Anúncios no Facebook são usados como armas em campanhas eleitorais

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Em 2018, mais precisamente nas semanas que antecederam a contestada eleição no estado americano da Virgínia, a página do Facebook “Wacky Wexton Not” (“Maluca Wexton Não”, em tradução livre) publicou um anúncio que mostrava a candidata democrata ao Congresso, Jennifer Wexton, ao lado de tropas nazistas. Outros a rotularam de “socialista do mal” e a associaram a uniformes nazistas: “Wexton e suas camisas marrons modernas. Eles são maus. Eles odeiam a América”.

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Quem gastou US$ 211 nos 24 anúncios anti-Wexton? Não é possível saber. Eles foram “pagos por um cidadão americano amante da liberdade que exerceu o direito da lei natural, protegido pela 1ª e pela 2ª Emendas”. Entretanto, não há nada neles — ou na nova biblioteca de anúncios do Facebook, teoricamente projetada para informar financiadores de anúncios políticos — que forneça informações pessoais sobre a pessoa ou grupo por trás do ataque a Wexton, que venceu a eleição.

Esses anúncios são financiados por “Dark Money”. A expressão (que significa dinheiro escuro, em tradução literal) é uma referência a fundos usados em campanhas eleitorais que não têm sua origem revelada. Agora, em direção à eleição presidencial americana de 2020, esses anúncios continuarão a representar uma arma política poderosa — que já é usada pelo Partido Republicano e pela mídia conservadora, em particular, para impulsionar uma agenda de direita e reeleger Donald Trump.

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“Você pode ter um impacto enorme, gastando muito pouco”, afirma Anna Massoglia, pesquisadora do Centro de Política Responsiva (CPR), que monitora os fundos escusos em anúncios no Facebook. Mais de US$ 600 milhões foram gastos em anúncios políticos na rede social desde que a plataforma “tornou os dados públicos”, em maio de 2018. Ainda não há um número claro do quanto foi gasto em anúncios desse tipo, embora o CPR e outros grupos estejam no processo de contabilização.

Categorias de anúncios Dark Money

Os mais comuns podem ser colocados em duas categorias. Um delas inclui anúncios políticos tradicionais, de nomes familiares, de organizações sem fins lucrativos, como Judicial WatchAmerica First Policies (de direita) ou Planned Parenthood (de esquerda). Esses são tipicamente vinculados à já conhecida classe política local. O problema é que, embora os nomes das organizações sem fins lucrativos estejam anexados aos anúncios, seus doadores não são revelados.

Outros, como os anúncios da página “Wacky Wexton Not”, podem ser lançados por qualquer indivíduo ou grupo, local ou estrangeiro. As regras do Facebook exigem que os administradores de páginas políticas forneçam identificação governamental para que possam ser verificados. Contudo, nada impede interesses estrangeiros de contratarem um comprador de anúncios com documento de identificação dos EUA ou de uma empresa afiliada no país. Além disso, a rede social protege seus anunciantes e não divulga informações pessoais.

“Mesmo que você seja obrigado a colocar algo nas isenções de responsabilidade, isso não é significativo. Você não sabe o nome de quem está escrevendo o texto”, diz Massoglia. A direita e a esquerda também usam anúncios Dark Money para impulsionar sua agenda e seu conteúdo. A maioria dessas páginas são pequenas operações que administram várias outras páginas do Facebook.

Geralmente, elas são centradas em torno de uma identidade. “À direita, a identidade é ‘conservadora'”, segundo Laura Edelson, pesquisadora da Universidade de Nova Iorque, que está por trás do Projeto de Transparência Política em Anúncios. “O que eles realmente tentam fazer é obter seu endereço de e-mail. Eles estão criando listas.”

Entre essas operações, há a I Love My Freedom. Ela envia anúncios para atacar políticos democratas, como Nancy Pelosi, e tenta solicitar nomes de usuários e endereços de e-mail. Suas páginas — com nomes como “Exército Patriota do Presidente Trump” e ” Presidente Donald Trump Fan Club” — também vendem moedas Trump de “edição limitada” e outros produtos.

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Outro grupo de páginas do Facebook que estão menos claramente vinculadas incluem o Patriot News Alerts, o Breaking Patriot News, o The Daily Conservative e o The Conservative Institute.

Como funciona

Em 4 de abril de 2019, a página Patriot News Alert enviou cerca de cem anúncios direcionados sobretudo a mulheres com mais de 55 anos, moradoras de Flórida, Texas e Califórnia. Eles mostravam uma foto da congressista Alexandria Ocasio-Cortez com um texto que chamava seu plano Green New Deal não apenas de “louco”, mas de “assustador”. As acusações seguiam a ponto de afirmar que o Green New Deal “proibiria viagens aéreas, livrarias e carros a gasolina, eliminaria a carne, remodelaria todas as casas e garantiria renda a todos os americanos com preguiça de trabalhar”.

Mais ou menos na mesma época, o Breaking Patriot News e o The Daily Conservative dispararam cerca de 85 anúncios muito parecidos. Grande parte deles com segmentação por micrografia de dados demográficos, cuidadosamente selecionados de usuários do Facebook em todo o país.

As páginas gastaram entre US$ 1.660 e US$ 15 mil para comprar os anúncios e obtiveram entre 112 mil e 418 mil impressões. E não há nada nos anúncios que forneça uma ideia de quem pagou por isso. Em sua pesquisa, Edelson descobriu que as três páginas usavam o mesmo anúncio. Além disso, a base de dados públicos do Facebook mostra que elas compartilharam outros conteúdos para atacar Elizabeth Warren e Bernie Sanders.

Clicar em um anúncio revela alguns dos objetivos da rede de páginas: canalizar os usuários do Facebook para blogs de direita — que veiculam histórias pró-Trump e promovem ideias conservadoras. O anúncio direcionado a mulheres com mais de 55 anos na Flórida leva ao PatriotNewsAlerts.com, onde o leitor é incentivado a assinar uma petição “Para dizer ‘Não’ ao Green New Deal”, mas a “assinatura” requer nome e endereço de e-mail.

Um repórter do The Guardian que deu seus dados depois recebeu um e-mail do Patriot News Alerts com um link para um post no blog Patriot News Alert. Não há informações sobre quem administra o blog, mas, ao pesquisar mais a fundo, o jornal descobriu que o site parece estar ligado ao blogueiro conservador Shaun Connell.

Connell assina vários posts como fundador das páginas e o Patriot News Alerts compartilha o mesmo endereço de Connecticut de vários outros blogs. Connell também está por trás do Breaking Patriot News e do The Daily Conservative. Os sites são apresentados com layouts similares e incluem alguns dos mesmos escritores de outros blogs de direita, como o Daily Christian News .

Empurrar o ponto de vista de direita de Connell e direcionar o tráfego para suas páginas parecem ser os intuitos. Não está claro se é o influenciador quem financia os anúncios no Facebook, se há outros envolvidos ou um propósito mais comercial em jogo — algumas páginas vendem os dados que coletam na rede social. Connell não respondeu a um e-mail do The Guardian. As quatro páginas do Facebook da Connell gastaram cerca de US$ 300 mil entre julho de 2017 e setembro de 2018.

Edelson acompanha dezenas de páginas semelhantes à esquerda e à direita e, provavelmente, há muito mais. “A tática começou e foi aperfeiçoada pela direta, mas, uma vez que existe uma tática política como essa, todo mundo vai usá-la, especialmente quando isso é fácil de fazer”, avalia.

Via: The Guardian



Fonte do Artigo

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