Um núcleo inevitável – Época

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Em café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, o general Augusto Heleno demonstrou irritação com o fato de a imprensa se referir aos generais do Executivo como núcleo militar. Para Heleno, cada um tem atribuições individuais — ou seja, não trabalham em conjunto, separados de outros setores do governo.

O general foi perspicaz. Sabe que a generalização pode trazer mais dano do que benefícios. Em grupo, o erro de apenas um general pode ser interpretado como o erro de todos. A indisposição de um general com algum outro ente do governo pode ser interpretada como um azedume amplo da categoria. E, em última instância, os atos de um indivíduo podem ser encarados como atitude não só de um grupo de militares, como também do próprio Exército como instituição.

De fato, cada general que caminha com Jair Bolsonaro tem um perfil peculiar — o que, muitas vezes, é incompatível com um agrupamento estratégico.

Augusto Heleno é visto como o mais estrategista. Antes dos 30 anos, já servia no Palácio do Planalto. Comandou tropas duas vezes no Haiti e por dois anos foi comandante militar na Amazônia. Há quem diga que, em certo período, foi realocado em setores de menor prestígio por superiores que o viam em desmedida ascensão. Em sua primeira estada no Haiti, quando um tenente sob seu comando se feriu em batalha e teve de ser deslocado a um hospital da República Dominicana sob o risco de perder o braço, o general tomou um helicóptero para acompanhá-lo para garantir que ele receberia o tratamento devido no local.

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Santos Cruz, célebre entre os praças pela coragem em combate, ao servir no Congo, foi o primeiro militar a receber autorização da ONU para atirar contra as milícias. Sisudo, não é dado a muita conversa com políticos ou outros membros do Executivo. Tem se dedicado mais ao trabalho de fiscalizar os pontos frouxos do governo. Escalou um delegado da PF para passar pente fino nas nomeações de Onyx Lorenzoni e um ex-policial do Bope para esclarecer o xadrez das milícias no Rio de Janeiro — inclusive a relação de milicianos com ex-funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj.

O vice presidente Hamilton Mourão tem perfil político. Ao deixar o comando militar do Sul, foi ovacionado por lideranças civis justamente por sua pré-disposição em lidar os mais diversos tipos de agremiações — inclusive os maçons, anfitriões do notório evento no qual Mourão defendeu a intervenção militar. Quem acompanha sua trajetória nos últimos anos faz duas afirmações sobre o vice-presidente: há bastante tempo ele decidiu não se conformar em ser mais um general de pijamas e, desde então, não só embrenhou-se na política, como também tornou-se um leitor compulsivo de livros.

Generais na reserva têm total autonomia para dizerem o que quiserem — e quando quiserem. A independência é dos principais bônus franqueados pela aposentadoria. Não abrem mão desse benefício, me disse um general que integra essa mesma condição, exceto em uma hipótese: a de caos. Nesse caso, prevalece a união.



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