Se “Aves de Rapina” não fizer tanto sucesso nas bilheterias, será provavelmente por dois motivos: o secundário é o nome quilométrico; o principal é o empoderamento feminino, que levará muitos machos inseguros a desprezar o filme por não ter ninguém com quem se identificar.
Ao primeiro problema, respondemos com o nome na íntegra: “Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa”. Um nome interessante, afinal, e atraente. E é feio a Warner querer mudar no meio do jogo. Ao segundo problema, respondemos com uma provocação aos marmanjos: “deixem de ser bobos!”. Afinal, o filme está acima da média dentro do universo de super-heróis (não seria surpresa se muitos viciados no Universo Marvel boicotassem um filme da DC, mas seria estúpido demais).
Não que o filme mereça um espaço mais nobre na história do cinema. No máximo, consegue ser mais divertido e equilibrado, em seu tom caótico e inconsequente, que o super-hiper-ultra-estimado “Coringa”, de Todd Philips. Graças, sobretudo, a Margot Robbie, uma atriz que se prova incrivelmente talentosa a cada filme e brilha mais uma vez como Arlequina (desta vez num filme melhorzinho que aquele horroroso “Esquadrão Suicida”), e à sua trupe: Rosie Perez (a policial Renee Montoya), Mary Elizabeth Winstead (a vingadora transformada em justiceira The Huntress) e Jurnee Smollet-Bell (a Canária).
Ao se separar do namorado, o Coringa, Arlequina passa a ser perseguida por uma série de malfeitores, incluindo o mega-vilão Roman Sionis (Ewan McGregor), que gosta de esfolar o rosto das pessoas que mata. Ela era folgada, mas ninguém mexia com ela por causa de seu temido namorado. O rompimento não tira o Coringa apenas de sua vida, tira também do filme (há imagens rápidas dele apenas no começo, em anime).
Errando por Gothan City, a antiga psicóloga transformada em criminosa pela paixão pelo paciente se envolve em um roubo de diamante e encontra as outras heroínas, com quem terá dificuldade de se enturmar, a não ser por um momento de defesa do coletivo contra um exército de malvados.
O tom adolescente incomoda em diversos momentos. São muitas as paradinhas da imagem para alguma gracinha escrita na tela, as idas a vindas no tempo, embora justificadas pela liberdade da narradora (a própria Arlequina), as cenas de ação em que não se entende muito do que se passa.
Mas se o filme nunca ultrapassa de vez sua condição de entretenimento pueril, é bacana ver mulheres arrebentando homens musculosos e se unindo contra criminosos da pior espécie. A representatividade, quando não é forçada, é sempre bem-vinda. Mas o que pode ser forçado dentro do universo dos quadrinhos, um universo por si só artificial?
* Sérgio Alpendre é crítico e professor de cinema
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