A segunda onda de Covid-19 que tem afetado a Europa nas últimas semanas pode se repetir no Brasil, mas há chances de que ela ocorra de forma menos intensa. Este foi o prognóstico compartilhado pelo cardiologista Márcio Bittencourt, da Clínica Epidemiológica do Hospital Universitário da USP, em entrevista recente à Agência Einstein. Para chegar a esta avaliação, o especialista retoma dados das oito maiores pandemias respiratórias desde 1700. Sete delas tiveram mais que uma onda em pelo menos uma parte do mundo. Como exemplo, ele cita a Gripe Russa, de 1890, a gripe de Hong Kong, de 1968, e a Gripe Espanhola, que fez 50 milhões de vítimas fatais entre 1918 e 1919.Logo, segundo Bittencourt, uma segunda onda já era esperada na Europa. “É simplesmente fazer uma avaliação histórica pregressa de outras pandemias”, afirma. “Apesar das diferenças entre si, os vírus respiratórios têm um padrão recorrente de comportamento”. ReproduçãoDe acordo com especialista, segunda onda de Covid-19 já era esperada na Europa. Imagem: Aleksandr Grechanyuk/ShutterstockPor consequência, é provável que o mesmo ocorra no Brasil, embora seja cedo para afirmar. Isso deve demorar alguns meses, já que o país ainda não registrou uma queda consistente no número de novos casos por dia. Contudo, se grande parte da população já tiver sido infectada, esta segunda onda pode não ser tão intensa. Naturalmente, a gravidade do surto depende das medidas de intervenção aplicadas pelas autoridades sanitárias, mas a alta taxa de contaminação ao longo de 2020 também pode contribuir para um aumento menos agressivo nas curvas de casos e óbitos. Segunda onda é causada por mutação do vírus? Márcio Bittencourt não descarta a possibilidade de que uma mutação do Sars-Cov-2 possa levar a um novo surto, mas explica que a evidência atual não sugere esta explicação para o que ocorre na Europa. “Há várias mutações do vírus no mundo. Isso é comum e até agora não é o motivo do aumento de casos, gravidade ou reinfecção”, diz.Em vez disso, a razão mais provável para o crescimento da taxa de infecção é a soma de dois fatores: o comportamento da população e sazonalidade do vírus.Nesse ponto, o cardiologista traz à tona o conceito de heterogeneidade, que acontece quando uma parcela da sociedade é imune, e outra, não. No início da pandemia, ele explica, muitas pessoas ficaram protegidas em suas casas, e agora podem ter desistido do isolamento e começado a se contaminar. ReproduçãoPopulação deve se atentar às medidas de prevenção durante segunda onda de Covid-19, afirma Bittencourt. Imagem: Cryptographer/Shutterstock Além disso, não se sabe por quanto tempo dura a imunidade ao novo coronavírus. Por isso, é possível que mesmo os pacientes recuperados da doença estejam se infectando novamente na segunda onda. Quanto à sazonalidade, Bittencourt afirma que o Sars-Cov-2 aparentemente é transmitido mais facilmente nas mesmas épocas que o vírus da gripe. No Brasil, os dados variam de acordo com a região, sendo que o Norte e o Nordeste registram mais casos durante períodos chuvosos, e o Sul e Sudeste nas estações mais frias. De qualquer forma, o médico sugere que o sistema de saúde brasileiro se prepare para um possível retorno das taxas elevadas de contaminação. Mesmo que a segunda onda não seja tão intensa quanto a primeira, “o peso pode ser muito grande caso não haja intervenções sérias para o controle da doença, como testagem em massa, fechamento ou restrição de espaços, distanciamento físico, isolamento de casos, quarentena de contatos e medidas de bloqueio como máscaras e higienização das mãos”, ele completa.Fonte: Uol
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