A imagem da pequena tricolor Laís, de 7 anos, registrada pelo fotógrafo do GLOBO, Alexandre Cassiano, no Fla-Flu do último domingo, soou como um manifesto pela tolerância. Ontem, ela e o avô rubro-negro, que a carregava nos ombros na foto, entraram em campo à frente dos times.
Ocorre que o ambiente do futebol não anda disposto a se comover com bons exemplos. Bastou a bola rolar para jogadores e comissões técnicas oferecerem a Laís e aos demais 26 mil presentes um espetáculo com muita baixaria e pouco jogo. O técnico Abel Braga passou mal, com pressão alta, e foi para o vestiário mesmo antes de o jogo acabar. Depois, foi encaminhado para um hospital para exames.
O Flamengo ganhou, nos acréscimos, por 2 a 1. Até o gol decisivo surgiu de um pênalti infantil, imagem de um jogo protagonizado por atletas descontrolados, desgovernados, descompromissados com qualquer senso de esportividade. Vai à final da Taça Rio o Flamengo, mas o futebol saiu derrotado.
Tensão com VAR
Sobre futebol, pouco se pôde analisar. O que ficou claro é que não há imagem de televisão, não há câmera que tire dúvidas, não há VAR capaz de modificar o ânimo e a conduta reinantes nos campos do país. Porque, no fundo, o que temos são 22 jogadores, capitaneados por suas respectivas comissões técnicas, dispostos a sabotar o jogo em proveito próprio.
É possível falar em árbitros frouxos. Talvez seja até justo considerar que Marcelo de Lima Henrique não ostente sequer silhueta condizente com um árbitro de elite. Mas a responsabilidade pela brutalidade vista no campo está na falta de educação de rubro-negros e tricolores. Quando o juiz foi observar o monitor para anular o gol de Léo Santos, Abel se aproximou, exercendo a velha pressão — neste momento, segundo os médicos, ele começou a se sentir mal. O preparador de goleiros do Fluminense foi expulso e os jogadores faziam as tradicionais rodas, aos empurrões e ofensas.
Daí em diante, vieram faltas ríspidas, mais discussões e grosserias. Antes do intervalo, Bruno Henrique deu entrada desclassificante em Gilberto e foi expulso. Outros rubro-negros e tricolores poderiam ter ido junto.
No segundo tempo, um pedido de toque de mão fez o banco do Flamengo protagonizar um pequeno show. Após a marcação do pênalti fatal, Ganso ofendeu o quarto árbitro ao pé do ouvido. Gandulas, cheios de pressa enquanto o Flamengo vencia, passaram a atrasar o jogo quando o resultado já era do mandante Fluminense. Um show de horrores, concluído com briga no túnel que leva aos vestiários.
No meio disso tudo, Renê acertou belo chute e abriu o placar. O que houve de jogo teve um Flamengo que permitia iniciativa e posse ao Fluminense. Tenso, o tricolor repetia defeitos e virtudes recentes: tentava trocar passes, jogava no campo rival, tinha coragem; mas voltava a lhe faltar penetração e a recomposição defensiva era falha. Já o Flamengo apostava em estocadas, em jogadas que terminassem rapidamente, ainda mais por ter escalado dois pontas especialistas. Nada muito brilhante de parte a parte, mas a sensação de perigo foi mais rubro-negra no primeiro tempo.
No segundo, com um homem a mais e o resultado desfavorável, era natural que o Fluminense alugasse o campo rival. Tornou-se dono da bola, mas criara pouco até Léo Duarte cometer pênalti, marcado com auxílio do VAR e em meio a novas confusões.
Alarmante para o Fluminense foi não conseguir, mesmo com um homem a mais, ter sequer a bola para controlar um jogo em que o resultado era seu. Seu modelo não se impunha mais, e o Flamengo pressionou. Até Léo Santos atropelar Lucas Silva e Éverton Ribeiro bater o pênalti do 2 a 1. Laís merecia um espetáculo mais nobre.