A aparente trégua na queda de braço entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durou poucos dias. Nesta semana, a incerteza sobre sua permanência como chefe da pasta está de novo no radar.
Ainda não há definição oficial, mas a escalada de tensão voltou aos holofotes. Bolsonaro, inclusive, começará a receber nesta quinta-feira, 16, cotados para sucedê-lo na pasta ao passo que o vírus avança no país. Hoje, o Brasil deve atingir os 30.000 casos confirmados da covid-19. As mortes já passam de 1.700.
O conflito mais recente entre o ministro e o chefe do executivo envolve o pedido de demissão do Secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira. Servidor do ministério da Saúde há 16 anos, ele solicitou exoneração na manhã de ontem.
No fim da tarde, no entanto, Mandetta disse em entrevista coletiva que negou o pedido de demissão de Oliveira: “Entramos no Ministério [da Saúde] juntos, estamos no Ministério juntos e sairemos do Ministério juntos”.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a decisão foi interpretada por deputados da comissão externa que analisa propostas para o combate à covid-19 como um movimento de afronta à vontade de Bolsonaro. Oliveira é um dos principais responsáveis por desenhar as medidas de combate à pandemia e isso inclui recomendações de isolamento social, amplamente criticadas pelo presidente.
Na entrevista coletiva de ontem, Mandetta adotou um tom de despedida e admitiu que há um descompasso em relação ao que defende a equipe técnica da Saúde e o presidente.
Ele fez críticas aqueles que se afastam das evidências científicas e afirmou que o trabalho da pasta é pautado em três pilares: defesa da vida, do Sistema Único de Saúde e da ciência. “Esse caminho, claramente, não tem ressonância para que seja conduzido desta maneira”, afirmou.
Há três semanas, o ministro vem passando por um processo de fritura. O principal embate com o presidente é a defesa das medidas de isolamento social como sendo as mais eficazes para evitar um colapso no sistema público de saúde.
Na semana passada, ele chegou a dizer que iria deixar de confrontar Bolsonaro, mas isso não se concretizou. A gota d’água para sua demissão teria sido uma entrevista concedida por Mandetta ao Fantástico do último domingo, em que criticou “quem fura o isolamento”. Na entrevista, ele falou que o brasileiro não sabe “se ouve o presidente ou o ministro”. A frase teve repercussão negativa no Palácio do Planalto e a aliados Mandetta admitiu que foi “infeliz” em sua colocação.
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