O ministro da Economia, Paulo Guedes, sempre reclamou da influência da Casa Civil nas decisões do presidente Jair Bolsonaro. A avaliação de membros da equipe econômica é de que, como os membros do órgão responsável pela articulação do governo ficam muito próximos ao presidente, dentro do Palácio do Planalto, a ala militar consegue soprar ideias mirabolantes que, por insistência, convencem o mandatário da República. Quando Bolsonaro dá ouvidos à área técnica, porém, os resultados são outros. Em uma reunião sugerida pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ocorrida no Palácio da Alvorada nesta segunda-feira 27, os detentores da política econômica e monetária reagiram ao flerte desenvolvimentista que vem da Esplanada dos Ministérios. Na ressaca das discussões envolvendo o Plano Pró-Brasil, criado pelos ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e Walter Braga Netto (Casa Civil), Guedes e Campos Neto externaram a Bolsonaro os estragos potenciais de se engraçar com a irresponsabilidade fiscal — ainda mais em um momento tão delicado para as contas do país.
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Seduzido pelo Pró-Brasil, Bolsonaro viu, num primeiro momento, no pacote de investimentos públicos em obras paradas um efeito mitigador da crise econômica que desembarcou na bagagem do novo coronavírus na chegada ao país. Avesso à ideia e defensor da saída da crise por meio da iniciativa privada, Guedes apresentou a Bolsonaro que o plano foi pessimamente recebido pelos mercados e que o Banco Central teve que agir, com a queima de dólares em leilões diários. Segundo um interlocutor, Guedes tentou explicar que, em uma única sexta-feira — que contou, não só com a apresentação apressada do programa, mas também com a exoneração do ministro da Justiça, Sergio Moro — o Brasil perdeu quase o tanto de dinheiro que custaria o pacote de estímulo a investimentos — cerca de 4 bilhões de reais no primeiro ano. Só na segunda-feira, o BC precisou vender 600 milhões de dólares (3,3 bilhões de reais) em reservas internacionais para controlar a alta da moeda americana.
Além de levar suas preocupações a Bolsonaro quanto à receptividade do projeto nos mercados interno e externo, Guedes começou suas articulações para “virar” o Plano Pró-Brasil. As intenções dele e de Campos Neto envolvem incluir no projeto mecanismos para atrair o financiamento privado, e abdicar do gasto público num momento em que o país deve somar mais de 90% do Produto Interno Bruto em dívidas, passado o pico da pandemia. O ministro sabe, porém, que pouco do que Bolsonaro promete se anota. E enfrenta pressões vindas de todos os lados.
Por outro lado, o ministro Tarcísio encontrou o momento certo (em meio à pior crise de saúde da história recente do país) para crescer. Bem avaliado entre os congressistas, ele e Guedes sempre tiveram divergências na condução das obras paradas do país. Com Bolsonaro enfraquecido, viu no casamento com Braga Netto e Rogério Marinho a oportunidade de ganhar força perante o Palácio do Planalto. Segundo membros do Ministério da Economia, o momento nem seria de se discutir as saídas para a crise. De acordo com essas fontes, o foco, agora, é manter as políticas de amparo aos mais vulneráveis, garantir recursos para a saúde e a manutenção de empregos já existentes.
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