Aos 85 anos, Dorival vende strudel para pagar as contas na quarentena

Equilibrar as finanças na quarentena não é uma tarefa fácil para muitos paulistanos. Com a chegada da pandemia, por exemplo, a família Bentivegna viu sua renda sofrer uma queda. Desde 2017 eles encontraram em uma receita de origem austríaca a salvação para o equilíbrio das contas: o strudel (sobremesa austríaca de maçã).

Dorival Bentivegna, de 85 anos, é o responsável pela mágica na cozinha: ele aprendeu a receita há quarenta anos, quando trabalhou com uma austríaca que o ensinou a fazer o quitute. Depois da pandemia a família passou a adotar um sistema de frete gratuito. Eles já entregavam o produto cobrando uma taxa a mais pelo transporte, mas a nova modalidade garantiu a volta do antigo patamar de vendas.

“Toda sexta-feira levamos para diferentes regiões. Semana passada foi no Morumbi e no Real Parque. Nesta próxima sexta (24) será no Higienópolis e Itaim Bibi”, explica Maristela, 55, uma das filhas de Dorival. Eles divulgam pelas redes sociais quais bairros serão visitados em cada semana, e passam a receber as encomendas, contando principalmente com a divulgação por uma linha de transmissão no WhatsApp. “A quarentena mudou o nosso sistema. Vamos até o cliente e a gente se caracteriza [máscara, álcool em gel] para não ter problema com o vírus”, diz Dorival.

O “vamos”, no caso, é para Maristela e também Rejane, 60, outra filha: “fico em casa, enjaulado”, brinca o idoso. Além do strudel, carro-chefe da cozinha na casa do Butantã, Zona Oeste, a família também elabora outros itens: cannolis, pudins, tortas salgadas, quiches, merengues, tiramisù…

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Em 2018 a Vejinha escreveu sobre o seu Dorival. Na ocasião a repórter Mariana Rosário, que sugeriu que essa história deveria ser recontada, conversou com o idoso de figura simpática, que fez sucesso nas redes sociais com os anúncios para as receitas. Desde aquele tempo, a família perdeu um membro: Zenaide, a esposa de Dorival, faleceu há um ano e meio.

“Minha mãe que começou com tudo isso. A gente participa faz 35 anos de uma feira aos domingos na Praça da República, vendendo doces”, conta Maristela. Com a pandemia, claro, a feira foi suspensa. Ex-bancária, ela ficou desempregada há quatro anos, e foi quando o negócio ganhou um impulso. “Precisava pagar o plano de saúde deles [os pais], e tínhamos que aumentar a renda”, conta ela, que passou a divulgar massivamente os itens na internet. Em 2017 que Dorival decidiu tentar comercializar o seu strudel, junto com as outras receitas que eram feitas pela esposa.

Os pedidos para a família podem ser feitos pelo WhatsApp: 11 99571-9128. O strudel, por exemplo, pode ser comprado em variados tamanhos : o chamado de baby tem 23 centímetros de comprimento e 10 de largura, por 60 reais; o família, 45 de comprimento por 10 de largura, e custa 90 reais.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 29 de abril de 2020, edição nº 2684.

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