As histórias e confusões que levaram à adoção do 1° de janeiro como primeiro dia do ano em nosso calendário
“Quem foi que disse que o ano está acabando???” Você geralmente vai ouvir essa pergunta indignada de alguém que não viu passar o tempo ou que não conseguiu realizar tudo que havia programado para aquele ano. Mas se formos analisar bem, veremos que essa pergunta faz todo o sentido.
Um calendário, nada mais é do que uma convenção humana utilizada para contagem e agrupamento de dias. Ao longo da história, diferentes povos e culturas estabeleceram seus calendários com suas próprias convenções. Alguns deles, como o calendário judaico, o chinês e o islâmico, ainda são usados até hoje, e para cada convenção, o primeiro dia do ano ocorre em uma data diferente. Ou nem ocorre.
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Outros calendários
No calendário judaico, o próximo ano novo será celebrado apenas no dia 26 de setembro de 2022. A contagem dos anos para os judeus inicia no ano da criação do primeiro homem segundo a Bíblia. Por isso, o próximo ano novo marcará o início do ano de 5783. O calendário judaico se baseia nos ciclos da Lua e do Sol. Cada mês tem a duração de um ciclo lunar completo (29 ou 30 dias) e cada ano tem a duração de 12 meses, com um mês adicional sendo inserido a cada 2 ou 3 anos para sincronizar o ano com o ciclo solar. Por isso, o ano novo judaico ocorre a cada ano em uma data diferente em relação ao calendário gregoriano.
Algo semelhante ocorre no calendário chinês, onde o próximo ano novo será comemorado no dia 1° de fevereiro de 2022. Para eles, será o início do ano de 4720, o ano do tigre no horóscopo chinês. No calendário chinês, o ano 1 foi o ano do nascimento de Huang Di, um dos mais lendários e reverenciados imperadores chineses.
Já no calendário islâmico, nem se comemora o ano novo. O primeiro dia do próximo ano ocorrerá em 30 de julho, e marcará o início do ano 1444. O ano base para a contagem dos anos no calendário islâmico é o ano da Hégira, a migração de Maomé para Medina.
Na Astronomia, utiliza-se comumente a data juliana, que é uma contagem sequencial dos dias desde o meio-dia de 1º de janeiro de 4713 a.C. E apesar do ano representar um ciclo astronômico, que é o período em que a Terra leva para completar uma volta em torno do Sol, o conceito de ano simplesmente não existe na data juliana.
Para representar esse ciclo na Astronomia, podemos utilizar o conceito de longitude solar, que é a medida do ângulo da posição da Terra em sua órbita. A referência para o ângulo zero e, consequentemente, para o início de cada ciclo, é a data e hora exata do equinócio de março, que marca o início da primavera no hemisfério norte. Mas não se preocupe que você não vai ver astrônomos vestidos de branco, pulando ondinhas na praia, no dia 20 de março.
O nosso calendário
Agora, se você comemora o ano novo no dia 1° de janeiro, é porque você segue o Calendário Gregoriano, instituído pelo Papa Gregório VIII em 1582. Ele se baseou no Calendário Juliano, implantado pelo imperador romano Júlio César no ano 46 a.C., e que estabeleceu o dia 1° de janeiro como o primeiro dia do ano. Só que, mesmo em Roma, isso nem sempre foi assim.
Para os antigos romanos, os invernos eram tão chatos que seus dias nem sequer eram contados. Seu calendário era baseado no ciclo lunar e tinha 10 meses, com o ano começando no mês de março junto com a primavera. Em dezembro, com a chegada do inverno, os romanos se escondiam debaixo de suas cobertas e não saiam nem para ver a Lua. Só voltavam a contar os dias quando esquentasse um pouquinho.
Somente em 713 a.C., o Rei Numa Pompílio resolveu completar o calendário introduzindo os meses de Januarius e Februarius no final do ano. O calendário romano passou a se basear nos ciclos lunares e solares. O mês se iniciava com a Lua nova e de tempos em tempos um mês extra era adicionado para completar o ano solar. Parece confuso, não é? E era.
Pra complicar um pouco mais, o ano em Roma era iniciado no primeiro dia do mandato consular. Só que essa data às vezes mudava por conveniência do Rei. Em 153 a.C., a posse dos cônsules foi alterada de 15 de março para 1º de janeiro, a pedido do General Quinto Fulvio Nobilior, que tinha marcado uma guerra com os celtiberos, e não poderia comparecer às festividades de 15 de março. Mas a ideia de celebrar o ano novo no meio do inverno não agradou muito a população em geral, que seguiu festejando o início do ano em março.
Em 46 a.C., o Imperador Júlio César instituiu o calendário juliano e acabou com toda aquela bagunça. O calendário passava a ser baseado nos ciclos solares. O ano começava em 1° de janeiro e tinha 12 meses de 30 ou 31 dias, com a exceção de fevereiro que tinha 28 dias, mas que a cada 4 anos, ganhava um dia adicional para sincronizar o calendário com o ciclo solar de 365,25 dias. O calendário de Júlio César, acabou com os meses extras e sincronizou definitivamente o calendário em relação ao ano solar. Só que não.
Ocorre que a duração do ano não é de 365,25 dias, e sim 365,2425 dias. Essa pequena diferença acumulada ao longo dos séculos, levou a uma diferença de 10 dias até 1582, quando o Papa Gregório VIII implantou o calendário gregoriano. Para corrigir essa diferença, Gregório VIII determinou que fossem suprimidos 10 dias (de 5 à 14) do mês de outubro daquele ano e alterou o cálculo do ano bissexto, que não deveriam mais ocorrer nos anos múltiplos de 100 e não múltiplos de 400.
Gregório também confirmou o 1° de janeiro como primeiro dia do ano. Apesar de grande parte da população até então seguir festejando o ano novo em 15 de março, só com a promulgação do calendário gregoriano essa celebração passou, de fato, a ocorrer em primeiro de janeiro. Afinal, como o representante de Deus aqui na Terra, o que o Papa falou, tá falado!
Portanto, se você está comemorando a chegada do final de mais um ano, agradeça aos povos celtiberos e ao Papa Gregório VIII. Porque se não fossem eles, ainda teríamos mais de dois meses de 2021 pela frente!
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