O professor e economista Carlos Alberto Decotelli apresentou nesta terça-feira, 30, ao presidente Jair Bolsonaro sua carta de demissão, que foi aceita pelo presidente.
Assim, ele deixa o cargo mesmo antes de tomar posse e menos de uma semana após ter sido anunciado para o Ministério da Educação (MEC).
O nome de Decotelli já havia sido oficializado e publicado no Diário Oficial da União, mas a posse, que estava marcada para esta terça-feira, foi adiada.
O adiamento aconteceu na segunda-feira, 29, em meio às divergências no currículo acadêmico de Decotelli, que teve o doutorado e o pós-doutorado questionados e foi acusado de plágio no mestrado.
Após o dia tumultuado, Decotelli chegou a sair de uma reunião com Bolsonaro na noite de ontem dizendo que estava confirmado como ministro. Bolsonaro também afirmou em suas redes sociais que manteria sua nomeação.
A gota d’água para o presidente teria vindo após mais um anúncio, nesta manhã, de que a Fundação Getúlio Vargas (FGV) não reconhece Decotelli como professor oficialmente, dizendo que ele lecionou apenas em cursos extras e programas de formação de executivos. A FGV vinha sendo pressionada a se posicionar por não ter identificado as divergências no histórico acadêmico de Decotelli antes que ele lecionasse na universidade.
Divergências no currículo
Na segunda-feira, o dia foi marcado por debate acerca do pós-doutorado de Decotelli na Universidade de Wuppertal, na Alemanha. A instituição alemã disse em nota que Decotelli passou três meses fazendo pesquisa com uma professora da instituição, mas não reconheceu necessariamente o período como pós-doutorado.
O pós-doutorado não é uma titulação oficial concedida por uma universidade, mas, depois das controvérsias, Decotelli retirou o pós-doutorado de seu currículo. O próprio doutorado do economista já havia sido questionado na semana passada pela Universidade de Rosário, na Argentina, que disse que sua tese não foi aprovada — o que também inviabilizaria contar o tempo na Alemanha como pós-doutorado. Seu mestrado, na FGV, foi ainda acusado de ter textos plagiados.
Nesta terça-feira, mesmo antes da renúncia oficial de Decotelli, já circulavam informações de que Bolsonaro teria mudado de ideia e estaria procurando novos nomes para o Ministério da Educação. O presidente pode reavaliar alguns dos indicados que considerou na semana passada, antes de nomear Decotelli na quinta-feira, 25.
Quem será o substituto
Com a saída do ministro, a chamada “ala ideológica” do MEC, grupo ligado ao guru Olavo de Carvalho, luta para que o novo nome seja novamente um de seus indicados — como já foram os dois primeiros chefes da pasta no governo Bolsonaro, Ricardo Velez e Abraham Weintraub, este último tendo deixado o cargo neste mês.
Militares e olavistas disputam desde o começo do governo o controle do MEC. Decotelli era uma indicação da ala militar, que tenta, agora, emplacar seu substituto.
Um dos nomes ventilados é do ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Marcus Vinícius Rodrigues, que geriu a autarquia na gestão de Ricardo Velez. Rodrigues é engenheiro e do mesmo grupo militar que apoiou Decotelli, mas deixou o Inep após desentendimentos com o grupo de Olavo de Carvalho na pasta.
O ex-pró-reitor da FGV Antonio Freitas, também é um nome indicado pelo grupo militar e ligado ao setor de educação privada. Outros nomes ligados a esse setor podem surgir, alguns bem vistos pelos militares.
Entre eles estão Benedito Guimarães Aguiar Neto, ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e presidente da Capes, que lida com pesquisa no Ensino Superior no MEC, e Anderson Ribeiro Correia, evangélico e reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), também ex-Capes.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, teria sugerido Sérgio Sant’ana, ex-assessor especial de Abraham Weintraub e ligado a olavistas do governo, segundo apuração do jornal Estado de S. Paulo.
Outro nome que agrada à ala olavista é Ilona Becskeházy, secretária de Educação Básica da pasta desde abril de 2020. Ela é ex-diretora executiva da Fundação Lemann, entre 2001 e 2011, e surpreendeu alguns dos pares ao defender a gestão de Weintraub à frente do MEC ao longo de 2019.
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