As eleições brasileiras de 2018 tornaram evidente que o empreendedorismo deixou de ser uma palavra da moda e passou a ser uma realidade. Mas engana-se quem pensa se tratar de um movimento exclusivo do setor produtivo. Temos testemunhado ações vitoriosas, também no campo do empreendedorismo social e político.
Seja pela falta de espaço no mercado formal ou em razão do contingente de jovens e adultos com acesso amplo à tecnologia, o país vive um período de inovação, renovação e busca incessante por novos nichos e oportunidades.
Desenvolver mecanismos criativos para superar entraves ou mesmo meros incômodos é o segredo do sucesso de quem empreende. No campo da política, o sintoma mais evidente entre os eleitores brasileiros é a desconfiança de tudo que vem do Estado; são descrentes da classe política em geral, em decorrência da corrupção; do nepotismo; da fraude eleitoral, nas suas diversas formas; da infidelidade partidária; do mau uso de verbas públicas; do corporativismo, entre tantos outros desvios de conduta.
Os primeiros sinais do empreendedorismo aplicado à politica ficaram evidentes em 2011, com o surgimento de novos partidos, como o Partido Novo e a Rede Sustentabilidade. Em seguida, movimentos políticos como o Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua (VPR) e grupos com pautas diversas ganharam força e se consolidaram com a crescente exposição dos seus idealizadores em redes sociais e a adesão da população às manifestações e atos públicos.
Nesse mesmo passo, o fim do financiamento privado de campanhas constituiu-se em um importante divisor de águas, incentivando o ingresso de novos nomes na corrida eleitoral de 2018, como postulantes de cargos nos Poderes Executivo e Legislativo e alternativas legais para viabilizar economicamente as candidaturas.
Movimentos suprapartidários como Agora!, Acredito, Livres e centros de formação de novas lideranças, como o RenovaBR, surgiram da insatisfação generalizada daqueles que, se valendo do seu espirito empreendedor, querem ser protagonistas de suas escolhas. Nos maiores colégios eleitorais do país, diversos candidatos apoiados pela RenovaBR sensibilizaram o eleitor na disputa por assentos no Congresso Nacional e nas Assembleias, inaugurando a bancada da renovação.
Outra prova dessas mudanças, capitaneadas por uma lógica empreendedora, é a verdadeira restruturação da vida política nacional. Aplicativos gratuitos para escolha de candidatos como o Match Eleitoral e o Tem Meu Voto apoiaram escolhas de mais de um milhão de eleitores. Além disso, ferramentas para acompanhar a atuação de parlamentares e conhecer o perfil dos eleitos, como Meu Mandato, Ranking dos Políticos e Poder do Voto, foram bem recebidos pelos eleitores. Sites e serviços de checagem de notícias falsas, as famosas fake news, se multiplicaram e passaram a fazer parte da vida do brasileiro.
O percentual de novos deputados e senadores eleitos no último pleito superou as expectativas, a ponto da bancada da renovação no legislativo estadual e federal (2019-2022) merecer o mesmo destaque de outras tradicionais, como a evangélica e a do agronegócio.
Mandatos coletivos, como a das deputadas estaduais de São Paulo e Pernambuco, mandatos abertos e participativos, como aqueles propostos pela maioria dos políticos formados pelo RenovaBR, e maior critério na escolha dos suplentes, além da adoção de processos transparentes para seleção de assessores parlamentares, indicam que o empreendedorismo político é um caminho sem volta.
Em 2018, a renovação do Congresso Nacional foi de 47,3% na Câmara dos Deputados e de 85% no Senado Federal. Esse índice, o maior em 20 anos, foi, em larga medida, inspirado no desejo da população de resgatar os ditames de seu destino. De certa forma, foi uma reação à percepção de que a autoridade constituída se tornara incapaz de oferecer soluções aos desafios do Brasil com seus métodos tradicionais e comprovadamente ineficazes.
A ideia de que o eleitor não está atento ao dia a dia da vida pública no estilo “nem me lembro em quem votei” está ficando para trás e dando lugar a um modelo que lembra o da iniciativa privada, em que o acionista cobra dos gestores desempenho para seu investimento. Neste novo padrão, esperamos imprimir ferramentas de acompanhamento permanente do comportamento dos parlamentares que nos representam no cenário político.
Os dividendos colhidos pelo empreendedorismo político nem devem ser mensurados pelas vitórias eleitorais, ainda que estas indiquem a disposição da população à mudança. Eles serão percebidos no longo prazo, à medida que o trabalho bem feito de políticos selecionados e preparados começar a dar frutos.
Empreender exige mudança. Nesse novo ambiente, os problemas cedem protagonismo às soluções. São preteridas formalidades institucionais vazias e ganha força uma linguagem direta, corporativa e mais eficaz.
Maria Pia Bastos-Tigre é advogada e Eduardo Mufarej é fundador do RenovaBR