Por muitos anos, o celular com tela dobrável foi uma lenda no mercado de tecnologia. Incontáveis demonstrações em feiras como a CES e a MWC deixavam claro que várias empresas trabalhavam na ideia, que parecia sair direto dos filmes de ficção: um aparelho simples de ser colocado no bolso, mas que pode ser ampliado para aproveitar os benefícios de uma tela ampla.
Os anos passaram e o futuro chegou… e não era bem isso. O Galaxy Fold, primeiro aparelho do tipo da Samsung mostrou uma série de falhas em todos os aspectos; suas primeiras unidades enviadas a jornalistas para testes apresentaram defeitos em uma escala inédita, forçando a companhia a adiar o lançamento em alguns meses para evitar um desastre com o consumidor. No fim, o modelo ainda tinha problemas: ainda era frágil, sua tela externa era minúscula e assimétrica, e o painel interno tinha um recorte enorme para abrigar câmeras.
Com o Galaxy Z Fold 2, a Samsung parece ter reconhecido os problemas do modelo anterior e se proposto a melhorá-lo de todas as formas possíveis. Mas a companhia conseguiu criar o celular dobrável à altura das promessas da última década?
Vamos ver:
É um celular?
Vamos tirar algo do caminho logo de cara. O Galaxy Z Fold 2 não é um celular… pelo menos não como você conhece. O aparelho conta com uma tela externa que foi radicalmente ampliada em comparação com a geração anterior e que permite uma usabilidade próxima à de um smartphone convencional, mas ela não é nem de longe a experiência de uso recomendada para este aparelho.
Isso se deve ao fato de que o Z Fold 2 é grosso demais quando a tela está dobrada para permitir um uso confortável do aparelho. O fato de o painel externo ser extremamente estreito também dificulta alguns usos. Uma situação que aconteceu comigo, que talvez não se repita com todos, é que, como minhas mãos são muito grandes, a digitação no tecladinho espremido ficou prejudicada, forçando várias a pressão dos botões errados.
Se eu fosse definir com mais precisão o que é o Z Fold 2, eu o chamaria de tablet. É um tablet dobrável, e não um telefone. Claramente, a sua principal de uso é com a tela interna aberta, e o pequeno painel externo é apenas um apêndice que está lá pela conveniência e para minimizar a necessidade de ficar abrindo o aparelho a cada cinco minutos. A tela exterior também possibilita alguns usos especiais que serão discutidos mais para frente, mas não se engane: o Z Fold 2 é um tablet antes de ser um celular.
É frágil (mas menos)
A Samsung tomou algumas precauções para tornar o seu celular menos propenso a defeitos: a película protetora que muitos julgaram jornalistas julgaram que poderia ser removida hoje é praticamente impossível de ser removida graças ao uso inventivo das bordas do celular, de uma forma que é inviável puxar as pontas da película.
Ainda assim, o aparelho deve ser tratado como uma flor. Logo ao abrir a caixa, a Samsung deixa claro que o produto deve ser manuseado com muito cuidado. Um plástico adesivo (esse sim, removível) cobrindo todo o aparelho traz uma mensagem bem direta: não aperte a tela com muita força, cuidado com suas unhas e objetos pontiagudos. Os mesmos avisos são exibidos após a configuração inicial para garantir que o usuário captou a mensagem.
Isso porque a tela não usa um vidro convencional para cobrir o painel. Não é difícil entender, já que o vidro comum não dobra sem quebrar. O primeiro Fold utilizava um plástico, enquanto neste modelo, a Samsung optou pelo que ela chama de “Ultra Thin Glass” (“vidro ultrafino”), que apesar do nome, não tem muita diferença prática em comparação com o plástico; ele ainda é capaz de pegar marcas e arranhões com o uso se o aparelho não for tratado com muito carinho. Isso dito, eu já tive a oportunidade de usar alguns celulares com tela plástica que normalmente vieram acompanhados de um desgosto com a sensação de tocar no painel; isso não aconteceu com o Fold, felizmente.
Também é possível notar outros mecanismos usados pela Samsung para tornar o aparelho menos frágil. O mecanismo da dobradiça foi refinado para torná-lo não só mais robusto, mas também para minimizar um risco que foi letal para muitas unidades do primeiro Fold: a entrada de pequenos grãos de poeira que podem danificar de forma permanente o display. Olhando com cuidado, o mecanismo parece sólido e realmente deve dificultar a entrada de detritos.
Telas
É a primeira vez que eu preciso usar a palavra “telas” (no plural) em uma análise de um celular que eu faço, o que por si só já diz o quão pouco convencional é o Galaxy Z Fold 2.
Por fora, o Fold 2 conta com um painel externo bastante estreito, com uma proporção de praticamente 25:9, com uma resolução que, se levarmos em conta o preço do aparelho, é baixa, com 2280×816, ficando dentro do espectro do HD+, sem arranhar o Full HD. Isso, dentro de uma tela com diagonal de 6,2 polegadas.
A Samsung deixa bem claro só pela lista de especificações que essa não é a tela principal. Apesar de a tela externa ter tecnologia Super AMOLED que brilha (com o perdão do trocadilho) na exibição de tons escuros, a resolução baixa e a taxa de atualização de apenas 60 Hz contra a de 120 Hz da tela interna deixa claro que o objetivo é que você não gaste seu tempo assistindo a vídeos ou jogando no painel exterior. É só para dar uma olhada nas redes sociais, conferir as notificações e pronto.
Para qualquer outra, é recomendável utilizar a tela principal, que é a interna. É quando abrimos o Fold 2 que sua verdadeira experiência se revela. O display interno com 7,6 polegadas, com alta resolução, entrando em uma faixa superior ao QuadHD+, com 2208×1768, com suporte aos tais 120 Hz, que permitem um efeito maior de fluidez nas transições e animações do sistema e são especialmente perceptíveis em jogos.
Particularmente, me incomoda um pouco o fato de que a tela aberta apresenta um vinco permanente no meio do painel, resultante do mecanismo de dobra. Honestamente, eu não sei se é possível uma tela se dobrar ao meio sem criar um vinco, mas em um mundo ideal, essa marca, que fica especialmente evidente quando tons escuros dominam a tela.
Quando você consegue ignorar a presença óbvia dessa marca, é uma experiência de tela digna de um tablet premium, com tecnologia de primeira linha, alto contraste, boa leitura mesmo debaixo do sol forte e que é ótima para exibição de vídeo. A tela grande, inclusive, é ótima para jogos, e eu imagino que o Fold 2 seria o celular perfeito para um serviço como o xCloud, por exemplo.
Também achei útil a possibilidade de colocar o celular dobrado em 90° sobre uma mesa para assistir a alguma coisa. O aparelho é capaz de adaptar a interface de alguns apps para fazer uso desse formato, no qual uma parte da tela exibe um vídeo, e a outra mostra elementos diversos; no caso do YouTube, por exemplo, podem ser os comentários e a descrição do vídeo.
Câmeras
Há duas partes a serem analisadas em relação às câmeras a serem analisadas. Primeiro, é o quão capazes elas são, e o segundo é como o formato dobrável do celular consegue utilizá-las de maneiras criativas.
Começando pelo começo: o Fold 2 não está à altura de seus irmãos tops de linha da Samsung. O aparelho conta com um downgrade de câmeras na comparação com o Galaxy Note 20 Ultra, que é, inclusive, mais barato.
Não que o Fold não seja capaz de boas fotos, mas ele é, sim inferior ao que se vê nos outros aparelhos da companhia, que são muito bons. E isso já fica evidente na contagem de megapixels (que não é o melhor indicador, eu sei): não há nada que se pareça com o sensor de 108 MP do Note 20. Também não há algo como a lente periscópio, que proporciona um zoom óptico mais profundo. Lamentavelmente, o zoom digital do Fold é limitado a 10 vezes, enquanto no Note ele chega a 50 vezes, permitindo enxergar o que está escrito em uma pequena placa em um portão a 35 metros de distância.
No lugar, o Fold tem três sensores traseiros, todos eles com 12 megapixels. O primeiro, principal, conta com uma abertura f/1.8; o segundo, é uma lente teleobjetiva, que permite um zoom de 2x, com abertura f/2.2; por fim, há a lente grande-angular, capaz de capturar ângulos de até 123°.
Não posso reclamar da qualidade das fotos. Mesmo em uma situação de pouca luz, a câmera conseguiu compensar a falta de luminosidade para fazer uma boa imagem, mas mantendo o estilo Samsung, que às vezes exagera um pouco no contraste, para deixar as fotos muito coloridas. Apesar deste detalhe, são boas fotos.
