RIO — Alimentado por monges radicais, o
extremismo budista
vem crescendo no
Sri Lanka
, onde uma
série de atentados coordenados em igrejas católicas e hotéis de luxos deixaram mais de 200 mortos
neste domingo. Os ataques a outras minorias religiosas aumentaram, particularmente contra a comunidade muçulmana, alcançando seu ponto mais violento em março de 2018, quando o governo decretou estado de emergência por 10 dias, pela primeira vez desde 2011, depois de uma série de confrontos entre muçulmanos e budistas, que deixaram três mortos.
O budismo Theravada é a maior religião do Sri Lanka, com adesão de cerca de 70,2% da população de quase 21 milhões de habitantes, segundo o censo mais recente. Hindus e muçulmanos compõem 12,6% e 9,7% da população, respectivamente. O país é também o lar de cerca de 1,5 milhões de cristãos que representam 7% da população, segundo o censo de 2012.
No ano passado foram registrados 86 incidentes de discriminação, ameaças e violência contra cristãos, segundo a Aliança Nacional de Cristãos Evangélicos do Sri Lanka, que representa mais de 200 igrejas e organizações cristãs do país. Só neste ano, a organização registrou 26 incidentes, incluindo a tentativa de boicotar uma missa por parte de monges budistas em 25 de março.
Após os ataques deste domingo, o arcebispo de Colombo fez um discurso duro, pedindo ao governo que “puna sem piedade”os responsáveis pelos atentados, mas pediu que a população “não fizesse justiça com as próprias mãos e mantivesse a paz e a harmonia no país”.
— Queria pedir ao governo que faça uma investigação sólida e imparcial para determinar quem é responsável por este ato e também que os puna sem piedade, porque apenas animais podem se comportar assim — declarou o arcebispo Malcom Ranjit.
O Papa Francisco também condenou a “violência cruel”.
— Quero expressar minha sincera proximidade com a comunidade cristã [do Sri Lanka], ferida enquanto se reunia em oração, e a todas as vítimas de tal violência cruel — disse
Francisco enquanto fazia a benção de Páscoa
diante de milhares de
Neste domingo, o governo decretou um bloqueio temporário das redes sociais para evitar a disseminação de “informações incorretas e falsas” sobre a onda de ataques e o primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe convocou uma reunião do conselho de segurança nacional em sua casa para o final do dia. “Eu condeno veementemente os ataques covardes contra nosso povo hoje. Eu chamo todos para permanecerem unidos e fortes”, postou no Twitter.
O presidente do Sri Lanka, Maithripala Sirisena, pediu calma ao país, mas se mostrou em choque:
— Por favor, fiquem calmos e não sejam enganados por rumores — declarou Sirisena em mensagem à nação. — As investigações estão em curso para descobrir que tipo de conspiração está por trás destes atos cruéis.
Atentados desta magnitude não tinham acontecido no país desde a guerra civil entre a guerrilha tâmil e o governo, um conflito que durou 26 anos e terminou em 2009, e que deixou, segundo dados da ONU, mais de 40 mil civis mortos.