Apagão derruba 91% das conexões com a internet da Venezuela

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CARACAS – A luz começava a voltar de forma intermitente na Venezuela na madrugada desta quarta-feira, quando um novo blecaute de vastas proporções atingiu o país às 5h da manhã. O novo apagão atingiu grande parte da capital, Caracas, e vários estados, e derrubou a internet em quase todo o país.

A extensão do apagão pode ser visto num gráfico produzido pela Netblocks.org, que rastreia interrupções e desligamentos na internet em diferentes países, em meio à falta de informações fornecidas pelo governo de Nicolás Maduro, relata a Bloomberg. O grupo calcula que 91% da Venezuela perdeu a conexão com a internet, um índice só registrado no início deste mês, durante o longo blecaute enfrentado pelo país e que durou uma semana.

Desde segunda-feira à tarde, quando a energia caiu, as autoridades do país tentam sem sucesso restaurar o serviço, interrompido por causa de um incêndio no maior complexo hidrelétrico do país.

O fornecimento de eletricidade voltou intermitentemente por horas em pelo menos metade dos 24 estados do país, até o novo apagão. Esta quarta-feira é o segundo dia sem aulas e nem trabalho, enquanto se aguarda a restauração do serviço.

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— Eu tenho amigos fora Caracas que estão há mais de 30 horas sem luz. Acho que desta vez será pior do que o primeiro apagão— disse Julio Barrios, um contador de 60 em Caracas, referindo-se à enorme queda de energia enorme no início de março, que deixou uma grande parte do país na escuridão por quase uma semana.

Barrios disse acreditar que a falta de manutenção é a principal causa dos apagões e não “ataques terroristas”, como diz o governo.

— Há muitas pessoas que querem trabalhar, mas não há transporte. O país está paralisado — acrescentou ele em uma área comercial da capital que parecia deserta.

A falta de eletricidade também afetou o serviço de água potável, deixou os hospitais sem energia elétrica e gerou o colapso do setor bancário eletrônico, vital devido à escassez de dinheiro em um país com hiperinflação.

Em Caracas e nas principais cidades do país, lojas, bancos e instituições permaneceram fechados pelo segundo dia consecutivo. O metrô e as ferrovias não ofereciam serviços, de modo que os ônibus ficaram sobrecarregados.

O médico Julio Castro, da ONG “Médicos para Saúde”, disse no Twitter que até terça-feira à noite mais de metade dos 21 principais hospitais públicos do país não tinha luz e operava com geradores de energia, embora, em pelo menos dois casos, eles não tenham funcionado.

O blecaute também afetou as operações no principal terminal de exportação de petróleo do país, José. O restante da indústria petrolífera, vital para a economia do país, não relatou falhas, porque tem seu próprio abastecimento.

Na terça-feira, o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, indicado pela Assembleia Nacional Constituinte, anunciou a abertura de uma investigação criminal e a nomeação de três promotores públicos para esclarecer a suposta nova sabotagem elétrica do que considera “fatos criminosos” .

Nesta quarta-feira, o ministro da Comunicação e Informação, Jorge Rodríguez afirmou que o governo “investiga as razões da falha”, e que continua trabalhando para corrigir os erros.

— Às 9h da manhã conseguimos energizar parte da capital. Ontem, terça-feira, a maior parte do território nacional podia desfrutar do serviço elétrico. Hoje (quarta-feira) às 5h04m da manhã, porque não conseguimos colocar o equipamento danificado pelo ataque em operação, ocorreu uma falha em uma linha — afirmou.

O governo de Nicolás Maduro atribuiu o apagão de 7 de março a um “ataque cibernético” ao sistema de controle da hidrelétrica de Guri, que fica no estado de Bolívar, próximo ao Brasil, e é responsável pelo abastecimento de 80% do país. Agora,  segundo Rodríguez, houve  um incêndio criminoso que atingiu “o centro de carga e transmissão” de Guri.

A hipótese de uma sabotagem é tida como improvável por especialistas, convicção reforçada porque o governo disse após o blecaute do começo do mês que disponibilizaria militares para proteger suas plantas elétricas. Estudiosos em energia argumentam que as interrupções do abastecimento elétrico são o produto da deterioração do sistema, após anos de corrupção e de falta de manutenção.

—  As causas que o ministério alega não são verdadeiras, as falhas são por falta de manutenção — afirmou ao GLOBO o consultor de energia José Aguilar, citando fontes que trabalham para o sistema. —  A Venezuela passa pelo uso excessivo de sua infraestrutura, que não tem manutenção.

Aguilar acrescenta que a demora para restaurar o sistema depois do blecaute de 7 de março levou a “muitos erros, que danificaram transformadores, a infraestrutura e torres de transmissão”.  Segundo ele, as usinas termelétricas que deveriam substituir a geração hidrelétrica em casos como esses estão tão mal conservadas que podem fornecer pouco mais de 10% de sua capacidade.



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