Tão logo o ministro Sergio Moro pediu demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, na última sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros receberam mensagens de dirigentes partidários do chamado centrão — bloco da Câmara que reúne legendas como PP, PL, Republicanos, PSD e PTB — parabenizando o governo pela saída do ex-juiz da Lava -Jato . Foi o resultado das iniciativas de aproximação entre Bolsonaro e figuras batizadas de “velha política”, tanto pela longevidade na carreira, quanto pelas denúncias e investigações criminais contra elas.
Bolsonaro fez acenos a lideranças do centrão nas últimas semanas, abrindo espaço no seu governo para indicações do bloco. O presidente também se aconselhou com dirigentes ligados ao centrão, como o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira (PI) e o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), para quem gravou até um vídeo em tom amistoso. A aproximação tem o objetivo de construir uma base no Congresso Nacional, ponto frágil do governo desde o início da atual legislatura, em janeiro de 2019, e que foi aprofundada em meio ao racha no PSL — sigla abandonada pelo presidente em outubro passado — e à perda de popularidade de Bolsonaro nas ruas, segundo pesquisas de opinião.
Lira, aliás, é visto como um dos candidatos favoritos de Bolsonaro para suceder Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Câmara. Segundo aliados do presidente, veio de Lira a ideia de devolver ao Palácio do Planalto as negociações sobre os comandos dos cargos do governo.
No passado, os então articuladores do governo Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e Joice Hasselmann (PSL-SP) distribuíram os cargos em reuniões na casa de Maia. Agora, o governo volta a redistribuir os mesmos postos, mas em negociações dentro do Palácio do Planalto, em movimento que tem o objetivo de enfraquecer o presidente da Câmara. Lira tenta se fortalecer na disputa pelo comando da Casa e enfraquecer o nome apoiado por Maia, de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
O alinhamento de Bolsonaro a políticos do centrão, porém, abre um flanco na narrativa adotada pelo presidente de ser um político “contra o sistema” e intolerante à corrupção. Líderes que vêm mantendo contato com Bolsonaro, como o deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP), o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o presidente do PSD, Gilberto Kassab, tiveram amplo trânsito nos governos do PT e do MDB nos últimos anos.
— Estou lutando contra o establishment. Continua não sendo fácil, mas hoje em dia já conto com muitos parlamentares dentro do Congresso que comungam desta tese, de vários partidos — disse Bolsonaro em pronunciamento na sexta.
Após o discurso, uma das manifestações de apoio veio do ex-deputado Roberto Jefferson, cassado em 2005 por conta do mensalão e atual presidente nacional do PTB. Jefferson elogiou a demissão de Moro e afirmou que o ex-ministro cometeu uma “traição” a Bolsonaro.
Novos aliados do presidente
- Roberto Jefferson
Presidente nacional do PTB. Denunciou o esquema de compra de apoio de partidos no Congresso Nacional que ficou conhecido como “mensalão”. Foi condenado pelo STF a sete anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em 2018, foi denunciado novamente pela PGR, desta vez por montar esquema concessão fraudulenta de registros sindicais no Ministério do Trabalho. A denúncia foi recebida pela Justiça Federal do Distrito Federal. O processo ainda está em tramitação.
- Valdemar da Costa Neto
Foi condenado a sete anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo STF no caso do “mensalão”. Ele foi acusado de receber R$ 8,8 milhões em troca do apoio do extinto PL (atual PR) ao governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
- Ciro Nogueira
O presidente nacional do PP, Ciro Nogueira (PI) é senador e um dos principais articuladores políticos do Centrão no Senado. É alvo de quatro investigações que tramitam no STF e é réu em um processo que investiga o chamado “quadrilhão do PP”. Segundo denúncia, ele faria parte de uma organização que desviou R$ 390 milhões da Petrobras pagos por empreiteiras.
- Arthur Lira
O deputado Arthur Lira (PP-AL) é um dos principais cotados para assumir a presidência da Câmara dos Deputados quando Rodrigo Maia (DEM-RJ) terminar o seu mandato. Ele é réu em dois casos que tramitam no STF. Num deles, é acusado de fazer parte do “quadrilhão do PP”, assim como Ciro Nogueira. Em outro, é acusado de ter recebido R$ 106 mil em propina para manter apoio político ao ex-presidente de uma estatal.
- Gilberto Kassab
Gilberto Kassab foi prefeito de São Paulo, ministro das Cidades durante a gestão de Dilma Rousseff (PT) e ministro da Ciência e Tecnologia de Michel Temer (MDB). Ele é o atual presidente nacional do PSD. Kassab réu em duas ações que tramitam na Justiça de São Paulo. Em uma delas, é acusado de ter recebido R$ 21 milhões da Odebrecht. Ele também é investigado em caso referente a delações de executivos da J&F. Segundo eles, Kassab recebeu R$ 58 milhões em vantagens indevidas pagas pela companhia.
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