Note que eu não mencionei as lentes para selfies. Isso porque, graças ao formato do celular, elas são absolutamente redundantes. Você pode simplesmente usar as câmeras traseiras e melhores para fotografar seu próprio rosto, utilizando a tela externa como visor.
Um outro modo de uso viabilizado pelo formato particular do Fold 2 é um enquadramento automático. Se você deixar o celular dobrado em 90° sobre a mesa e ativar essa função para gravar um vídeo, a inteligência artificial do aparelho é capaz de reconhecer o seu movimento e ajustar o enquadramento para garantir sempre que você está em foco, desde que você respeite os limites dos ângulos de captura do celular. Nos meus testes, o recurso funcionou bem.
Software e desempenho
Como descrito acima, o Fold 2 é mais um tablet do que um celular. E isso é um problema. Infelizmente, o Android não é uma plataforma ideal para tablets, o que acaba afetando a experiência com o aparelho.
O que não falta no ecossistema do Google são aplicativos que não são devidamente otimizados para serem esticados para telas com tamanho e proporções diferentes de um smartphone comum. E o fato de que você não está usando um celular, e sim um tablet, vai ficar evidente quando você abre, por exemplo o Instagram. O app, um dos mais populares do planeta, simplesmente não funciona direito quando usado com a tela interna do aparelho, porque a empresa se recusa a adaptar o aplicativo para tablets.
Tirando essa reclamação (que seria válida para basicamente qualquer outro tablet Android), a Samsung apresenta algumas formas interessantes de lidar com a questão das duas telas. A mais interessante delas é a continuidade entre os apps. Se você abrir algum conteúdo na telinha externa, basta abrir o celular para que a interface do app se ajuste ao novo display, para aproveitar todo o painel maior.
Também é interessante aproveitar o espaço extra para dividir a tela com dois aplicativos distintos operando simultaneamente; é possível rodar até três apps ao mesmo tempo usando este esquema. Além disso, é possível criar atalhos para abrir uma mesma combinação de aplicativos para que, por exemplo, o aparelho inicie o Facebook e o Twitter lado a lado.
Rodar múltiplos apps na mesma tela pode ser uma tarefa inviável para muitos aparelhos, mas felizmente o que não falta para o Fold 2 é potência para isso. Com 12 GB de memória RAM, ele provavelmente seria capaz de executar até mais apps do que dois ou três ao mesmo tempo, mas a tela ficaria pequena para tanto conteúdo. Com um Snapdragon 865, o aparelho é compatível com o que há de mais exigente no mundo Android, rodando com maestria jogos e outras aplicações mais pesadas.
E, felizmente, esses pontos positivos também se estendem para a bateria. Ou baterias no plural. Isso porque, assim como o Fold 2 tem duas telas, ele também tem duas baterias, que, combinadas, contam com uma capacidade de 4.365 mAh, o que é um pouquinho menos que o seu antecessor. Na prática, esses 15 mAh não fazem muita diferença, e o aparelho consegue aguentar um dia inteiro de uso com tranquilidade.
Conclusão
O Fold 2 ainda me parece uma prova de conceito mais do que um produto. É algo que a Samsung usa para mostrar que tem capacidade para inovar e liderar uma nova categoria na indústria de tecnologia móvel, mas que, francamente, ainda não tem um lugar no mercado. O que ele oferece simplesmente ainda não é compatível com seu preço, por mais que a companhia esteja dando passos largos para a evolução da tecnologia, tornando-a mais confiável e menos frágil.
O primeiro Fold, pelo consenso da época, foi um aparelho ruim, porém promissor, cheio de ideias novas. Este continua sendo promissor, mas ele já pode se enquadrar em uma categoria acima: ele já está mais perto do que se espera de um produto voltado para o consumidor final. Só o fato de não estarmos ouvindo os relatos terríveis da primeira geração já é uma vitória e uma demonstração de que a Samsung está no caminho certo.
A linha Fold parece ser parte de uma estratégia de longo prazo da Samsung, e a companhia parece disposta a apostar no refinamento dessa tecnologia com o passar dos anos. Um sinal disso são os rumores de que, em 2021, não haverá um Galaxy Note. No lugar, a companhia deve apenas lançar um Fold com a caneta S-Pen, unindo as duas coisas em uma só. E, se a companhia mantiver um bom ritmo de evolução, francamente, o Note não fará falta.
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