São Paulo – A Volkswagen Caminhões e Ônibus espera receber um impulso com a decisão da Ford de abandonar o mercado de caminhões na América Latina ao mesmo tempo em que não vislumbra ingressar em uma guerra de preços para capturar clientes que ficarão órfãos da rival, afirmou o presidente da companhia, Roberto Cortes, nesta quinta-feira (7).
Na avaliação do executivo, a posição da Volkswagen Caminhões e Ônibus na captura de clientes da Ford no Brasil e no restante da América Latina é favorável diante da semelhança das linhas de produtos das duas montadoras, algo que inclui também fornecedores de componentes comuns entre ambas.
“Temos condição de absorver todo o volume de produção (de caminhões) da Ford hoje”, disse Cortes, em entrevista por telefone. O executivo está em Berlim, onde participa de encontro com o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que viajou ao país para atrair investimentos para o Estado.
Segundo Cortes, na reunião a Volkswagen Caminhões e Ônibus, que tem uma fábrica na cidade fluminense de Resende, reafirmou plano de investimento de 1,5 bilhão de reais até 2021 no Brasil.
A unidade da Volkswagen Caminhões e Ônibus em Resende está com cerca de 60 por cento de capacidade produtiva ociosa e o executivo comentou que a desistência da Ford do mercado latino-americano de veículos pesados dará à companhia de origem alemã “condição de ter bom volume incremental” de produção. Ele evitou fazer projeções precisas.
No ano passado, a Ford teve vendas no Brasil, maior mercado latino-americano de veículos pesados, de 9.314 caminhões, segundo dados da associação de montadoras, Anfavea. Enquanto isso, a Volkswagen teve licenciamentos de 20.242 unidades e a rival Mercedes-Benz 21.153.
Cortes comentou que, incluindo exportações, as vendas da Ford no Brasil corresponderam a cerca de 10 a 15 por cento da capacidade da Volkswagen Caminhões e Ônibus em Resende.
“Não descarto que revendedores estejam tomando ações no sentido de conquistar os clientes Ford. Uma delas é dizer que são bem vindos, outra forma é assegurando o preço do caminhão usado. É muito cedo para a gente falar (em projeções de vendas), mas é óbvio que se quer conquistar cliente não se pode ficar só no discurso, mas isso é mais trabalho dos concessionários”, disse Cortes.
Questionado se a Volkswagen Caminhões e Ônibus pode comprometer margens para conquistar os clientes da Ford ante rivais como a Mercedes-Benz, Cortes afirmou que sua companhia não vai “entrar em guerra de preços. Não vai ser esse ano que vamos entrar. Com essa recuperação econômica é hora de restabelecer níveis de preços que prevaleciam antes dos anos de crise”.
“A Ford tinha política de preço baixo. Isso (desistência da Ford) pode até favorecer o ambiente de preços”, acrescentou Cortes.
Nesta quinta-feira, funcionários da Ford em São Bernardo do Campo promoveram passeata e manifestações contra o fechamento da fábrica, prevista para até o final deste ano.
Cortes afirmou que a Volkswagen Caminhões e Ônibus não tem interesse na fábrica paulista justamente pela ociosidade que já possui em Resende. Ele, porém, comentou que fornecedores de peças em São Paulo para a Ford, como a fabricante de motores Cummins, que monta produtos em Guarulhos (SP), também fornecem para o grupo alemão em Resende.
“Antes de Resende, a gente fazia caminhões na fábrica da Ford. A similaridade (de produtos) é muito grande”, disse Cortes.
Questionado sobre o mercado brasileiro, o executivo avalia que os dados de vendas de caminhões no primeiro bimestre indicam que a “recuperação veio para ficar”. Em janeiro e fevereiro, as vendas de caminhões novos no Brasil subiram 58 por cento sobre um fraco desempenho de um ano antes, para 13.748 veículos.
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