O susto que Abel Braga levou não é novidade na vida do treinador nem dos profissionais do ramo no futebol brasileiro e no Flamengo. Em 2015, o técnico já havia sofrido uma arritmia, mais especificamente uma taquicardia atrial. Que ocorre naturalmente nos átrios, a parte superior do coração. O mesmo problema levou o técnico Muricy Ramalho a se afastar das atividades em 2016, quando também dirigia o Flamengo. Mas por que Abel não precisa se preocupar com isso agora?
Para especialistas, seria um exagero afirmar que ser técnico de futebol é mais perigoso para o órgão do que outras atividades.
Porém, as pressões que estes profissionais enfrentam favorecem situações como a vivida por Abel Braga. Principalmente para pessoas com maus hábitos alimentares e que não se exercitam com frequência.
— É uma atividade profissional extremamente estressante. Envolve tomada de decisões, têm de gerenciar vários atletas e problemas. Sabem que a carreira depende de resultados, a taxa de demissão é alta. Mas não é uma profissão insalubre, não precisa deixar de exercê-la — explica o cardiologista Claudio Gil, especializado em medicina do esporte.
Segundo cardiologistas, Muricy Ramalho não tinha uma doença estrutural que lhe obrigasse a parar de trabalhar, mas optou por isso devido ao estresse da função. No caso de Abel, também não há recomendação para interromper as atividades, visto que a arritmia é facilmente controlada. Inclusive, há atletas de alto rendimento competindo após lidar com episódios idênticos.
A pequena diferença é que o ex-treinador do Flamengo teve uma fibrilação atrial, enquanto Abel teve o mesmo problema acrescido de um flutter atrial. Durante a fibrilação atrial, os impulsos elétricos são desencadeados a partir de muitas áreas no interior e em torno do átrio, e não somente a partir de uma área única. Já no flutter atrial, a atividade elétrica atrial é coordenada. Assim, os átrios se contraem, mas em uma frequência muito rápida, fazendo com que o impulso não chegue completo aos ventrículos, a parte inferior do coração.
– Não foi exatamente a mesma patologia, mas foi bem parecida sim. Acho que (decisão de aposentar do Muricy) não foi só questão de gravidade ou não, envolve coisas pessoais e da família na decisão, é difícil comparar. Acredito que ele tratando, está estável, teria condição, está trabalhando, não como treinador, mas tocando a vida dele profissional sem problema nenhum – comparou o médico do Flamengo, Márcio Tannure.
Os sintomas causados pelas frequências elevadas são as palpitações e desconforto no peito, que provocam ainda vertigem, falta de ar e tontura, que Abel apresentou no fim do Fla-Flu de quarta-feira. Ele deu entrada no hospital Pró-Cardíaco em Botafogo na madrugada de ontem, chegando de ambulância do Maracanã. Realizou choques elétricos para controlar a arritmia, e hoje fará uma ablação, que consiste em eliminar o tecido do coração que sofreu o estresse através de um cateter inserido no órgão através da virilha.
– Ele chegou com um quadro de arritmia, fez hoje (quinta-feira) uma cardioversão para reverter isso aí e está estável, com ritmo cardíaco normal. Para resolver esse problema de maneira definitiva, foi conversado com ele, com a família, e foi decidido fazer uma ablação amanhã (sexta-feira) à tarde, que é um tratamento definitivo para esse tipo de patologia. Ele já tinha tido isso em 2015, se não me engano, e vem acompanhando desde então. Chegou o momento de tratar, uma vez que faça a ablação é vida normal, não vai impedir nada da prática da atividade como treinador – afirmou o médico do Flamengo.
A recomendação médica é que Abel não comande o time contra o Peñarol, quarta-feira, no Maracanã, pela Libertadores.
Entre as causas desse tipo de arritmia, está exatamente o estresse do cargo de treinador. Sobretudo quando há uma pré-disposição. Outras razões são uma disfunção no átrio e algumas doenças como: doença das coronárias, hipertensão arterial, diabetes, apneia obstrutiva do sono, hipertireoidismo e alguns medicamentos usado para emagrecimento.