São Paulo comemora 466 anos marcada pela diversidade e desigualdade

72
Anúncio Patrocinado


São Paulo – Mariano Ferreira de Queiroz, de 64 anos, vive em São Paulo há mais de quatro décadas. Ele deixou Ubaí, no norte de Minas, ainda jovem junto com cinco dos seus nove irmãos para “tentar a vida na cidade grande” e fugir da miséria.

A família optou por São Paulo, que completa 466 anos neste sábado (25), pela mesma razão que muitos antes e depois dele: promessa de trabalho. Mariano aprendeu a ser jardineiro, função que exerceu a vida toda, e se aposentou em 2008, mas só parou de trabalhar após ter um acidente vascular cerebral (AVC).

Ele e sua esposa vivem com um salário mínimo há 28 anos na mesma casa no Jardim Emburá, no extremo sul da cidade, sem água potável nas torneiras ou esgoto.

O distrito de Marsilac, onde fica a casa e onde quase metade da população é preta ou parda, está entre os piores da cidade em 18 dos 50 indicadores analisados pelo Mapa da Desigualdade divulgada pela Rede Nossa São Paulo. Lá não há nenhum equipamento público de cultura e de esporte.

Anúncio PatrocinadoGestor de Tráfego - Do Mil ao Milhão: Torne-se um Especialista em Tráfego Pago

O distrito também é líder em mortalidade infantil. A proporção de óbitos de crianças menores de um ano para cada mil nascidas vivas é de 24,59 contra 10,5 na média da cidade e apenas 1,07 em Perdizes, distrito com o melhor resultado.

466 anos e as marcas da desigualdade social

A arquiteta Karina Ieiri, de 30 anos, tem outra experiência da cidade onde mora com o marido no Morumbi, na Zona Oeste da cidade. Ela se mudou para lá há cinco anos, mas ainda não se adaptou:

“Não é um bairro que te convida a andar, não tem espaço público, tem poucos espaços culturais”, diz ela. “É um bairro murado e com ruas desertas”, lamentou.

O Morumbi fica ao lado da favela de Paraisópolis, contraste que rendeu uma das fotos frequentemente usadas como símbolo da desigualdade ao redor do mundo.

O distrito, onde apenas 19,53% da população é preta ou parda, é um dos mais arborizados da cidade, com proporção de 1.377 árvores em relação à área total. No outro extremo, novamente Marsilac, com 3,2 árvores na mesma medida.

Vladimir Bartalini, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), nota que a arborização não deve ser encarada como algo supérfluo:

“Interfere de várias maneiras, como na atenuação dos efeitos das poluições atmosférica e sonora, na contenção de deslizamentos e na temperatura, um dos efeitos mais evidentes”, diz ele.

“A vegetação traz também prazer estético e bem-estar, que não se medem em decibéis ou em graus”, destacou.

Oportunidade de trabalho

A diferença entre oportunidade de emprego também aparece no Mapa da Desigualdade. Enquanto na Barra Funda, área central, a taxa de emprego formal é de 59,2 por dez habitantes com idade ativa, na Cidade Tiradentes, no extremo leste, o número é de 0,2. A média registrada em São Paulo é de 6,7.

Professor de economia da Fundação Getúlio Vargas, Renan Pieri diz que é esperado que a área central tenha boa parte dos postos de trabalho pois ela concentra comércio e serviços, além de maior renda.

“Nos bairros mais pobres o índice de criminalidade é mais alto, existem inseguranças jurídicas com relação as propriedades dos terrenos e eles em geral não são planejados. Tudo isso afasta investimentos. Aliado a isso não há demanda local, porque a renda das pessoas é mais baixa”, diz.

Ainda assim, São Paulo segue atrativa para pessoas de todo o Brasil em busca de emprego. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nesta sexta-feira (24), mostram que foram mais de 80 mil vagas com carteira assinada na cidade em 2019.

É cerca de um a cada oito empregos novos no país. Enquanto isso, 8 capitais tiveram saldo negativo de vagas no ano, incluindo o Rio de Janeiro, segunda maior cidade do país.

Cultura e esporte

Em Marsilac, onde mora o jardineiro Mariano, não há equipamentos públicos de cultura – mesma situação de outros 23 distritos da capital. Já no Morumbi, onde mora a arquiteta Karina, a proporção de equipamentos públicos de cultura para cada cem mil habitantes é de 5,83, contra 4 na média da cidade.

De acordo com o secretário municipal de cultura, Alê Youssef, os locais onde não há equipamento público são prioritários para a pasta.

“Existe uma preocupação muito intensa em espalhar cultura por todos os cantos da cidade e estamos satisfeitos com os resultados. Agora no carnaval, por exemplo, nós tivemos inscrições de blocos nas 32 subprefeituras. Na Virada Cultural tivermos shows de grandes artistas nas periferias”, contou.

Mesmo com a desigualdade interna, São Paulo se destaca do resto do país pela vida cultural vibrante e marcada pela diversidade. A parada do orgulho LGBT, por exemplo, é uma das maiores do mundo.

Programação do aniversário de São Paulo

A vocação cultural paulistana será celebrada neste sábado de aniversário com mais de 300 atividades como shows, cinema, dança, teatro e circo, em cerca de 150 pontos nas ruas e equipamentos culturais.

Na programação, artistas como Elba Ramalho com Bixiga 70, Karol Conka, Rashid, Ney Matogrosso, Skank, Demônios da Garoa e a bateria da escola de samba Vai-Vai. Entre os destaques fora do centro estão Emicida na Praça Brasil na Zona Leste, Falamansa na Freguesia do Ó e Marcelo Jeneci na Lapa.

A administração paulistana também quer mostrar contraste com o obscurantismo do governo Bolsonaro com o Festival Verão Sem Censura, com obras censuradas recentemente por órgãos do governo federal.

Serão mais 45 atividades abertas e gratuitas nas cinco regiões da cidade. O festival começou no dia 17 com show de Arnaldo Antunes, que teve um videoclipe censurado na TV, e apresentação do DJ Rennan da Penha, funkeiro idealizador do Baile da Gaiola preso em março e libertado em novembro.

O evento também exibiu o filme Bruna Surfistinha, atacado pelo presidente Jair Bolsonaro como mal uso de dinheiro público, e será encerrado no Theatro Municipal com apresentação da peça “Roda Viva”.

O espetáculo, escrito por Chico Buarque e com direção de José Celso Martinez, foi censurado durante a ditadura militar. A programação completa está disponível no site da secretaria de cultura.



Fonte do artigo
Tags:
#politica #political #negocios #business #marketingdigital #empreendedorismo #marketing #emprendedores #empreender #sucesso #empresas #emprendimiento #emprendedor #empreendedor #emprender #dinheiro #dinero #empresario #vendas #liderazgo #motivacion #foco #motivacao #negocio #brasil

Anúncio