O presidente e fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, anunciou nesta semana a saída de um dos executivos mais antigos da empresa. O diretor de produtos Chris Cox, que já chegou a ser descrito pela imprensa especializada como “o mais importante executivo” do Facebook depois do próprio Zuckerberg, deixou a companhia ao lado do diretor do WhatsApp, Chris Daniels.
Cox esteve ao lado de Zuckerberg durante quase toda a trajetória do Facebook. Trabalhando na empresa há 13 anos, o engenheiro de software era hoje responsável pela “família de apps”, incluindo, além do próprio Facebook, a rede social de fotos Instagram e os aplicativos de mensagem WhatsApp e Messenger, que também pertencem à companhia.
A notícia de sua saída veio uma semana depois de o Facebook anunciar, no último dia 6 de março, que mudaria seu foco das redes sociais públicas para privacidade e comunicação criptografada.
Assim como o chefe, o Facebook foi a única empresa na qual Cox trabalhou desde que abandonou os estudos na Universidade Stanford, na Califórnia, em 2005, quando tinha ainda 23 anos (Zuckerberg, por sua vez, abandonou Harvard um ano antes, em 2004, quando se mudou para o Vale do Silício para começar oficialmente o Facebook).
Em mensagem de despedida publicada em seu perfil no Facebook, Cox deu uma pista de que a nova era da empresa pode ser o motivo de sua saída. “Como Mark destacou, estamos virando uma nova página na direção de nossos produtos, focados em uma rede criptografada e interoperacional de mensagens”, diz o executivo. “Este será um grande projeto e precisamos de líderes que estejam animados para ver essa nova direção acontecer.”
O agora ex-diretor de produtos foi um dos 15 primeiros engenheiros de software da história do Facebook, e foi rapidamente subindo na empresa. Tornou-se vice-diretor de produtos em 2008 e diretor em 2014. Em sua trajetória, foi responsável pela criação de projetos como o feed de notícias do Facebook, uma das características mais importantes da rede social.
Na mensagem de despedida, Cox também reitera sua trajetória na empresa e diz que sentirá falta de “Mark” e de toda a equipe. Contudo, dá a entender que não está entre os “animados” para a mudança de rumos da companhia.
O pai do feed
O comando da família de apps estava nas mãos de Cox desde maio do ano passado. Mesmo antes disso, ele é descrito como um dos principais responsáveis pela transição das ferramentas do Facebook do computador para o mobile. Sua saída e a nova fase com foco nas conversas privadas pode marcar, também, o começo do fim – ou ao menos o enfraquecimento – do modelo do feed de notícias que ele ajudou a criar.
Cox entendia o Facebook como ninguém. Por mais de uma década, esteve à frente do recrutamento de pessoas para a equipe e do treinamento delas para se adequar à cultura da empresa – o último desses treinamentos tendo sido feito no dia em que ele anunciou a demissão.
Não só isso: o executivo tornou-se, com o tempo, um grande amigo e confidente de Zuckerberg. “À medida em que embarcamos neste novo grande capítulo, Chris decidiu que agora é hora de dar um passo atrás na liderança destes times”, escreveu o fundador em um post no Facebook anunciando a saída de Cox. “Eu vou sentir muita falta do Chris, mas, acima de tudo, sou profundamente grato por tudo que ele fez […]”, afirmou Zuckerberg.
Embora mais discreto e aparecendo que outros executivos, como a chefe operacional (COO) Sheryl Sandberg, Cox vinha sendo especulado como um possível “herdeiro” de Mark Zuckerberg à presidência da empresa. Em 2015, foi chamado por um colunista da revista norte-americana Forbes de “o executivo mais importante do Facebook sobre o qual ninguém está falando”.
Se Cox não vai se tornar o próximo presidente do Facebook, também não sairá de mãos completamente abanando: o agora ex-diretor faturou 320 milhões de dólares com a venda de parte das ações da empresa que detinha, além de ter ainda outros 62 milhões de dólares em ações restantes. A empresa vale hoje 473 bilhões de dólares.
Semana difícil
A saída de Cox acontece em uma semana em que quase tudo deu errado para o Facebook. Nos últimos dias, a empresa foi acusada de remover por engano anúncios que falavam mal da companhia, além de ter sido a plataforma usada para que o atirador australiano que matou 49 pessoas na Nova Zelândia transmitisse o massacre ao vivo em seu perfil — sem que ninguém tirasse a live do ar.
Além disso, as plataformas do Instagram e do Facebook chegaram a ficar fora do ar ou apresentar falhas por 14 horas em diversos países, incluindo o Brasil.
A discussão sobre a nova era do Facebook também surge em meio a um dos maiores êxodos de executivos desde que a empresa foi criada. Chris Daniels, que saiu nesta semana junto com Cox, havia assumido a direção do WhatsApp após a saída do criador da ferramenta, Jan Koum, em abril do ano passado. Koum se juntou ao Facebook após vender o WhatsApp para a empresa em 2014, mas há rumores de que sua saída foi resultado de divergências com Zuckerberg sobre o futuro do aplicativo de mensagens.
Dentre os nomes mais conhecidos, outros que deixaram o Facebook foram os criadores do Instagram, Kevin Systrom e Mike Krieger, em setembro do ano passado — o Instagram foi vendido para o Facebook em 2012. O diretor de segurança Alex Stamos, no cargo desde 2015, também saiu em agosto.
Por fim, a semana também marcou o aniversário de um ano do escândalo da Cambridge Analytica, nesta sexta-feira, 15. O episódio revelou o vazamento de dados privados dos usuários do Facebook para terceiros, trazendo uma grande discussão sobre privacidade e fazendo o próprio Zuckerberg ter de comparecer ao Senado americano para prestar esclarecimentos.
A transição para menos conteúdo público e mais conversas privadas é uma forma de Zuckerberg buscar melhorar a imagem ruim que ficou do episódio. Mas mesmo uma conversa guardada a sete chaves causa controvérsias, uma vez que mensagens criptografadas podem abrir espaço para ação de criminosos. Que o digam os executivos brasileiros da empresa, frequentemente obrigados a prestar esclarecimentos a juízes que tiram o WhatsApp do ar por demandar informações de conversas criptografadas.
Talvez o novo modelo do Facebook ainda não consiga fazer jus à mensagem que Cox publicou em seu perfil: “como seus criadores [da ferramenta], devemos nos esforçar para entender seu impacto — todo o bem, todo o mal — e tomar a tarefa diária de colocá-la no caminho do que é positivo e bom”. Mas com feed ou sem feed, cabe a Zuckerberg e aos executivos que sobraram o desafio de dar novo rumo à desgastada imagem da empresa.
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