‘As ruas se tornaram o novo ator da vida política argelina’, diz especialista

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GENEBRA – A
renúncia do presidente argelino
Abdelaziz Bouteflika, depois de 20 anos de poder e de semanas de protesto, deixa a transição política no país nas mãos de dois atores, o povo e o Exército, avalia um especialista. O Exército precisará evitar qualquer passo em falso, frente a uma população que recentemente se insurgiu e conquistou uma nova força política, explicou Hasni Abidi, diretor do Centro de Estudos e Investigação sobre o Mundo Árabe e Mediterrâneo de Genebra.

 

O que acontece na Argélia depois da renúncia do presidente Abdelaziz Bouteflika?

A saída de Bouteflika deixa o caminho aberto para dois atores, as Forças Armadas e as ruas da Argélia. A renúncia mostra a quebra de confiança entre as Forças Armadas e a Presidência, após vários anos de aval militar a Bouteflika e de endosso civil aos militares. É uma primeira vitória para o Exército, mas não é definitiva, já que a transição política é o desafio mais importante.

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As ruas se tornaram o novo ator da vida política argelina. Elas não vão parar por aí. Elas pedirão que esta renúncia seja acompanhada por mudanças políticas. O Exército corre o risco de perder o prestígio se der passos em falso durante a transição. Pouco se sabe sobre as suas intenções em relação à administração do período pós-Bouteflika.  O atual governo manterá a idéia do presidente Bouteflika de uma “conferência nacional inclusiva” ou tem seu próprio roteiro? Não se sabe.

Qual processo de transição você vê que está surgindo?

O Exército quer evitar o vácuo e confiar as rédeas do país a um presidente que será responsável por dirigir a transição. Esse me parece ser o seu plano. A instituição militar vai querer ficar por cima na disputa, mas não tem as habilidades necessárias para lidar sozinha com essa transição política. O prazo é curto demais para propor algumas reformas do código eleitoral. Ao mesmo tempo, uma forte vontade política pode levar à eleição de um presidente por sufrágio universal e eleições livres. Eleições presidenciais são menos complicadas do que legislativas.

Que alternativa política e quais atores podem surgir agora?

Há políticos interessados no cargo [de chefe de Estado], todos aqueles que já foram candidatos em eleições anteriores, como por exemplo Ali Benflis (ex-primeiro-ministro e ex-rival de Bouteflika). O advogado Mustafa Bushashi é muito popular, e sua declaração em que saúda a posição do Exército pode tranquilizar as Forças Armadas. Todos os partidos políticos foram esmagados por Buteflika, completamente excluídos da cena política ou minados por dentro pelo regime. Mas o despertar democrático do povo lhes oferece  uma oportunidade importante para agir em conjunto e fazer uma mudança. Eles podem se tornar em partidos importantes.

Como isto pode acontecer?

Uma nova sociedade civil está sendo construída e isso é um forte sinal para os partidos políticos, porque a rua não é uma proposta política. É importante que aqueles que chegam ao poder, mesmo que temporariamente, tentem negociar, façam compromissos para evitar ajustes de contas ou um descarrilamento desse processo pacífico.



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