Poucas horas após o pedido de demissão de Sergio Moro, seu ministro mais popular, Jair Bolsonaro fez um pronunciamento desconexo e com forte tom anti-establishment.
Ele citou, sem ordem aparente, temas como caso Queiroz, o aquecimento das piscinas do Palácio do Planalto, o assassinato de Marielle Franco, condenações por tráfico da drogas na família da primeira-dama Michelle Bolsonaro, taxímetros do Rio de Janeiro e o Inmetro. No final, leu um comunicado escrito negando acusações de Moro e afirmou que “o governo continua”.
As acusações de Moro incluem falsidade ideológica e interferência em instituições para benefício pessoal, com margem para serem enquadradas em crime de responsabilidade, passível de impeachment.
O presidente falou cercado de seus ministros e alguns aliados, sem distanciamento social, contrariando as recomendações de saúde diante da pandemia do novo coronavírus que deixou 357 mortes no país só nas últimas 24 horas. Só Paulo Guedes, ministro da Economia, usava máscara.
Sobre a demissão de Mauricio Valeixo, o chefe da Polícia Federal, estopim do pedido de demissão de Moro, o presidente afirmou que “autonomia não é sinal de soberania” e que o presidente tinha “poder de veto”.
Apesar de Bolsonaro já ter afirmado publicamente que Moro tinha “carta branca”, hoje ele reforçou sua prerrogativa de nomeações: “Se eu posso trocar ministro, porque não posso trocar a Polícia Federal?”.
Bolsonaro afirmou que Moro iria achar uma maneira de “botar uma cunha” entre ele e o povo, e também sugeriu que o ministro teria liberado a demissão de Valeixo só poderia acontecer após sua nomeação para o Supremo Tribunal Federal (STF) quando uma vaga abrisse em novembro. Moro rebateu a acusação de chantagem pouco depois no Twitter:
“Uma coisa é você admirar uma pessoa, outra é conviver com ela. Trabalhar com ela. Hoje pela manhã, por coincidência tomando café com parlamentares eu lhes disse, hoje vocês conhecerão aquela pessoa que tem compromisso consigo próprio com seu ego e não com o Brasil”, disse.
O presidente disse também que Moro não se empenhou em investigar a facada contra ele na campanha eleitoral de 2018. A PF já concluiu que Adélio Bispo agiu sozinho no atentado. O presidente disse que houve menos empenho nesse caso do que sobre o assassinato de Marielle Franco, até hoje sem solução.
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