ARGEL — Cerca de 1 milhão de pessoas saíram às ruas da capital da Argélia nesta sexta-feira para pedir a renúncia do presidente Abdelaziz Bouteflika e foram recebidos com repressão das forças de segurança. Esta é a maior das manifestações contra o chefe de Estado, no poder há 20 anos, que começaram há seis semanas.
Em pelo menos um ponto, policiais lançaram gás lacrimogêneo e balas de borracha contra manifestantes, além de tê-los perseguido e agredido fisicamente. Grupos de jovens lançaram pedras contra os agentes. Estavam presentes pessoas de diversos estratos sociais, incluindo professores, moradores de rua, jornalistas, médicos e estudantes.
O grande comparecimento às marchas nesta sexta-feira vem depois que as Forças Armadas pediram que Bouteflika abandone o poder a fim de acabar com a crescente crise política no país africano. A televisão estatal exibiu imagens de protestos em várias outras cidades do país.
Majoritariamente pacíficas, as manifestações começaram quando Bouteflika anunciou sua intenção de concorrer a um novo mandato nas próximas eleições. Ele já recuou desta tentativa, mas não foi o bastante para extirpar o clima de insatisfação popular. Os manifestantes, sobretudo a juventude frustrada com as difíceis condições econômicas, continuaram nas ruas querendo assistir à queda do presidente e da elite política que o cerca.
— A pressão das ruas vai continuar até que o sistema caia — disse o estudante Mohamed Djemai, de 25 anos, num protesto vigiado por centenas de policiais em solo e por helicópteros. — Toda a gangue deve ir embora. Fim de jogo.
Aliados-chave do presidente já o desertaram nas últimas semanas. Bouteflika praticamente desapareceu das vistas públicas em 2013 por problemas de saúde.
Caso os manifestantes sejam bem-sucedidos, o país que é o maior produtor de gás e petróleo da África passará pela primeira grande mudança política desde a guerra civil dos anos 1990, quando morreram estimadas 200 mil pessoas. Em 1999, Bouteflika chegou ao poder com apoio dos militares e, desde então, sua imagem foi associada à relativa estabilidade no pós-conflito.
O país foi afetado pela queda dos preços do petróleo, a partir de 2014, apesar de manter-se como terceiro maior fornecedor de gás para a Europa. Hoje 54% dos 42 milhões de habitantes têm menos de 30 anos, dos quais mais de 25% estão desempregados.