‘Se eu fechar os olhos agora’: série da Globo investiga racismo e machismo num Brasil em transição

266
Anúncio Patrocinado


No começo dos anos 1960 em uma cidadezinha pacata, dois meninos encontram a moça mais bonita da cidade morta e decidem investigar o crime por conta própria. Essa é a premissa de “Se eu fechar os olhos agora”, nova série da Globo que estreia na segunda-feira no Globoplay e, no dia 15, na TV aberta. Porém, a trama de Ricardo Linhares, inspirada no livro de Edney Silvestre, pretende ir além do enredo policial e fazer um estudo sobre a natureza humana dentro de uma sociedade opressora.

— Há várias pistas falsas, mas o importante para mim não é a investigação criminal, mas sim falar da vida daquelas pessoas. Os personagens daquela época viviam sobre uma ditadura do patriarcado branco. Eles não podiam sair de uma linha pré-estabelecida, em uma suposta harmonia. Mas a natureza humana é uma coisa muito difícil de se calar e chega uma hora que explode — afirma Linhares.

Amigo de Silvestre, o autor conta que sentiu o potencial do livro para uma adaptação para a TV no momento em que o leu. Mas também precisou tomar diversas liberdades para fazer com que a história rendesse dez episódios. Novas mortes foram acrescentadas, e a exuberante Adalgisa (Mariana Ximenes), uma ex-miss de ares modernos e esposa-troféu do empresário Geraldo (Gabriel Braga Nunes), foi criada para servir de contraponto ao conservadorismo dos moradores da fictícia São Miguel, no interior do Rio de Janeiro.

x74421975_SC-TV-Cenas-da-minisserie-Se-eu-fechar-os-olhos-agora-com-Mariana-Ximenes-Debora-Falabell.jpg.pagespeed.ic.mPlXdn136B 'Se eu fechar os olhos agora': série da Globo investiga racismo e machismo num Brasil em transição
Antônio Fagundes como Ubiratan em ‘Se eu fechar os olhos agora’ Foto: Mauricio Fidalgo / TV Globo

Além disso, Ubiratan, personagem solitário de Antônio Fagundes que ajuda os meninos Paulo (João Gabriel D’Aleluia) e Eduardo (Xande Valois) a procurar quem matou a jovem Anita (Thainá Duarte) ganhou um passado que lhe deu uma outra motivação para querer investigar o crime.

Anúncio PatrocinadoGestor de Tráfego - Do Mil ao Milhão: Torne-se um Especialista em Tráfego Pago

— Não vou me aprofundar muito para não dar spoiler, mas, por causa desse passado, o Ubiratan tem uma compaixão que falta um pouquinho aos outros adultos da trama. Ele tem uma vivência mais profunda, mais humana, mesmo que tenha sofrido alguns reveses na vida —  diz Fagundes, que também foi narrador do audiobook de “Se eu fechar os olhos agora”.

Para o ator, a vivência idílica dos meninos, em uma cidade pequena no meio do século XX, dá força à temática da perda de inocência que permeia toda a série — algo reforçado pela direção artística detalhada e poética de Carlos Manga Jr.

— Eles têm uma relação mais direta com a infância, uma coisa que a gente perdeu na cidade grande. Hoje uma criança perde a inocência na frente de um tablet, com cinco anos de idade — observa.

x74421975_SC-TV-Cenas-da-minisserie-Se-eu-fechar-os-olhos-agora-com-Mariana-Ximenes-Debora-Falabell.jpg.pagespeed.ic.mPlXdn136B 'Se eu fechar os olhos agora': série da Globo investiga racismo e machismo num Brasil em transição
Os meninos Paulo (João Gabriel D´Aleluia) e Eduardo (Xande Valois) protagonizam ‘Se eu fechar os olhos agora’ Foto: Mauricio Fidalgo / TV Globo

Mesmo assim, o que os meninos vão descobrir com o passar dos episódios não é distante de temas que cercam a atualidade. O machismo e o racismo se fazem presentes em diversos momentos da história, que é narrada pela versão adulta de Paulo (em uma participação especial de Milton Gonçalves). O retrato mais forte disso é Anita, que acaba sendo a primeira vítima do assassino. Cobiçada pelos homens da cidade, a jovem negra usa os cabelos louros e alisados.

— O cabelo dela é o reflexo de uma pressão social. Ela não se enquadra como uma mulher negra, por ocupar  um cargo social relevante, como a mulher do dentista da cidade pequena. É como um disfarce, uma máscara — comenta Thainá Duarte.

A necessidade desses disfarces passa por todas as mulheres da trama, incluindo também a primeira-dama  Isabel (Débora Falabella), mulher do prefeito Adriano (Murilo Benício). Para Linhares, o medo das mulheres era justificado, pois vivia-se numa época em que o feminicídio era praticamente legalizado.

— Naquela época, existia muito crime de honra. Se o marido descobrisse que ela era adúltera, podia matar e era absolvido.

Por isso, havia esse medo tão grande de desobedecer as regras impostas: elas realmente corriam risco de morte —  lembra o autor, que embora reconheça que as questões levantadas pela série continuem atuais, diz que não quis espelhar a sociedade de hoje em “Se eu fechar os olhos agora”. Para ele, 1961, o ano em que a série se passa, mostra uma sociedade em transição para uma era de costumes menos rígidos.

—  Não quis fazer uma ponte entre o passado e presente. Infelizmente, esses temas até hoje são atuais. São problemas que a gente continua vivenciando, mas não procurei trazer os conflitos modernos. 



Fonte do Artigo

Anúncio