Estamos entrando no momento mais complicado, diz secretário da saúde

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Quando será possível falar em flexibilização do isolamento?

Pelos números de crescimento acelerado (de Covid-19), é difícil ter flexibilização. A gente começa a entrar no momento mais complicado. Entre 26 de fevereiro, quando ocorreu a primeira infecção, e 23 de abril, houve 45 000 notificações de casos ou suspeitas. Em 2 de maio, chegamos a 78 000. O salto é exponencial. A experiência que se tem em outros lugares do mundo nos mostra que estamos no caminho certo. Teve cidade que voltou ao normal e imediatamente ocorreu um salto. Hoje, o isolamento é a medida mais eficaz. Isso está claro.

Medidas mais drásticas poderão ser adotadas? Qual o gatilho para isso?

O prefeito Bruno Covas não vai tomar medidas sozinho. Mas o fato de o nível de isolamento não aumentar é um elemento grave. O que vai significar é que a doença vai se disseminar de forma crescente. Se São Paulo não tivesse isolamento, teriam morrido dez vezes mais pessoas até agora. Temos 3 470 mortos, entre confirmados e suspeitos. Seriam 30 000 óbitos. Esse é o número. Salvamos 27 000 vidas.

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Como o senhor vê o afrouxamento da quarentena na cidade por parte das pessoas, principalmente na periferia?

Tenho andado na periferia. É preocupante a realidade, mas é difícil para uma família estar num quarto isolada com dez, doze pessoas. Se os números continuarem se agravando, essas pessoas vão precisar de tratamento médico, leito de UTI, não tem jeito.

E a Cracolândia? Existe algum plano de internação compulsória por causa da pandemia?

Não discutimos esse tema. Abrimos centros de acolhimento novos no Glicério e em São Miguel Paulista para que essa população se desloque da Cracolândia. É sem dúvida nenhuma uma grande população vulnerável.

Críticos afirmam que o prefeito Bruno Covas tem adotado uma posição mais comedida nesta pandemia, deixando ao governador João Doria o protagonismo até das polêmicas.

Cada um cuida de seu papel. Ambos têm cuidado de suas responsabilidades. o que tem existido é uma provocação maior por parte do presidente da República. Mas acho que o prefeito não tem de entrar nisso neste momento. Ele está na posição correta. Tem de administrar a pandemia.

E as aglomerações na cidade em manifestações contra o governador e o ministro Alexandre de Moraes, do STF?

São inaceitáveis e contrariam tudo o que está acontecendo no mundo. Enquanto uma pandemia colapsa sistemas de saúde, há quem feche os olhos para isso. Não vi esse tipo de coisa em nenhum outro lugar.

Circulam pelas redes sociais vídeos que mostram covas abertas nos cemitérios da cidade sendo fechadas sem caixões. Isso ocorre?

São fake news que causam desinformação. o número de mortes por síndrome respiratória aguda grave mais do que dobrou neste ano. Quase todos os países se mobilizaram para o enfrentamento da doença, mas aqui essa divisão tem atrapalhado.

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Aparecido (à dir.) com o prefeito Covas (no centro), no Pacaembu: mais de 3 000 mortesEdson Lopes Júnior/Divulgação

O senhor prevê uma piora na saúde da população mais pobre por causa da suspensão de consultas, exames e cirurgias na rede municipal?

A gente manteve o atendimento: metade dos hospitais é Covid, metade não é. As ações de tratamento oncológico, transplante, maternidade, entre outras, continuam. os procedimentos adiados serão retomados depois. Mas é evidente que o sistema fica impactado por inteiro.

O fato de o senhor não ser médico é alvo de críticas. Um secretário de Saúde precisa ser especialista em medicina?

Qualquer secretário precisa ter experiência em gestão pública. Você monta equipes técnicas, profissionais. o mais importante é isso. Nossa equipe técnica é muito competente.

O Ministério Público (MP) moveu uma ação contra o senhor sob a acusação de enriquecimento ilícito. Como está o processo judicial?

o próprio MP disse que não houve dano ao Erário. Entreguei documentações que atestam minhas condições para a compra de um apartamento. Eu me apresentei ao promotor sozinho. Estou esperando um desfecho rápido e favorável a mim.

Seu nome foi aventado para ser vice em uma chapa “pura” com o prefeito Bruno Covas.

Não tenho mais nenhum projeto de ordem eleitoral. Tomei essa decisão em 2014. Já tive quatro mandatos como deputado. Acho que poderei contribuir de outra maneira.

 

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 13 de maio de 2020, edição nº 2686.

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