Na carta, que descreve mudança climática como ‘ameaça existencial’, eles criticam imprecisão dos compromissos ambientais da gigante e exigem ações robustas
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15 abr 2019, 12h17 – Publicado em 15 abr 2019, 12h13
São Paulo – Em um esforço sem precedentes, mais de 6 mil funcionários da Amazon assinaram uma carta aberta pedindo que a gigante americana crie e divulgue publicamente um plano climático robusto e mensurável visando a transição energética da empresa.
Iniciativas internas existem na Amazon, mas elas não integram um plano de negócios estratégico, que é a principal exigência da carta divulgada na última quarta-feira (10). Cerca de um décimo da força de trabalho da empresa já adicionou publicamente seus nomes ao documento.
Na carta endereçada ao CEO Jeff Bezos e ao conselho de administração, os funcionários criticam a falta de um cronograma definido para os planos de redução de emissões da empresa. Em fevereiro, a gigante anunciou a meta de ter 100% de infraestrutura global abastecida por energia renovável, mas não estabeleceu data limite para alcançar esse objetivo.
A empresa também se comprometeu a tornar metade de suas remessas de produtos neutras em emissões de dióxido de carbono (CO2) em um período de 10 anos, como parte de um programa batizado de “Shipment Zero”. Mas isso também não é suficiente para os funcionários, que gostariam de ver a empresa se concentrar nas reduções totais de emissões do negócio. Para fazer isso, eles pediram um fim por “completo” do uso de combustíveis fósseis na operação global da Amazon (vans de entrega a diesel são uma preocupação citada na carta).
Esta cobrança é especialmente motivada pela aproximação da empresa do setor de petróleo e gás. A rainha do comércio on-line, que já trabalha com a BP e a Shell, vem tentando atrair mais empresas da área para seus serviços de computação em nuvem Amazon Web Services (AWS) com a promessa de acelerar e expandir a extração de petróleo e gás.
A AWS é uma das maiores fontes de receita da Amazon, respondendo por mais de 70% do lucro total da empresa no ano passado. Da mesma forma, a carta que descreve a mudança climática como uma “ameaça existencial”, critica as doações da Amazon para políticos americanos que se opõem às leis climáticas. Além disso, os funcionários gostariam que todas as metas da empresa fossem consistentes com o relatório do IPCC sobre mudanças climáticas publicado no final de 2018.
Mais importante documento científico sobre o tema, o IPCC defende que as emissões de gases efeito estufa sejam reduzidas pela metade até 2030 e zeradas até 2050. Não é um objetivo pequeno, mas os cientistas acreditam que devemos nos ater a ele para ter uma chance de salvar o planeta. Para que isso ocorra, reservas potenciais de combustíveis fósseis devem permanecer intocadas.
A carta pede, ainda, que o conselho da Amazon adote uma resolução dos seus funcionários acionistas apresentada no final do ano passado, que forçaria a empresa a desenvolver um plano mensurável para reduzir sua pegada de carbono. A resolução proposta pode ser votada já no próximo mês. Muitos funcionários da Amazon recebem ações da empresa como parte de sua remuneração. Isso lhes permite, por exemplo, propor resoluções corporativas que devem ser abordadas nas reuniões do conselho administrativo.
“Em nossa missão de nos tornarmos ‘a empresa mais centrada no cliente da Terra’, acreditamos que nosso impacto climático deve ser uma consideração importante em tudo o que fazemos. Temos o poder de influenciar setores inteiros, inspirar a ação global sobre o clima e liderar melhorias em nossas vidas”, dizem os funcionários no documento.
“Estamos vendo um apoio tão grande e amplo dos funcionários que assinam nossa carta aberta, com representação de vários níveis, dos mais novos aos cargos de VP [vice-presidência]”, disse Elizabeth Whitmire, desenvolvedora sênior de tecnologia da AWS, ao site Gizmodo. O New York Times chamou essa ação conjunta de “o maior movimento da mudança climática encabeçado por funcionários na influente indústria de tecnologia”.
A Amazon não comentou diretamente a carta, mas o porta-voz Sam Kennedy defendeu a estratégia de mudança climática da empresa em um comunicado.
“No início deste ano, anunciamos que compartilharíamos nossa pegada de carbono em toda a empresa, juntamente com metas e programas relacionados”, disse ele. “Somente nas operações, temos mais de 200 cientistas, engenheiros e designers de produtos dedicados exclusivamente a inventar novas maneiras de alavancar nossa escala para o bem dos clientes e do planeta. Temos um compromisso de longo prazo para alimentar nossa infraestrutura global usando 100% energia renovável.”
O problema é que, em tempos de crise climática, “longo prazo” é uma janela cada vez mais indigesta para negócios de dimensões e impactos planetários.
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