Greta X Bolsonaro: falas na ONU confrontam ação e negação sobre o clima

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São Paulo – De um lado, Greta Thunberg, a ativista sueca de 16 anos que se tornou um símbolo global do movimento de combate às mudanças climáticas. Do outro, Jair Bolsonaro, o presidente brasileiro, questionado pela alta das queimadas e do desmatamento ilegal na Amazônia.

Ambos estarão em Nova York, nos Estados Unidos, no início desta semana para participar de eventos da Organização das Nações Unidas (ONU).

Na segunda-feira (23), Greta fala na Cúpula da Ação Climática, uma iniciativa do secretário geral da ONU, António Guterres. Um dia depois, na terça-feira (24), Bolsonaro abre a sessão anual da Assembleia-Geral, espaço sempre reservado ao presidente do Brasil.

A presença dos dois ilustra o momento particular em que passa a questão do combate às mudanças climáticas enquanto cientistas alertam que a janela está se fechando para evitar um futuro catastrófico.

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Nos Estados Unidos, maior emissor de gases estufa tanto em termos per capita quanto em termos históricos, Donald Trump saiu do Acordo de Paris e segue bloqueando proteções ambientais – até mesmo aquelas feitas de forma voluntária por estados como a Califórnia.

No Brasil, o seu aliado Bolsonaro decidiu não sediar a COP 25, evento da ONU sobre o clima, mandou representantes para uma conferência de negacionistas e tem em seu governo vários membros que questionam a ação humana nas mudanças climáticas, um consenso na comunidade científica.

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, fez um discurso recente em um dos principais “think tanks” conservadores de Washington, a Heritage Foundation, em que afirmou que “o ponto do climatismo é acabar com o debate democrático”e negou que exista uma crise climática.

“Quando o Acordo de Paris saiu em 2015, parecia haver um consenso global no sentido de mitigar as mudanças climáticas. Com Trump e outros negacionistas eleitos, isso perde a força, mas em compensação, há um momento de grande engajamento popular; nunca vi o clima tão mainstream”, diz João Henrique Alves Cerqueira, ativista da organização ambiental Engajamundo.

Greta é a face mais visível dessa nova mobilização. No ano passado, ela começou a protestar de forma solitária do lado de fora do Parlamento sueco, gesto que se transformou no Fridays for The Future e foi replicado ao redor do mundo.

Na última sexta-feira (20), o movimento culminou nas maiores manifestações da história sobre mudanças climáticas, envolvendo mais de 4 milhões de pessoas em 163 países.

Crise internacional

No Brasil, as manifestações sobre as mudanças climáticas se somam a protestos anteriores diante da aceleração na destruição da Amazônia. Eles são associados por críticos à retórica do presidente, à redução de multas e ao desmonte de órgãos de fiscalização.

A primeira reação do presidente foi negar os dados oficiais, o que culminou na exoneração de Ricardo Galvão, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, órgão responsável pelo monitoramento via satélite.

Posteriormente, ele baixou o tom diante da forte reação nacional e internacional e do risco de perdas econômicas, mas o estrago estava feito.

“Quem diria que o primeiro panelaço do governo Bolsonaro seria em função da Amazônia?”, diz Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, em referência a manifestações ouvidas em cidades brasileiras durante pronunciamento do presidente sobre o tema, em rede nacional, no dia 23 de agosto.

Ian Coelho, ativista do Jovens pelo Clima em Brasília, nota que enquanto a mobilização lá fora acaba voltada para formas de reduzir a emissões de gases estufa, aqui a questão da preservação é mais forte devido à grande extensão do território ainda tomada por florestas.

Na última semana, 230 fundos de investimento que juntos administram US$ 16 trilhões (R$ 65 trilhões), incluindo gigantes como Aberdeen e Macquarie Asset Management, assinaram um manifesto pedindo para que o Brasil adote medidas eficazes contra o desmatamento e as queimadas devido ao risco de impacto financeiro e acesso a mercados de empresas nas quais eles investem.

Já o Parlamento da Áustria citou a crise na Amazônia como razão para a aprovação de uma resolução vinculante recomendando a não aprovação do acordo entre Mercosul e União Europeia, assinado em junho mas que ainda precisa ser aprovado por todos os países para entrar em vigor.

O acordo já vinha sendo questionado diante de embates públicos de Bolsonaro com o presidente francês, Emmanuel Macron, que tem a questão ambiental como uma de suas bandeiras.

“O Brasil vem para a ONU com o rabo entre as pernas. Dentro da discussão climática, não tem mais credibilidade nenhuma”, diz João Henrique, do Engajamundo.

Em e-mail para EXAME, o Ministério do Meio Ambiente escreve que “tem participado dos esforços para mitigar e principalmente atuar na adaptação dos efeitos das mudanças climáticas, juntamente com  outros ministérios e entes federativos.”

Enquanto isso, seguem as mobilizações nacionais e internacionais sobre o tema, que vão muito além de Greta como símbolo e de Bolsonaro como alvo.

“Eu tenho como inspiração ativistas brasileiros. A gente tem várias Gretas aqui lutando pelo clima de diversas maneiras; são os indígenas defendendo seus territórios e as pessoas que quando chove, tentam evitar deslizamentos”, diz Nayara Almeida, uma das organizadoras do Fridays for the Future no Brasil.



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