Menos modelos populares como Argo, Palio ou Uno e mais SUVs da Jeep. Esse deve ser o cenário dos lançamentos do grupo FCA, que desde 2014 une as montadoras Fiat e Chrysler. As palavras são do presidente do grupo, Mike Manley, que ao anunciar os resultados do segundo trimestre na semana passada, afirmou que a fabricante de SUVs é “a chave para nós em termos de lucratividade”.
Criada na década de 1940 para servir ao exército dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, a Jeep já mudou de dono algumas vezes — da fabricante americana Willys Overland para a Chrysler em 1987 e, depois, para a FCA –, mas segue ganhando os civis.
Com 1,57 milhão de unidades vendidas, os carros da Jeep respondem por um terço das vendas do grupo FCA. No segundo trimestre, foram os principais responsáveis por fazer a FCA apresentar bons resultados e conseguir desviar o foco da fracassada tentativa de fusão com a Renault, barrada pelo governo francês.
O destaque foi a boa performance da Jeep na América do Norte, o que puxou a margem operacional na região para 8,9%, ganhando quase um ponto percentual, ainda que com queda no volume de vendas (em 12%) e faturamento estável. O lucro operacional na América do Norte foi 1,57 bilhão, mais do que em todas as outras regiões combinadas.
Assim, com modelos queridos pelo público e boa margem de lucro, a Jeep é a aposta do grupo FCA para atingir a meta de aumentar sua margem operacional dos atuais 5% para mais de 9% nos próximos quatro anos.
“A marca Jeep se consolidou com a ideia de que um utilitário esportivo não precisava ser rudimentar, gastar 1 milhão de litros de combustível”, diz Vitor Klizas, presidente para América do Sul da consultoria Jato Dynamics. “O Jeep une as características de ter robustez, ser confortável e tecnológico, mas tudo sem extremos, com um pacote equilibrado.”
Dos EUA para o mundo
Nesse cenário, a Jeep deve cada vez mais roubar o protagonismo dos modelos de Fiat e Chrysler, marcas-mãe da FCA e que serão cada vez menos parte do portfólio e dos novos lançamentos.
Em evento na Itália no ano passado para anunciar os planos da temporada 2018-2022, o então presidente do grupo FCA, Sergio Marchionne (que faleceu em julho do ano passado), afirmou que os lançamentos dos próximos anos serão focados na Jeep e nas marcas Ram, Alfa Romeo e Maserati. Das marcas do grupo FCA, essas quatro representam 65% do faturamento, e a ideia é que cheguem a 80% em 2022.
Marchionne foi um dos responsáveis por transformar a Jeep, até então uma marca majoritariamente americana, em um produto de desejo global. Embora mercados como Ásia e Europa ainda sejam pequenos para a Jeep perto dos Estados Unidos, as vendas da marca mais que triplicaram na última década.
Manley, o atual presidente e que até então era responsável pela Jeep, assumiu pouco mais de um mês depois daquele evento na Itália. Mas os planos parecem seguir na mesma linha do antecessor, com o crescimento da Jeep nos Estados Unidos e no resto do mundo sendo uma das principais metas.
A ideia da fusão com a Renault buscava, sobretudo, tornar a nova empresa forte o suficiente para investir em tecnologia — setor no qual o mercado considera que tanto a FCA quanto a Renault-Nissan estão defasadas. Com a Jeep na dianteira, Manley deve, agora, correr atrás do prejuízo sozinho. Uma das principais novidades é que boa parte da frota da FCA deve ganhar versões híbridas até 2022, isto é, com motores tanto elétricos quanto de combustão.
Presença no Brasil
O Brasil também vem sendo um dos destaques nas vendas da Jeep e do grupo FCA nos últimos anos, salvando o fraco desempenho do resto da América do Sul. Embora o mercado brasileiro seja um dos últimos onde carros da marca Fiat ainda resistem, a Jeep mostra que a empresa ainda terá muito futuro por aqui.
No Brasil, os carros da Jeep começaram a ser fabricados na década de 1950, e hoje lideram a venda de SUVs, ainda que com carros mais caros do que a maior parte da concorrência. Dentre os mais de 40 modelos ofertados no mercado brasileiro, a marca do grupo FCA detém, atualmente, 22% de participação com o Jeep Renegade e o Jeep Compass.
No ano passado, foram mais de 106.900 unidades vendidas do Renegade e do Compass, com volumes inexpressivos dos importados Wrangler e Grand Cherokee. “No Brasil, temos o maior market share da Jeep no mundo”, disse em julho a EXAME o gerente de marketing de produto da Jeep para América Latina, Alexandre Aquino.
A concorrência chegou tarde, mas chegou, e pode atrapalhar a Jeep em mercados como Brasil e Estados Unidos. “O mercado para esses veículos se abriu e agora todo mundo quer lançar SUVs”, disse o analista Philippe Houchois, da Jefferies LLC, ao jornal The Wall Street Journal.
No Brasil, os utilitários esportivos já têm 25% do mercado, e concorrentes como Honda-HRV, Nissan Kicks, Hyundai Creta e o recém-lançado Volkswagen T-Cross podem ameaçar o domínio da Jeep.
O ano de 2015 foi um dos principais marcos da Jeep no Brasil, e contou com lançamento do Jeep Renegade, no segmento de SUVs compactos, somado à construção de uma fábrica em Goiana, em Pernambuco, para a produção de seus veículos. Agora, o Polo Automotivo de Goiana, de onde saem atualmente Renegade, Compass e Toro, vai receber 7,5 bilhões de reais até 2024, segundo informou Antonio Filosa, COO para América Latina, em evento em maio.
O investimento faz parte de um pacote de 16 bilhões de reais previstos para a expansão das atividades no Brasil, incluindo também a fábrica de Betim (MG). Entre os novos produtos, que totalizarão 15 (da Jeep e de outras marcas), estão atualizações do Toro e do Compass, um inédito SUV da Fiat (o Fastback) e uma versão de sete lugares do Compass. Até agora, nenhum deles um carro popular.
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