiais, que também envolvem Ibama e Polícia Rodoviária Federal (PRF).

“Nós encontramos isso em todos os lugares agora. Toda draga de mineração tem pelo menos um deles”, explicou o policial sobre a antena da empresa de Elon Musk, que, nessa operação em especial, a antena da Starlink estava sendo usada para conectar a barcaça e as câmeras de segurança ao dono da operação, que estava a centenas de quilômetros de distância.

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Povos amazônicos se beneficiam da internet de Musk (e garimpeiros ilegais também) (Imagem: Reprodução/Redes sociais)
  • Segundo a empresa da SpaceX, são mais de 250 mil clientes no Brasil atualmente, enquanto, em fevereiro do ano passado, eram 20 mil;
  • Desses, quase 70 mil antenas estão instaladas na Amazônia, com mais de 90% dos municípios cobertos pela empresa;
  • Para Pedro Doria, jornalista e escritor brasileiro, “a Starlink é revolução na forma como traz conectividade de internet de boa qualidade para praticamente qualquer lugar remoto do mundo. É revolucionário e não tenho certeza se muitas pessoas em Brasília entendem como – especialmente na Amazônia – você não pode mais viver sem a Starlink”.

Por sua vez, o advogado de tecnologia Ronaldo Lemos viajou à floresta amazônica para realizar um programa sobre o boom da Starlink por lá. Ele se surpreendeu com a rápida disseminação da tecnologia ao viajar pelo Rio Negro, na região da fronteira da Colômbia.

Em dado momento, Lemos conheceu um fisioterapeuta que largou a profissão, comprou todos os kits Starlink que pôde e ia nas cidades ribeirinhas para vendê-los por preço três vezes mais alto que o praticado pela empresa.

Segundo Lemos, “[há] essa enorme demanda por conectividade na região. Isso definitivamente mudou o perfil da região e acho que isso é uma coisa boa”. Ele celebra o fato de a operadora de internet via satélite estar dando acesso à educação e oportunidades de negócios às comunidades que, antes, estavam isoladas.

Mas… nem tudo são flores. O advogado voltou da região com preocupações em mente. A primeira delas trata da possibilidade de a empresa de Musk obter, graças à sua penetração massiva na região, informações confidenciais sobre a região, que possui riqueza de recursos, vista como vital para a segurança nacional e soberania do Brasil

A Starlink sabe a localização de seus equipamentos em todos os lugares da Amazônia e, com essas informações e um pouco de mineração de dados, você pode determinar posições para recursos minerais. Uma empresa como a Starlink pode saber mais sobre a Amazônia e a ocupação da Amazônia pela atividade humana do que o governo brasileiro realmente sabe.

Ronaldo Lemos, advogado de tecnologia, em entrevista ao The Guardian

Além disso, ele pensa que os quase 100% de domínio da Starlink na região provocam grande influência (e, potencialmente, perigosa) sobre o governo brasileiro.

Os eventos que vimos nos últimos dias demonstram que, infelizmente, Elon Musk se tornou realmente instável e até mesmo infantil na maneira como está se comportando. [Este] comportamento errático [significa] que é muito difícil para um país depender, realmente, de uma pessoa como ele para aplicações críticas, como conectar a Amazônia, e assim por diante.

Ronaldo Lemos, advogado de tecnologia, em entrevista ao The Guardian

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Além do Brasil, são quase 100 países que contam com a Starlink, que possui mais de três milhões de clientes nessas regiões. Contudo, o lugar onde ela mais se provou útil foi na Ucrânia, onde existem mais de 42 mil terminais da empresa, usados por militares, médicos e trabalhadores de energia, sendo vital no duelo contra a Rússia.

“Você nunca quer depender de um fornecedor, independentemente de quem seja”, disse Dmitri Alperovitch, especialista em segurança cibernética e presidente do thinktank Silverado Policy Accelerator, mas, hoje, não há rival ao nível global para a empresa de Musk.

Mas Alperovitch opinou que, ao menos, os demais países podem seguir o exemplo dos Estados Unidos e contratar o braço militar da Starlink, a Starshield, pois os satélites que operam para a companhia em questão são controlados e de propriedade do governo estadunidense.

E a Starlink já se mostrou com papel geopolítico, quando Taiwan abriu conversas com Musk para ter a tecnologia. Mas, com o incômodo gerado entre os chineses, o bilionário voltou atrás. Isso porque a China é mercado vital para outra empresa dele: a Tesla.

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Especialistas se preocupam com poder da empresa de internet via satélite no País (Imagem: RossHelen/Shutterstock)

Para Makena Young, pesquisadora do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington DC, é “raro que elas tomem decisões políticas significativas, cuja atenção e implicações tendem a aumentar quando lideradas por indivíduos altamente visíveis e potencialmente polarizadores”.

É possível que, quando (e se) surgir um rival à altura da Starlink (lembremos que a Amazon está expandindo sua própria tecnologia de internet via satélite, o Projeto Kuiper), o fator Musk pode ser determinante, tanto a favor, como contra.

Sobre o embate entre Starlink e STF, Lemos espera que isso sirva como “alerta para todas as democracias” e pediu ao governo brasileiro que busque mais provedores similares à empresa da SpaceX.

Ele também opinou que a transformação do X em ferramenta hostil feita por Musk deixou bem claro como o sul-africano passou a usar sua rede social como “ferramenta de interferência estrangeira partidária que tenta incitar a divisão”.

Um exemplo destacado pelo advogado é o aumento do conteúdo de extrema-direita difundido por Musk durante os tumultos ocorridos no Reino Unido por essa ala política. “Meu medo é que a Starlink possa se tornar parte dessa mesma conspiração”, finalizou.

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