Contrários à suspensão de 70 cláusulas do acordo coletivo firmado no ano passado, os funcionários dos Correios decretaram greve nacional na noite do último dia 17. Entre os cortes estariam benefícios como licença-paternidade extensiva, pagamento de 70% a mais da hora normal no caso de hora extra, 30% do adicional de risco, auxílio creche e descontos relativos a pagamentos que representariam uma redução equivalente a 4.800 reais por ano no bolso de cada trabalhador. Completadas duas semanas da decisão, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) propôs um acordo que prevê a renovação das 79 cláusulas vigentes do acordo coletivo da categoria com a possibilidade de vetar reajustes nas cláusulas econômicas. A estatal, por sua vez, negou, e o impasse se manteve. Com o monopólio da entrega de correspondências nas mãos e a responsabilidade por grande parte das entregas do e-commerce — 75% nas microempresas de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico –, a paralisação teria potencial para comprometer o bom funcionamento desses negócios, sobretudo numa pandemia.
É justamente esse espaço que as operadoras logísticas privadas querem preencher, com a renovação de frotas e a modernização dos processos, ainda que admitam que não seja possível competir nos preços. “A atividade dos Correios é garantida pela Constituição, portanto, nem entrarei nesse mérito, mas o que nós enfrentamos no setor privado é uma concorrência desleal. Os Correios não pagam tributos, impostos e não param em barreiras fiscais, por exemplo. Participam do mesmo ecossistema que o nosso mas com vantagens indevidas”, afirmou Cesar Meireles, diretor-presidente e CEO da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol). “Agora, sobre a greve, nós somos plenamente capazes de suprir a demanda com a nossa atual capacidade operacional. Se houver um hiato, um espaço vazio, os operadores logísticos vão suprir. Não vejo questões insolúveis nesse campo.” A entidade estima que o faturamento do setor foi de 100,8 bilhões de reais em 2019, um crescimento de 21% na comparação com o ano anterior. O órgão ainda calcula que o setor gera aproximadamente 1,5 milhão de postos de trabalho diretos e indiretos, além de arrecadar 14,7 bilhões em tributos e 11,5 bilhões em encargos trabalhistas por ano. O levantamento engloba 275 empresas e foi publicado no começo de agosto.
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O setor enxerga no e-commerce e no agronegócio a lacuna necessária para garantir o crescimento. A maior presença do comércio eletrônico no cotidiano dos brasileiros é um reflexo da mudança de comportamento dos consumidores, acelerada pela pandemia de coronavírus. No primeiro semestre de 2020, as vendas cresceram 47% na comparação com o mesmo período de 2019 e, além disso, houve uma expansão de 40% no número de usuários, o que fez o Brasil alcançar a expressiva marca de 41 milhões de adeptos do comércio eletrônico, de acordo com uma pesquisa realizada pela Ebit Nielsen, em parceria com a Elo. A demanda por frete rodoviário no agronegócio também subiu. Em julho, o volume cresceu 8,6% na comparação com o mesmo mês do ano anterior, segundo o Índice de Fretes e Pedágios Repom (IFPR). Ao considerar os primeiros sete meses do ano, o aumento é de 10,3% na quantidade de operações de frete realizados para o agronegócio. As mudanças no padrão de consumo do brasileiro e a franca evolução do agronegócio exigem a expansão de frotas por parte das transportadoras e a necessidade de novos investimentos. “A partir do momento em que se tem uma mudança de comportamento no âmbito das cidades, a logística para atender essa última milha precisará ser mais eficiente”, defende.
Isso acarreta em outro problema delicado para todas as atividades econômicas: o Brasil investe muito pouco em infraestrutura, menos de 0,7% do PIB. Países vizinhos já investem mais de 2,5% do PIB em infraestrutura logística, incluindo rodovias, ferrovias e portos, lembra Meireles. “Nós precisamos de uma robusta modernização. Para se ter uma ideia, a lei que rege a armazenagem geral, um componente importante porque todas as cadeias produtivas se utilizam dela, seja própria ou de terceiros, é datada de 1903, um decreto que vai completar 117 anos”, diz. A Abol protocolou um projeto na Câmara dos Deputados para desburocratizar e trazer digitalização a todos os processos. O objetivo é aumentar a segurança jurídica, o que deve melhorar o ambiente geral de negócios e propiciar redução de custos, para atrair mais investimento em infraestrutura.
Na busca por operações mais eficientes, uma nova tendência tem surgido no segmento de transportes: o aluguel de caminhões. Prática comum na Europa e Estados Unidos e que pode promover uma redução da idade média da frota de caminhões no Brasil, atualmente em 20,7 anos. A Vamos, empresa do grupo Júlio Simões Logística (JSL) voltada para a locação de veículos comerciais, é o maior exemplo da tendência. Ela confirmou, no último dia 17, a maior compra de caminhões da história da Volkswagen. Foram ao todo 1.350 unidades, o que obrigou a fabricante alemã a reativar o segundo turno de trabalho na planta de Resende (RJ). O aporte surge na esteira da aprovação pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de um aporte 360 milhões de reais em linhas de crédito para três empresas do conglomerado paulista. “Muitas empresas já perceberam que alugar é mais barato que comprar. Pode-se aumentar a produtividade da frota e operar com balanço mais leve e menor endividamento, além de reduzir custos de manutenção e facilitar a desmobilização dos caminhões usados”, afirmou Gustavo Couto, CEO do Grupo Vamos, que avalia a possibilidade de comprar os caminhões usados de nossos clientes e repô-los por novos, locados, para trazer mais produtividade ao setor. Segundo o executivo, a aquisição dos 1.350 caminhões Volkswagen ajudará a atender a demanda dos clientes. A aposta de crescimento é de que, num país predominantemente dependente do modal rodoviário, a frota muito antiga precisa ser renovada.
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