4 desafios e 1 oportunidade para a Kroton após aquisição da Somos

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Os tempos de vacas gordas ficaram para trás na Kroton, o maior grupo de educação privada do mundo. A companhia anunciou nesta quarta-feira queda de 4,3% na receita líquida e de 34,2% no lucro líquido ajustado no primeiro trimestre. É a concretização de um momento difícil que vem da combinação de crise econômica com cortes sucessivos no Fies, o programa de financiamento estudantil do governo federal.

A tendência é de novas baixas. O grupo espera que sua receita líquida caia 0,9% no ano, apesar da alta esperada de 14% no lucro líquido ajustado. As receitas ainda devem ser afetadas pela queda no número de alunos, em decorrência do Fies, e pelo balanço da Somos. Como a companhia foi adquirida em outubro do ano passado, sua previsão de receitas para 2019 já estava definida. 

Como consequência pelos números negativos, as ações da Kroton caíram 5,22% no dia, liderando as quedas na bolsa. Com o resultado ruim da Kroton, até as concorrentes caíram na bolsa, seguindo a líder do setor. A Ser despencou 11,50%, enquanto a Estácio fechou o dia com queda de 2,74%. As ações da Kroton, que chegaram ao pico em outubro de 2017, caíram quase 50% desde então.

Além da Kroton, o setor de ensino superior está agitado, desde que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, realizou cortes orçamentários na área, principalmente nas universidades federais. Hoje 75% das universidades e institutos federais paralisaram as atividades em manifestação contrária aos cortes. Com o encolhimento das universidades públicas, as privadas tendem a ganhar espaço, o que pode impulsionar a companhia no futuro.

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Abaixo, estão os principais desafios da companhia de educação e como a empresa espera combatê-los.

Queda no número de alunos

No ensino superior, principal negócio da companhia, a base de alunos encolheu 4,4%, o que levou a receita líquida do segmento a cair 1,8%. O principal impacto vem da crise do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Na medida em que os alunos Fies se formam, e sem a entrada de novos contratos, o número de alunos do ensino superior cai.

Os alunos Fies caíram de 259 mil em 2014 para 91 mil em 2018. Em 2019, a estimativa é que eles representem apenas 14% da base total de alunos e, até 2022, apenas 1%.

O desafio já era esperado por analistas. “Desde 2014, quando o governo mudou as regras do Fies, sabíamos que 2018 e 2019 seriam anos desafiadores. E esse certamente é o caso”, afirmou o BTG Pactual em relatório.

Para os trimestres seguintes, a empresa espera uma pressão menor do Fies, já que último o grande volume de matrículas foi em 2014 e a maior parte desses alunos já estão formados.

Inadimplência

A queda do número de alunos do Fies teve outra consequência para a Kroton. O perfil de alunos e, consequentemente, de pagamentos, mudou, já que o financiamento das mensalidades dos alunos Fies é pago pelo governo. Com aumento do número de alunos pagantes, a empresa precisou aumentar sua provisão para créditos de liquidação duvidosa, ou PCLD. O valor subiu para 207 milhões de reais, ou 15,9% da receita líquida do ensino superior, aumento de 3,8 pontos percentuais.

Já na educação básica, o cenário é o inverso. A Somos é uma empresa focada em educação básica, com escolas próprias, materiais didáticos e sistemas educacionais. Com a aquisição, a empresa passa a ter mais contratos com empresas, diminuindo a necessidade de provisões para perdas por inadimplência.

Concorrência

Ainda que o cenário econômico continue difícil para todos os competidores, algumas empresas, como a Estácio e Ser, estão conseguindo compensar a fraqueza do segmento presencial com aumento no ensino à distância, afirma o banco Bradesco.

“A Kroton está tendo dificuldades, por ser de longe a maior empresa no segmento, e permissões para competidores abrirem novos polos de ensino à distância têm aumentado fortemente desde 2015”, escreveu o banco em relatório.

Enquanto a Kroton chegou ao seu tamanho limite no ensino superior – o Cade barrou a aquisição da Estácio, em junho de 2017 – as concorrentes vão ao mercado. A Ser anunciou há um mês a compra da amazonense UniNorte.  Enquanto, neste começo de ano, as matrículas no ensino presencial da Ser cresceram a um ritmo de 6%, no EAD, quem tem mensalidades mais baratas, avançaram 65%.

Custos da aquisição

A compra da Somos pode compensar a queda nas receitas da Kroton. No resultado pró-forma, já considerando os números da Somos, a receita teve queda de 4,3%. A previsão para o ano de 2019, excluindo a compra, é de que as receitas da Kroton teriam queda de 2,4%, segundo guidance divulgado pela empresa.

No entanto, a compra também teve impacto negativo no balanço da companhia, tanto por aumentar custos quanto por conta das despesas financeiras. A margem Ebitda caiu 2,7 pontos, para 40,9%. “O crescimento no Ebitda refletiu a incorporação da Somos no resultado, mas isso também acabou pressionou negativamente a rentabilidade geral da companhia, uma vez que possui uma estrutura de custo maior”, escreveu a corretora Coin em relatório.

Além disso, o endividamento da companhia aumentou após a aquisição. Os juros da dívida foram de 267,4 milhões de reais no ano.

Expansão

Apesar dos desafios, há uma oportunidade pela frente. A Kroton já era a líder incontestável de mercado no ensino superior, o que limita seu crescimento. Com a aquisição da Somos, a empresa tem a chance de aumentar sua presença em outro mercado, bem mais pulverizado: a educação básica.

Além de escolas próprias, a Somos também atua com unidades parceiras, material didático, plataformas tecnológicas de ensino e soluções contra turno, como tarefas para o aluno fora da sala de aula.

A empresa divulgou aumento de 11% na quantidade de escolas que usam seus sistemas de ensino e espera aumentar sua participação ainda mais. Ao oferecer tanto sistemas digitais de ensino quanto livros didáticos, a companhia acredita que pode oferecer mais valor aos clientes.

A equipe de vendas voltada a esse segmento cresceu quase 25%.”Temos um potencial gigantesco para aumentar nossa presença em escolas com as quais já nos relacionamos”, afirmou o presidente da empresa, Rodrigo Galindo.

Para o ensino superior, o cenário deve continuar desafiador sem o Fies. As grandes redes de ensino do país vivem um dilema sem solução à vista: ou mantêm uma agressiva estratégia de captação de alunos, colocando em risco suas margens, ou priorizam os resultados, e abrem mão de crescimento. O futuro será de margens menores, e maior competição pelas matrículas.



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