SAN FRANCISCO – Os adolescentes são loucos pelo TikTok. Eis o que preocupa o Vale do Silício.
O TikTok é controlado por uma empresa que existe há sete anos em Pequim chamada ByteDance. Ele permite a criação de vídeos curtos e ágeis, que podem ser compartilhados globalmente. Com esse conceito simples alavancando seu crescimento, o TikTok logo se tornou uma das maiores redes sociais do mundo e iniciou a incursão mais direta já feita por uma empresa chinesa até o momento nos domínios do Vale do Silício.
As empresas de internet dos EUA já estão reagindo. Usando imitações, aquisições em potencial e referências não muito sutis à censura na China, os concorrentes do TikTok vêm tentando proteger sua esfera de influência contra o avanço desse serviço. Não tiveram muita sorte até o momento.
Segundo a empresa de pesquisa Sensor Tower, o aplicativo do TikTok foi baixado nos últimos 12 meses mais de 750 milhões de vezes, em comparação com 715 milhões do Facebook, 450 milhões do Instagram, 300 milhões do YouTube e 275 milhões do Snapchat.
No fim do ano passado, o Facebook lançou um clone do TikTok chamado Lasso. Esse aplicativo foi baixado menos de 500 mil vezes, principalmente no México, também segundo a Sensor Tower. No TikTok, muitos vídeos de seu interminável acervo de clipes de 15 a 60 segundos têm centenas de milhares de aprovações; enquanto isso, os vídeos no idêntico Lasso têm em média algumas dezenas.
Os executivos do YouTube também vêm considerando maneiras de imitar o TikTok, incluindo adicionar ao seu aplicativo um programa similar de edição, de acordo com uma pessoa familiarizada com as discussões internas que conversou com nossa reportagem sob condição de anonimato, já que esses planos ainda são confidenciais.
A Google, que é proprietária do YouTube, também discutiu a compra do Firework, um imitador do TikTok direcionado a usuários mais maduros. A informação vem de três pessoas próximas às discussões e que desejam se manter anônimas, já que esses planos ainda são confidenciais. Uma dessas pessoas afirma que a Google se decidiu contra a compra do Firework.
Segundo duas pessoas presentes nas discussões, o Firework, que foi baixado menos de três milhões de vezes, também esteve na mira da Baidu, a maior empresa chinesa de mecanismos de busca, e da Weibo, que controla o equivalente chinês do Twitter. O “The Wall Street Journal” foi o primeiro órgão de imprensa a noticiar o interesse da Google e da Weibo pelo Firework.
Eugene Wei, executivo com longa experiência em empresas de tecnologia e mídia que agora acompanha as indústrias, disse a respeito das grandes empresas de tecnologia: “Estão vendo que a bola da vez é o TikTok e é natural que fiquem preocupados quando qualquer outro aplicativo ganha uma parcela substancial da atenção. Além disso, não há na história recente um aplicativo de consumo que tenha conseguido tanta projeção no mercado.”
Muitos analistas opinam que o aplicativo mais ameaçado pelo crescimento do TikTok é o Snapchat, pois ambos são dirigidos ao público jovem. O executivo-chefe da Snap, Evan Spiegel, argumenta que as duas empresas não são concorrentes.
Segundo ele, o TikTok oferece entretenimento a pessoas desconhecidas, enquanto o Snapchat conecta amigos. Em outubro, durante uma teleconferência de prestação de contas, um analista lhe perguntou se o TikTok era “amigo ou inimigo”. Em resposta, Spiegel afirmou que o TikTok anuncia no Snapchat e também já criou serviços para o aplicativo. “Acho que, no nível mais alto, definitivamente consideramos o TikTok um amigo.”
Em abril, a Snap começou a listar o TikTok como concorrente em suas declarações a órgãos reguladores.
Em julho, Mark Zuckerberg, executivo-chefe do Facebook, disse a seus funcionários que o TikTok “é realmente o primeiro produto de internet para o consumidor criado por um dos gigantes chineses de tecnologia, e está indo muito bem no mundo todo”. O texto aparece em uma transcrição do encontro publicada pela The Verge, uma rede de notícias de tecnologia nos EUA.
Ele observou que o aplicativo é bem aceito entre os jovens americanos e que, na Índia, já ultrapassou o Instagram. “É um fenômeno bem interessante. Temos algumas opções para enfrentar isso.”
O Lasso não é a única defesa do Facebook contra o TikTok. Em setembro, Jane Manchun Wong, uma pesquisadora de aplicativos baseada em Hong Kong, notou um código de computador no Instagram, que pertence ao Facebook, revelando que o aplicativo estava testando um recurso chamado “Clips”. Este permite que os usuários editem vídeos como no TikTok, juntando clipes e adicionando música.
Uma estratégia de sucesso do Facebook é copiar novidades alheias em rápido crescimento. O recurso “Stories” do Instagram, com o qual o usuário pode publicar vídeos curtos e efêmeros, é muito parecido com a principal função do Snapchat.
Zuckerberg sugeriu que o Facebook use esses vídeos curtos do “Stories” como concorrência. No encontro de julho, em resposta a uma pergunta sobre o “plano de ataque” do Facebook contra o TikTok, Zuckerberg disse aos funcionários que o Facebook transformaria o “Stories” em um recurso ainda mais central do Instagram.
E, em outubro, Zuckerberg mencionou as raízes chinesas do TikTok para criticá-lo publicamente. Em um discurso na Universidade de Georgetown no qual ele promoveu o Facebook como uma empresa dos EUA ansiosa por proteger a liberdade de expressão, também disse que “a China está construindo sua própria internet com foco em valores bem diferentes e está agora exportando sua visão da internet para outros países”.
Como evidência disso, citou análises que denunciam os poucos sinais no TikTok sobre os protestos em Hong Kong.
“Enquanto manifestantes e ativistas no mundo todo usam outros serviços, como o WhatsApp, devido à sua eficiente criptografia e sua proteção da privacidade, no TikTok – o aplicativo chinês que cresce mais rapidamente no mundo todo – as menções a esses protestos são censuradas, até mesmo aqui nos EUA. Será essa a internet que todos queremos?”
Josh Gartner, porta-voz da ByteDance, garante que o governo chinês não solicita ao TikTok que censure conteúdo. Além disso, afirma que as políticas de conteúdo do aplicativo são coordenadas por uma equipe nos EUA e não são influenciadas por nenhum governo.
“Já informamos claramente que essas acusações são falsas”, afirmou ele em um comunicado. “É uma tentativa infeliz de Mark Zuckerberg de desviar o escrutínio para um concorrente que ele não conseguiu copiar.”
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