Os primeiros sinais do impacto da pandemia do coronavírus nas gigantes petrolíferas globais começaram a sair nesta terça-feira, 28. O agravamento da Covid-19 tem ocasionado uma queda livre na demanda mundial pelo combustível e levou a um colapso dos preços como nunca antes visto na história. Essa crise do petróleo atingiu em cheio os resultados financeiros da petroleira britânica BP, a primeira das grandes a divulgar o balanço do primeiro trimestre deste ano. O lucro da companhia despencou 67% nos três primeiros meses de 2020, para 800 milhões de dólares – vale a pena ressaltar que o agravamento do coronavírus só começou em meados de fevereiro, o que leva a crer que o tombo será bem maior nos próximos trimestres.
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A própria BP informou esperar margens significativamente mais baixas no segundo trimestre, quando as restrições globais ao movimento para deter a propagação do vírus atingiram o seu pico, limitando o consumo de gasolina, diesel e combustível de aviação. “É difícil prever quando os atuais desequilíbrios de oferta e demanda serão resolvidos e qual será o impacto final da Covid-19”, informou a companhia, em comunicado. A produção de petróleo e gás enfrenta incertezas significativas ligadas tanto ao declínio dos preços do petróleo e à queda da demanda, bem como devido ao acordo entre a OPEP, a Rússia e outros produtores de reduzir a oferta global de petróleo.
As cinco maiores petroleiras dos Estados Unidos e da Europa, conhecidas como “Oil Majors”, já anunciaram cortes de gastos de, em média, 23%. Com a provável manutenção dessa trajetória por meses, a pressão sobre as companhias é desafiadora, uma vez que o preço atual do barril não é viável para a sobrevivência do negócio. O tamanho do golpe do setor poderá ser medido até o final desta semana, quando Shell, Exxon e Chevron apresentarão os seus balanços. A francesa Total, que completa o grupo das cinco maiores, divulgará na semana que vem.
A atual crise do mercado de petróleo fez com que os preços da commodity caíssem para o menor nível em 21 anos como ocorreu no barril do tipo Brent, negociado em Londres, e até entrarem em colapso e se tornarem negativos como aconteceu com o WTI, referência para os Estados Unidos. De acordo com a consultoria francesa Kpler, especializada em análise de mercados de energia, a demanda por combustíveis apresenta retração, média, de 30% em todo o mundo, ao mesmo tempo em que os espaços de estoque estão se tornando raros na maior região produtora dos Estados Unidos, com praticamente 85% do armazenamento em terra preenchido até a semana passada. A consultoria fez um rastreamento do armazenamento de petróleo em mar na costa oeste americana e chegou a conclusão que os navios petroleiros estacionados carregavam mais de 20 milhões de barris de petróleo bruto, tornando-se a maior quantidade de óleo flutuante na região.
A indústria petrolífera é uma das mais expostas ao impacto do coronavírus. As pessoas não estão enchendo os tanques dos carros (ou pelo menos com menos frequência) e as companhias aéreas estão com os seus aviões parados nos hangares. O petróleo Brent, referência internacional, fechou nesta terça-feira negociado a 22,74 dólares por barril (queda de 1,4% no dia), uma pequena fração dos 70 dólares do início de janeiro. Já o petróleo dos EUA, o WTI, fechou negociado a apenas 12,34 dólares o barril (com retração de 3,4% no dia). Além da questão dos preços, que já eram voláteis antes da pandemia, devido ao embate entre os produtores sobre a produção, e dos resultados financeiros em declínio, a indústria de petróleo também irá enfrentar a perda de milhares de empregos – só no Reino Unido esse número é estimado em 30,2 mil trabalhadores. O receio agora é que problemas do setor durem muito mais tempo do que a pandemia da Covid-19 e cause estragos de difícil reversão.
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