O registro foi revelado nesta semana, mas a tese veio de 1783
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14 abr 2019, 05h55
São Paulo – O primeiro registro de imagem de um buraco negro não aconteceu da noite para o dia. Ele levou mais de duzentos anos para acontecer, desde a tese preliminar até a prática. O fenômeno foi observado a 53 milhões de anos-luz de distância da Terra, no centro de uma galáxia chamada Messier 87 (M87). A imagem mostra a silhueta do horizonte de eventos de 20 bilhões de quilômetros do buraco negro, ou seja, uma força gravitacional circular muito forte, da qual nem mesmo a luz consegue escapar.
O astrônomo inglês John Michell formulou a ideia de “estrelas negras” em 1783. Para ele, esses astros teriam gravidade tão forte que seria inescapável para qualquer objeto dentro do seu campo de horizonte de eventos – nome usado para descrever a área afetada pela sua gravidade.
Foi com a Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein, publicada em 1915, que a humanidade passou a entender melhor os efeitos provocados pela força gravitacional.
Ao estudar a evolução das estrelas nas décadas de 1920 2 1930, pesquisadores concluíram que as estrelas poderiam entrar em colapso gravitacional, mas é preciso que elas tenham massa o suficiente para se tornarem as chamadas “estrelas congeladas”. Elas têm esse apelido porque o fenômeno faz com que o seu horizonte de eventos pareça imóvel para quem o observa de longe – apesar de ser inescapável para quem estiver perto.
O termo buraco negro começou a ser usado na década de 1960, quando o assunto voltou a ser estudado. Vale notar que eles são objetos, astros, não literalmente buracos no espaço-tempo.
O pesquisador Wallace Sargent e sua equipe, em 1978, calculou que existia, na M87, uma massa densa com cinco bilhões de vezes o tamanho do Sol do nosso Sistema Solar. Dezessete anos mais tarde, em 1995, Makoto Miyoshi e seu time de pesquisadores confirmaram a existência de buracos negros, ao usar uma técnica de interferometria, que usa o envio de ondas para detectação de astros.
A imagem registrada do buraco negro M87, divulgada recentemente, foi capturada por um telescópio chamado Event Horizon Telescope (EHT), que funciona com uma rede de oito telescópios em diferentes países. O buraco negro pode ser registrado porque os pesquisadores já analisavam as ondas de rádio que ele emitia – dados que foram processados por supercomputadores e geraram a imagem de aspecto estático do buraco negro, agora, visto pela humanidade pela primeira vez.