RIO — Desde 2005, o Brasil já teve quatro presidentes, já sediou uma Olimpíada e uma Copa do Mundo, viu sua economia variar de surtos eufóricos a previsões catastróficas, com a cotação do dólar variando de R$ 2,6 aos atuais R$ 3,85 (incluindo a alta histórica de R$ 4,17, em janeiro de 2016). Naquele ano, foi realizada a primeira edição da SP-Arte, que serviria de modelo para outras feiras e eventos no país e ajudaria a inserir o Brasil no mercado internacional, ao aproximar artistas, galeristas, colecionadores e instituições.
Dos 40 expositores da estreia, a feira chega à 15ª edição, de amanhã (para convidados) até domingo, com 120 galerias de arte, incluindo 14 marchands internacionais, com o status de maior evento do setor na América do Sul. Ocupando todo o Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, desde seu ano inicial, a feira apostou no desenvolvimento do mercado local, no mesmo espaço onde a arte brasileira passou a integrar de fato o circuito internacional, com a primeira edição da Bienal de São Paulo, em 1951.
— Foi uma oportunidade de içar as velas com o vento a favor. Na época, o setor reunia todas as condições ideais para a criação da feira: uma excelente produção local, um mercado altamente profissionalizado, um público jovem e em ascensão econômica — recorda Fernanda Feitosa, idealizadora e diretora da SP-Arte. — Desde os anos 1980, já contávamos com galerias que participavam de feiras internacionais, como a Art Basel (
Suíça
) e a Arco (
Espanha
), mas a partir dos anos 2000 foi possível criar no Brasil as condições para dialogar com este mercado global.
Além das mudanças locais, a SP-Arte precisou acompanhar as variações do próprio circuito artístico, que também experimentou uma expansão para outros países emergentes antes de os efeitos da crise econômica de 2008 fossem sentidos no setor.
— Quando começamos, as feiras internacionais mal chegavam a 50, hoje são mais de 200 no mundo todo. O mercado se tornou mais competitivo, inclusive regionalmente. Países como Chile e Peru, que não tinham feiras, hoje dividem o calendário com o Brasil, ainda que a gente mantenha uma posição de relevância na região — observa Fernanda. — No momento, os olhos do mercado parecem voltados para a Ásia, com o crescimento de feiras como a Art Dubai e a Art Basel Hong Kong. O
boom
que experimentamos na América Latina está se deslocando para lá.
Em mais uma tentativa de ampliar o mercado brasileiro, com o setor Solo (com estandes focados na obra de um único artista) será voltado justamente para a produção latino-americana, com curadoria da chilena Alexia Tala.
— Como o circuito é estruturado no Hemisfério Norte, nos Estados Unidos e Europa, nos acostumamos a olhar sempre para cima. A proposta do Solo este ano é olharmos para o lado. Além das barreiras da língua e da dimensão continental do Brasil, muitas vezes os principais artistas dos países vizinhos já são representados por galerias locais, o que desestimula a vinda das latinas para cá. A ideia é mostrar que há espaço no mercado brasileiro para artistas que estão surgindo na região, não só para os consagrados — conclui Fernanda.