As medidas de isolamento social para evitar o contágio pelo novo coronavírus afugentaram os clientes do varejo brasileiro. Mesmo com a ampliação da jornada diária de shopping centers e do comércio não essencial no país, as perdas continuam se acumulando. Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, a CNC, o revés da receita do setor entre 15 de março e 25 de julho ocasionou num prejuízo acumulado de 279 bilhões de reais. Nem as datas comemorativas têm salvo. Depois de um Dia das Mães desolador, com decréscimo de 32% nas vendas, projeta-se uma queda de 15% a 20% para o Dia dos Pais, a ser comemorado no próximo domingo, dia 9 de agosto. “O varejo deve movimentar menos de 6 bilhões de reais no Dia dos Pais, o que fará com que o país retroceda a um nível similar ao de 2010”, diz Paulo Bentes, economista da CNC.
O processo de retomada do consumo tem se dado de forma lenta graças às incertezas do mercado de trabalho. Números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, mostram que a taxa de desemprego do país subiu para 13,3%, com o fechamento de 8,9 milhões de postos em decorrência da pandemia. Nada que esteja tão ruim, no entanto, que não possa piorar. O término do pagamento do Auxílio Emergencial é visto com muito receio pelo comércio varejista. Foram esses desembolsos, avaliados entre 600 e 1.200 reais, que seguraram perdas ainda mais acachapantes no setor. O fim desse benefício pode acelerar o processo de deterioração do consumo no país. “Os programas do governo para proteger os empregos e auxiliar a renda foram bem-sucedidos em reduzir as perdas do varejo, que seriam inevitáveis diante da pandemia”, afirma Bentes. “Mas a pergunta que fica é até onde irá o Auxílio Emergencial? Será que o Bolsonaro vai prorrogar esse pagamento?”, indaga.
A CNC revisou de 10,1% para 9,2% a previsão de retração no volume das vendas no varejo ampliado para este ano. No varejo restrito, que exclui os ramos automotivo e de materiais de construção, a projeção de queda também diminuiu de 8,7% para 6,3%. Tais estimativas foram calculadas com base nos dados positivos da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE. Um efeito curioso é que a pandemia tornou os shopping centers, canal de vendas do varejo físico que mais cresceu nos últimos anos, um local inóspito para clientes mais receosos. “Essa crise é tão doida que inverteu uma tendência de o shopping center crescer mais que o varejo de rua. Estamos observando justamente o oposto”, diz Bentes.
Líder de vendas no Dia dos Pais, o segmento de vestuário deve ser preterido em 2020. Bentes estima que essa categoria registre uma perda superior a 30% na data comemorativa deste ano. Por conta da possibilidade de contágio da enfermidade por meio das roupas, estabelecimentos tiveram de adotar medidas de higiene regidas para que os consumidores possam experimentar as peças. “O vestuário ainda tem muitas restrições em sua operação. Existe uma aversão do consumidor a frequentar ambientes confinados por causa da pandemia. Isso faz com que este segmento sofra mais do que outros”, afirma. “Nenhum segmento do varejo deve crescer significativamente nesta data. Talvez o varejo essencial consiga ficar próximo à estabilidade”, projeta Bentes.
O comércio eletrônico deve se manter como principal meio de compra de presentes para o Dia dos Pais. Dados da Receita Federal mostram que, em junho, o volume de vendas do canal virtual cresceu 70% em junho na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Em maio, a alta já havia sido significativa: 39%, na mesma base comparativa. O número de notas fiscais emitidas em junho demonstrou uma alta de 140% em relação ao ano anterior. “De fato, há uma aceleração muito forte do e-commerce com a pandemia. A logística, no entanto, ainda é uma barreira para a expansão do e-commerce no Brasil”, alerta. Pelo visto, em vez de roupas e presentes de valor abastados, os pais devem ganhar a companhia dos filhos para o almoço de domingo, o que não tem preço.
Fonte do Artigo
Tags: