A operadora de planos de saúde Amil começa a partir de segunda-feira a oferecer consultas virtuais para todos os seus 3,6 milhões de beneficiários. O serviço vai funcionar 24 horas por dia e será focado incialmente no atendimento de pessoas com suspeita do novo coronavírus. O objetivo é evitar a ida ao hospital. “Sabemos que 80% das visitas ao pronto-socorro não deveriam acontecer, são casos simples. A telemedicina resolve boa parte desse problema”, afirmou Daniel Coudry, presidente da Amil, em entrevista à EXAME.
A ideia é que o paciente que estiver com sintomas de gripe ou alguma suspeita de covid-19 entre em contato com a operadora por telefone. O primeiro atendimento será feito na ligação, por um enfermeiro. A depender do caso, o enfermeiro então encaminha o paciente para uma consulta virtual com um médico. Nesse caso, o paciente recebe um SMS com um link para a consulta por vídeo, que dura de 10 a 15 minutos. Caso haja necessidade, o paciente é orientado a procurar atendimento presencial.
A Amil já tinha um atendimento médico por videoconferência desde o final do ano passado. O projeto atendia 160 mil clientes, por meio do Hospital Albert Einstein. Com a crise do novo coronavírus, a operadora adiantou a expansão do serviço, e iniciou um piloto no mês passado, com profissionais diretamente contratados pela operadora. O uso da telemedicina durante a pandemia do coronavírus foi autorizado pelo Ministério da Saúde no dia 23 de março.
Nos atendimentos feitos até agora, mais de 70% dos casos foram resolvidos no primeiro contato por telefone. Os outros 30% foram encaminhados para o atendimento virtual com um médico. Desses, somente 10% a 15% são encaminhados para um atendimento presencial. Durante a consulta virtual, o médico pode encerrar o atendimento, encaminhar o paciente para o pronto-socorro ou ainda para consulta com algum especialista. Também pode emitir um atestado, caso necessário, ou receitar medicamentos, tudo no ambiente virtual.
A operadora colocou 360 médicos e enfermeiros para fazer esse atendimento. Esses profissionais podem trabalhar de casa, consultórios ou clínicas. Com isso, a operadora tem capacidade para fazer até 6.000 atendimentos telefônicos e 1.500 atendimentos médicos virtuais por dia. “Alguns profissionais estavam ociosos por conta da baixa procura que temos tido em ambulatórios. Muitos estão em casa. Estamos direcionando esses profissionais para as consultas de urgência”, afirma Coudry.
De acordo com o executivo, a demanda de pacientes caiu com a pandemia, tanto para consultas quanto nos atendimentos emergenciais. Cirurgias e exames eletivos foram adiados. Com as consultas virtuais, a expectativa é de que os pacientes da Amil procurem ainda menos o atendimento presencial.
“Hoje quem vai ao pronto-socorro é principalmente o paciente com suspeita de coronavírus. Mas, se ele não estiver com o vírus, o risco de se contaminar no pronto-socorro aumenta exponencialmente. Queremos tirar as consultas triviais do hospital”, afirma Coudry. Segundo a Amil, o atendimento virtual temsido bme recebido pelos beneficiários atendidos no projeto piloto.
Passada a pandemia, o investimento na telemedicina pode ajudar a companhia a reduzir custos. “A inflaçao médica tem corroído a capacidade da população em aderir à saúde privada nos últimos anos. Estamos comprometidos em reduzir nossos custos e a telemedicina é uma ferramenta importante para tornar esse serviço mais barato”, afirma Coudry.
Inadimplência e leitos
Ainda não é possível dizer qual será o impacto da pandemia nas receitas da Amil. Na semana passada a Agência Nacional de Saúde disponibilizou 15 bilhões de reais às operadoras privadas de saúde como forma de ajudar no combate ao coronavírus. Uma das contrapartidas para usar os recursos é que a operadora se comprometa a manter a assistência aos beneficiários dos contratos individuais e familiares, coletivos por adesão e coletivos com menos de 30 (trinta) beneficiários até 30 de junho, mesmo em caso de inadimplência.
A Amil diz que aguarda mais detalhes sobre a decisão da ANS e estuda se vale a pena acessar os recursos disponibilizados. A operadora tem uma taxa média de inadimplência perto de 1% e não teve impacto em suas receitas em março. No mês de abril, já percebeu um leve aumento na inadimplência. “Não é nada que nos descabele, mas acende o sinal amarelo. Temos estudados as melhores opções para todos. A operadora de saúde não é banco, mas tem algumas ferramentas de negociação com clientes e hospitais caso haja aumento mais significativo na inadimplência”, diz Coudry.
A operadora não divulga a taxa de ocupação de seus hospitais e leitos de UTI por pacientes com coronavírus. Mas afirma que está em contato com o poder público para colaborar com o SUS (Sistema Único de Saúde) caso necessário. “Em uma situação de emergência, é preciso pensar no bem comum. O setor privado está à disposição do setor público para ajudar dentro das nossas possibilidades”, afirma Coudry.
Entidades ligadas à saúde têm se mobilizado para conseguir que o SUS possa usar leitos de operadoras privadas para atendimento de pacientes com coronavírus. Ainda não há uma definição do governo federal sobre o tema. Uma das possibilidades levantadas é a criação de uma fila única de pacientes que necessitem de atendimento em UTI. Para Coudry, a ideia é “teoricamente boa, mas de difícil implementação”.
Para ajudar o sistema público, a operadora firmou parceria com o governo do Rio de Janeiro e as redes hospitalares D’Or e Ímpar para abrir 110 leitos para o sistema público de saúde no Hospital São Francisco. Em Santos, cedeu para a prefeitura o uso do hospital Vitória, que estava desativado.
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